terça-feira, 7 de novembro de 2023

NAYRA E O CHAVELHO DE ESPINHOS NA FAIXA DE GAZA




"Esses pequeninos, cheios de sonhos, sonhos que embalam o mundo, distantes das       ambições e da crueldade dos homens e mulheres que ceifam suas vidas". 

Essa é a história da pequena Nayra na Faixa de Gaza. Tudo aconteceu como num filme surreal, cheio de imagens insanas que se perderam no meio da fumaça. Não sei dizer se o que aconteceu foi justo, se a vida é justa, se tudo é assim mesmo ou se somos todos filhos da fatalidade, da desgraça e da insanidade humana.

A história começou com uma menina que acreditava que os seus sonhos poderiam se realizar. Ela acreditava no amor, na bondade e que as pessoas nasciam somente para fazer o bem. No seu mundo, ela idealizava, todos os dias, uma vida sem amargura, como nas velhas estórias de contos de fada.

Nayra tinha uma boneca de pano com os cabelos trançados que a sua mãe lhe dera quando ela nasceu. A boneca vestia roupas coloridas, como todas as meninas orientais e atendia pelo nome de Mirela. Ela era sua melhor amiga e dormia sempre ao seu lado.

Os longos cabelos de Nayra eram o orgulho dos seus pais. Logo que ela saia do banho, sua mãe se sentava na cama e a chamava para penteá-la. As duas ficavam conversando longamente enquanto o pente descia e subia, fazendo carinho. Nayra adorava aquele momento de cumplicidade e, no final, sempre dizia:

---- Mamãe, eu te amo!

---- Eu também te amo muito, minha filha!

O mundo daquela garotinha era feito de ruelas, becos estreitos, moradias entrelaçadas, casas sem rebocos. Os caminhos do seu mundo mais pareciam labirintos tortuosos onde as casas se misturavam com os prédios espremidos entre si. Os esgotos pareciam leite e escorriam a céu aberto em meio a entulhos de lixo e animais. Mas, Nayra, como todos na Faixa de Gaza, já estava acostumada a conviver e sobreviver com essa realidade.

Nayra tinha sonhos iguais aos de todas as outras crianças do mundo. A única diferença é que ela sonhava em demasia. No mundo de fantasias de Nayra, contudo, existiam monstros. Sempre que eles surgiam no céu, sem nenhum aviso, assobiando, soltando fumaça e explodindo os prédios e as casas, as pessoas adultas gritavam: “Israel está atacando”! Aos olhos de Nayra aqueles foguetes caindo significavam a morte e o céu já não era tão belo como deveria ser. Ninguém mais ousava ficar nas ruas quando eles chegavam e aas pessoas que ainda não permaneciam nas suas casas, se encolhiam de medo e se esgueiravam pelos becos até conseguirem se abrigar. Nayra não conseguia compreender as razões que levavam aqueles monstros a estar sempre destruindo a paz que reinava no seu paraíso. Ela, então, se lembrava das estórias de dragões e monstros malvados que lia na escola e pensava que, algum dia, um herói, com uma espada reluzente, surgiria para salvar todos do seu mundo, e destruiria, para sempre, aqueles seres alados e abomináveis.

O coraçãozinho de Nayra sempre se acelerava quando o rugido dos dragões surgia no céu e ecoava pelas paredes daqueles becos estreitos. Ela corria, sem olhar para trás. Ofegante, abria a porta da sua casa e entrava esbaforida na sala. Subia para o seu quarto e da minúscula vidraça olhava o céu riscado de fumava, cuspindo fogo e soltando pedaços de chumbo que ficavam encravados nas lajotas ou atravessavam as paredes. Ela mesma tinha vários pedaços guardados numa caixinha.

Do alto do seu quarto, ela via meninos e adultos com as suas armas atirando nos dragões. Chegou até a pensar que eles eram pequenos heróis defendendo o seu mundo contra os desprezíveis seres alados. Ela conhecia bem aqueles meninos. Todos eles gostavam de soltar pipas, brincavam de carrinhos e adoravam guloseimas. Uma coisa, porém, os diferenciavam: eles eram seus pequenos heróis. Mas ela não gostava de vê-los com alguns adultos que lhe causavam medo. Eram homens grandes, carregando grandes pedaços de ferro que cuspiam fogo. Ela sofria muito, também, quando descobria que um dos meninos havia sido morto pelos dragões e se perguntava do porquê tantos meninos morrem na luta contra os dragões, se eram os adultos que comandavam os seres alados? Depois de tanto se perguntar ela concluiu que as crianças têm mais coragem para enfrentar os monstros.

Nayra sempre sonhou com uma linda casa, com um lindo jardim em frente da varanda onde as borboletas e os pássaros pudessem descansar. Assim, na frente da sua casa ela pediu ao seu pai que fizesse um cercado onde ela pudesse plantar flores. Ele relutou, pois não acreditava que naquele lugar insólito e castigado pudesse vingar um jardim. Mas, diante de tanta insistência e do olhar suplicante da filha, desmanchou um caixote, capinou em frente da sua casa e cercou um pequeno pedaço de terra para que a filha pudesse ali construir um jardim. Agora, Nayra estava feliz. Já possuía um canteiro para transforma-lo em jardim e, quando as flores desabrochassem, os pássaros e as borboletas chegariam para enfeitar e completar sua obra de arte.

No dia seguinte, logo que ela chegou da escola, almoçou apressada e saiu pelo seu mundo procurando mudas de flores para plantar. Mas ninguém tinha muda de flores para jardim. Ela só encontrava flores de vasos que não cresciam em campo aberto. Ao longo de vários dias ela tentou, sem sucesso, plantar as flores de vasos no seu cantinho de terra. Todas morriam e se esturricavam sob o calor impiedoso, mesmo que ela as regasse várias vezes por dia.

Exausta, Nayra pediu ao pai para ajudá-la a florir seu jardim. Ele apenas deu de ombros e disse que a terra era muito ruim, precisava ser adubada e ele não tinha dinheiro para comprar adubo. Ela abaixou a cabeça e foi para o seu quarto, colou a carinha na pequena vidraça e ficou olhando as pessoas passarem apressadas, até que começou a chover. Sim, choveu. Estranhamente choveu. A chuva durou pouco mais de meia hora encharcou seu pequeno jardim. Nos dias que se seguiram, ao sair de casa para a escola, ela olhava o cercadinho e sonhava com ele todo colorido.

Os dias se passaram e ela percebeu que o jardim estava ficando verde. O mato crescia em toda a sua extensão. Ela correu para casa, pegou uma tesoura e cortou as ervas daninhas que nasceram das sementes trazidas pelo vento. Seus olhinhos brilhavam diante da possibilidade de ver o seu jardim enfim florido. Observou que flores diminutas desabrochavam naquele estranho meio. Pequeninas flores amarelas. Sentiu-se feliz. Mas ela queria ainda mais. Sonhava com uma grande flor reinando naquele pequeno mundo e saiu novamente a procurar mudas pelas ruelas, em todas as casas que conhecia. Novamente sentiu-se desamparada, pois não encontrava a muda possível da sua grande flor.

Numa manhã ela acordou mais cedo do que de costume. Estava ansiosa e pensando no seu jardim. Olhou-o pela janela e lá estava ele germinando a vida. Tomou, apressada, sua refeição matinal, desceu a escada sob os protestos da sua mãe que queria que ela se arrumasse logo para ir para a escola, e foi estar com o seu jardim. Ajoelhou-se, acariciou as pequeninas plantas selvagens e observou que havia um chavelho enterrado bem meio dele. O galho era torto e tinha espinhos pontiagudos em toda a sua extensão. Ela tocou-o com os dedinhos. Um dos espinhos feriu-a e uma gota do seu sangue agarrou-se naquele chavelho espinhoso. Ela ficou com medo olhando o pequeno furo na ponta do seu dedo, imaginando que aquela poderia ser uma planta venenosa e que ela morreria em pouco tempo.  Voltou correndo para dentro de casa, mas não ousou contar nada para a sua mãe e muito menos para o seu pai, pois pressentia que algo novo iria acontecer e temia que eles arrancassem o estranho galho do seu jardim.

Os dias se passaram, e os dragões haviam desaparecido do céu. Numa manhã de domingo Nayra estava regando seu jardim e observou que brotavam folhas no chavelho espinhoso, e pequenas bolinhas verdes surgiam em toda a sua extensão. Ela saiu correndo e chamou seu pai para ver e ele sentenciou que ali estava crescendo uma roseira e que dela nasceriam lindas rosas. Foi o dia mais feliz da vida de Nayra. Seu jardim, enfim, logo estaria completo. Ela perguntou quem poderia ter plantado aquela roseira ali. Ninguém soube responder-lhe. O jardim de Nayra passou a ser notícia em toda faixa de Gaza e as pessoas que passavam em frente à sua casa gritavam desejando-lhe sucesso. Uma aura de paz e amor emanava daquele jardim e espalhava-se pelo mundo de Nayra entranhando-se no âmago das pessoas que o viam. O jardim de Nayra era assunto em todos os recantos de Gaza. Todos paravam para ver o pequeno jardim.

Vários galhos cresceram e folhas verdes brotaram do chavelho. Surgiu, então, o primeiro botão de rosa. Ele veio devagar, num invólucro verde, em meio aos outros pequenos galhos e folhas que surgiram, e foi se abrindo lentamente até se tornar uma linda e perfumada rosa branca. Um clima de euforia e paz se espalhou pelas ruas, entrou pelas casas e em todos os comércios da comunidade. A rosa de Nayra era alva, esplêndida e perfumada, diziam todos. A rosa, como Nayra, encantava pelo brilho que emanava sob a luz do sol. Assim, todos se sentiam responsáveis pela sua proteção e paravam para admirá-la e até pediam, com os celulares, para serem fotografados ao lado dela e de Nayra.

A imprensa foi até a casa de Nayra entrevistá-la para que ela contasse toda a história do seu jardim e da linda rosa branca que misteriosamente nele nasceu. Ela achou muito engraçado sua foto aparecer na primeira página do jornal, na televisão e ser elogiada na frente dos colegas da sua escola. Seu pai estava orgulhoso de ter atendido o pedido da filha e construído aquele pequeno cercado em frente à sua casa

Os meses se passaram sem chuvas, clima seco. E havia tranquilidade em toda Faixa de Gaza. Pelo menos era o que aparentava. O jardim de Nayra continuava fulgurante, espalhando paz e amor.

Mas em sete de outubro, um sábado, Nayra acordou assustada com assobios estridentes. Correu para a janela e viu o céu entrecortado por rastros de fumaça. Mas o fogo não caia sobre Gaza. Seguia para o outro lado, onde moravam os homens maus. Colou a carinha na vidraça para ver a rua e o seu jardim. As pessoas estavam agitadas e corriam em todas as direções. Naquele dia, contudo, algo novo acontecia: o fogo continuava a seguir na direção contrária. Os gritos e a correria persistiram durante todo o dia e Nayra foi proibida de sair de casa.

Veio a noite e o céu começou a pegar fogo. As lâmpadas da rua foram quebradas e o mundo ficou escuro, iluminado apenas pelos focos das lanternas dos soldados e pelos olhos brilhantes dos dragões no céu. Só uma coisa deixava Nayra angustiada: o seu pequeno jardim e a sua linda rosa branca que não tinham como se defender, não podiam fugir.

Por um instante, na escuridão, se fez silencio. Nayra pensou que toda a batalha já estava terminada e desceu correndo para socorrer o seu jardim e a sua rosa. No meio da escuridão, ela pode vislumbrar apenas o que restou do seu jardim. O fogo do dragão havia caído bem ali onde estava o seu jardim, despedaçando tudo em volta e soterrando sua linda rosa branca. Ela se ajoelhou no meio da fumaça que saia dos destroços e remexeu os pedaços de rebocos, tijolos e madeiras, procurando, desesperada, pela sua linda rosa branca. Suas mãos se feriram de tanto cavoucar aqueles escombros e só interrompeu o ofício quando viu uma sombra imensa vindo na sua direção. Ela se levantou sobressaltada, com alguns cacos nas mãos e correu para a rua iluminadas pelos raios vindos do céu. Quando parou e olhou para trás, constatou que a luz que vira era o fogo do dragão que havia caído sobe sua casa. Então, ela chorou. Não havia mais a sua casa e nem o seu lindo jardim. No brilho do fogo que vinha do céu pode ver, em meio aos escombros seus amiguinhos sem vida e despedaçados. Eram tantos que ela não podia contar e não conseguia entender. Veio o vento carregado de fuligem e ela correio sem saber para onde ia. Apenas correu contra o vento.   Por fim, ela parou ao vislumbrar no céu um clarão, como uma espada reluzente. Acreditou que, enfim, seu herói, como nas estórias que lia na escola, havia chegado para salvar a todos do seu mundo e destruir os dragões. Deixou cair os cacos de construção que segurava e sorriu para aquela luz. Seu sorriso foi o mais largo e o mais sincero que já havia dado em toda a sua vida. Sorriu para o herói dos seus sonhos. Numa fração de segundo enxergou um flash na sua frente, como um raio caindo do céu naquela noite única. Sentiu que algo bateu com força no seu peito e experimentou uma sensação estranha tomando seu corpo frágil. Pensou que podia voar e lembrou-se da sua mãe, do seu pai e do seu pequeno jardim. Então, Nayra fechou os olhos sob o fogo e os escombros que soterraram seus sonhos.

Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: freeimages

quinta-feira, 23 de junho de 2022

ESTRADA DE TERRA DE MINAS GERAIS

 

 


São estradas de terra

estradas de pedregulhos

estradas de poeira bruta

estrada para pés descalços

 

Estradas cercadas por mourões tortos

entrelaçadas de arame farpado

por onde passa o carro-de-boi

caminho de cavaleiros e mulas.

 

Estradas eternas de Minas Gerais

nos riachos e pontes de madeira

que encontram os povoados

iluminados pelo sol e pela lua.

 

Estradas que nos levam além

para as fazendas assobradadas

sítios das histórias dos meus avós

 caminho de ouro e de escravos.

 

Estrada de terra comprida

estrada de terra envelhecida

estrada de terra endurecida

que tem a idade do tempo.

 

Ah, estradas mineiras, maneiras que só!

levem-me para a cidadezinha

lá no alto da montanha

para eu na noite de luar

olhar o caipira

e sua arenga escutar.

 

Estradas de Minas... guardem a alma do seu povo

mineiro que só

e levem minha vida

que um dia também serei pó. 


Pedro Paulo de Oliveira  


quarta-feira, 22 de junho de 2022

A JANELA

 

A JANELA



 Quando teimo, ainda sou menino

Olhando para minha mãe

Que me vê tão frágil

E meneia a cabeça

Imaginando o que será de mim no mundo.

 

terça-feira, 21 de junho de 2022

SÃO TOMÉ DAS LETRAS E O DESTINO ILUMINADO DE ASCÂNIO

 "Quando vislumbro o céu, imagino que a vida vai além do que pode alcançar os meus olhos" 








Nas minhas andanças pelo mundo, São Tomé das Letras fazia parte do meu itinerário. E foi lá que fiz amizade com um ancião, o Tonico Mulato.   Eu, normalmente, ficava na cidade por três dias mascateando e, nos meus descansos, ia para a praça central. No primeiro dia, fiquei olhando aquele homem pequeno, de pele achocolatada, baforando com o cachimbo. Ele sorriu e me cumprimentou. Algum tempo depois, ele se aproximou, sempre com o cachimbo artesanal fumegando fumo de corda queimado. Sentou-se ao meu lado disse:

--- O moço sempre está por essas bandas?

--- Sim – Respondi com um sorriso -. Sou vendedor

--- Ah... Boa coisa. Gosta da cidade?

--- Gosto, sim. Tranquila.

            Ficamos ali conversando. Ele me perguntou o que eu vendia e lhe respondi. Quis saber de onde eu era, se tinha esposa e filhos. Respondi-lhe todas as perguntas. Embora de aparência simples, Tonico possuía boa oratória e era inteirado de todos os assuntos. Depois começou a falar da cidade de São Tomé e do seu povo, das aparições de discos voadores e dos mistérios das grutas que, segundo lendas, ligam aquela região ao Peru.

            Quando a noite chegou, nos despedimos e ele me disse:

---- Amanhã, se o doutor inda estiver na cidade, vou lhe contar um causo ocorrido aqui a mais de 50 anos.

            Fui para o hotel curioso. O que e porque aquele ser queria me contar um causo? Poderia ser ele mais um lunático ou, talvez apenas mais um velho carente. No final das contas eu nunca entendi porque ele me contou aquela estória.  

 No dia seguinte, por volta das 17 horas, cheguei à praça e lá estava o Tonico cachimbando. Ao ver-me sorriu, acenou e pediu-me que se sentasse ao seu lado. Meneou a cabeça, pigarreou e me contou a estória de Ascânio do mesmo jeito que vai nas linhas seguintes: Ascânio era daqueles sujeitos prosaicos e parecia ter o destino certo, vagando pelas ruas estreitas da pequena São Tomé das Letras. Gostava de perambular pelos caminhos difíceis e cobertos com pedras daquele logradouro místico e bucólico erigido sobre as montanhas de Minas Gerais, envolto nos mistérios apregoados pelos notívagos apreciadores do haxixe entre outros delírios. Sabia de cor e salteado o nome de todos os moradores da cidade e conhecia cada pedra colocada nas vias ou nos prédios. E São Tomé, embora complacente com os apreciadores da marijuana, jamais foi palco de tragédias ou crimes bárbaros.

 Assim, Ascânio, beirando os sessenta anos, rígido em seus ossos e músculos, orgulhava-se da sua longa cabeleira, toda cacheada e grisalha. Mas, sua pele já dava sinais de cansaço e começava a ficar rendada e as pregas se acentuavam mais na sua fronte, pois a barba que descia das maçãs do rosto escondia o resto dos vincos que o tempo lhe impregnou. Seus olhos pequeninos e verdes pareciam enxergar muito longe, como os do gavião que olha a presa do alto. Nas andanças pela ruas de pedras tortuosas, olhava fixamente cada um e sorria ao ver os turistas reunidos na praça central.

A casa no alto, coberta de telhas coloniais e rodeada de árvores nativas e frutíferas, Ascânio a recebera de herança dos seus avós - porque pai não tivera, mas somente a mãe que morrera quando ele tinha apenas seis anos -, tinha vista privilegiada para o imenso vale onde as cachoeiras pareciam fiapos de tecido branco saindo das entranhas da terra. No imenso quintal que se estendia até a beirada da planície, ele cultivava verduras e flores, criava minhocas e galinhas, com as quais arranjava seu sustento. Tudo isso numa continuação da existência longa do seus avós. E foi seu avô quem lhe transmitiu toda sabedoria e hábitos.

Nos finais de tarde, sentado no beiral da cozinha, ele via o céu se abrir e as montanhas se estenderem numa vastidão quase infinita e eram nesses momentos que se lembrava do seu avô contando-lhe causos. Eram histórias e estórias sem fim de luzes cruzando os céus de São Tomé das Letras em noites de outono e aquelas luzes lhe diziam que entre as estrelas outras vidas se perpetuam, além das que os nossos olhos humanos podem ver.

No outono de 1962 Ascânio no final de um dia de trabalho, depois de voltar da cidade com a féria das suas vendas, sentou-se no beiral da cozinha e olhou o infinito e lembrou-se do seu avô sobre um cavalo, com um longo capote e sombreado por um chapéu de abas largas. Sorriu com aquela lembrança boa do ancião altivo e corpulento.   Ascânio entendeu que estava na hora de comprar um chapéu de abas largas e um capote longo. O chapéu, além da utilidade que já definira no seu espírito, serviria ainda para proteger seus olhos cansados da luz solar, e o casaco aquecê-lo-ia nos longos dias de inverno daquelas montanhas. Cogitou comprar um cavalo também. Mas, convenceu-se de que seria uma besteira. Gostava de caminhar.

No dia seguinte, Ascânio saiu pela manhã com a missão a que propusera no dia anterior. Ao chegar ao centro da cidade, observou as poucas lojas e apenas uma delas vendia roupas feitas.   O chapéu não foi difícil de encontrar. Comprou-o numa loja de produtos agrícolas onde adquiria todos os anos um par de botinas. Mas a procura pelo casaco foi infrutífera. A única loja que vendia roupas feitas na cidade não tinha casacos longos para vender. O proprietário, um árabe robusto, tentou empurrar-lhe blusas de lã, jaquetas, japonas:

---- Olha essa blusa que finura, Ascânio...

---- Ha. Essa não serve. – afirmava com desalento olhando as ofertas de agasalhos da loja – Quero um capote comprido e que desça até a canela.   

 ---- Bom, Ascânio – respondeu-lhe, desanimado, o árabe – Esse tipo de roupa você só vai encontrar em Caxambu.

Ascânio deixou a loja frustrado. Não iria até Caxambu para comprar o seu capote. Avesso a viagens, era uma figura folclórica quanto ao gosto de não sair de São Tomé por nada no mundo. São Tomé das Letras era o seu mundo infinito, com o seu imenso céu e a cadeia de montanhas estendendo-se longinquamente.

  Talvez por  influência do seu avô, com as suas estórias de luzes descendo do céu e visitando a cidade, desde muito moço Ascânio afirmava que um dia iria voar e que quando conseguisse toda a gente da cidade poderia ver. Essa seria a sua única viagem. Ao longo do tempo as pessoas fizeram galhofas dele por conta dessa esquisitice e ele dizia:

---- Vocês vão ver só quando eu voar. Vou para bem longe e vocês todos vão ficar aqui feito bobos.

            Diziam as más línguas que ele gostava da “erva maldita” e a cultivava no meio das suas flores e verduras. Essa fofoca lhe rendeu uma operação policial que vasculhou toda a sua casa e pisoteou todos os seus canteiros. Não encontraram nada. Disseram-lhe que foi o Presidente João Goulart o culpado. Ficou aborrecido por muitos dias remoendo as razões que levariam um presidente da república a mandar invadir sua propriedade em busca de maconha. Mas, Ascânio não fora moldado para guardar mágoas ou engendrar vinganças contra aqueles que o denunciaram, logo esqueceu o sucedido e continuou a cuidar da sua vida do mesmo jeito de sempre.

Três vezes por semana - às segundas, quartas e sextas -  pela manhã, colhia flores e verduras, ajeitava tudo em molhos, colocava no carrinho de madeira junto aos ovos caipira e ia para a praça vender. Por lá ficava o dia todo. Almoçava na pensão da dona Ricotta, uma senhora bonachona e corpulenta que adorava servir aos viajantes e turistas. No Final da tarde o carrinho já estava vazio. Sentia-se realizado em continuar o ofício dos seus avôs.

Cada galinha do seu quintal botava em média três ovos por dia e o segredo eram as minhocas suculentas que Ascânio lhes dava. Três vezes ao dia a gritaria das galinhas chamava atenção dos vizinhos: às seis horas da manhã, ao meio-dia e às seis horas da tarde. Como um relógio exato, elas anunciavam aos berros novos ovos quentinhos.

---- Seis da manhã. Acorda para trabalhar que as galinhas do Ascânio já estão botando. - Afirmava a vizinha do lado para o seu marido, enquanto abria a janela.

---- Já vou, mulher. Nem adianta mesmo querer ficar na cama com essa banda de música desafinada de galinhas.

            Os ladrões de galinha da cidade, mesmo sabendo que Ascânio não era um homem de violências, nunca ousaram invadir seu quintal, pois era fala geral que na sua casa moravam seres de outro mundo. Ele sabia disso e deixava a imaginação do povo fluir e, na praça, por muitos anos, contava que, em sonho, tinha sido escolhido para voar até as estrelas. Descrevia, em detalhes, que havia sido visitado, enquanto dormia, por seres brilhantes e que passeou com eles numa nave prateada. Antes de eles irem embora, ensinaram-lhe novas técnicas para o cultivo das plantas e o cuidado com as galinhas. Foi assim que passou a criar minhocas, as galinhas passaram a botar três vezes por dia e as folhas das suas couves adquiriram um tom esverdeado escuro e as folhas o tamanho de meio metro cada uma. Suas galinhas só morriam de velhice e ele as enterrava no meio das plantas para servirem de adubo. Mas, os frangos, ele não enjeitava na panela de ferro com caldo grosso e angu.  

            Ascânio não achou o capote para comprar na cidade, mas descobriu um meio de adquiri-lo sem ter que viajar. Adquiriu seis metros de linho preto, mais seis metros malha, trinta e seis botões metálicos, foi até a costureira e a convenceu a fazer a peça como ele queria: comprida, larga, reforçada, com seis botões em cada manga e doze de cada lado para abotoar como quisesse. Ela lhe pediu o olho da cara pelo trabalho. Ele nem se importou e, em vinte dias, a peça estava pronta. Estreou-a numa noite de muita serração e andou pela cidade orgulhoso da nova indumentária. Ao passar pelas ruas, com o chapéu de abas largas, com o capote fechado e os botões brilhando no meio da fumaça, as pessoas demoraram a reconhecê-lo e, quando o fizeram, muitos gritaram:

---- Hei, Ascânio, você esta parecendo um cavaleiro!

Ele respondeu com uma reverência, sorriu e continuando seu trajeto com a missão de percorrer todas as ruas da cidade. Assim, passou toda a metade do outono.

Contudo, numa noite em que o céu estava pipocado de estrelas, o vento zunindo nas orelhas e o povo todo reunido na praça, pois era festa junina, fogueira acesa, quentão, pipoca e dança de quadrilha, muita gente começou a falar que as galinhas do Ascânio estavam gritando sem parar como se fossem botar ovos àquela hora da noite. No início, não deram importância para o fato inusitado, mas começaram a desconfiar de que algo estava errado quando mais e mais gente chegava com a mesma notícia. Enfim, formou-se um grande alvoroço com muitas especulações. O Sacristão, sujeito abelhudo e fofoqueiro resolveu que deviam ir até a casa de Ascânio.  Um grupo de homens, mulheres e crianças se formou e rumou na direção da casa dele. N media que seguiam a estrada na direção da casa de Ascânio constataram um profundo silêncio. Não havia mais o cacarejar das galinhas ou o canto dos galos como haviam reportado. Lá chegando, foram surpreendidos por uma visão extraordinária: a paisagem havia mudado radicalmente. A casa de Ascânio, com tudo à sua volta, havia desaparecido. No lugar onde sempre estivera habitação desde os tempos do avô de Ascânio, só havia um descampado de terra vermelha e mole.

---- Cruz-credo! – gritou o açougueiro com os olhos arregalados – Onde foi parar a casa do Ascânio?

Ninguém sabia explicar o que estava acontecendo e as especulações começaram a fluir até que um grupo de garotos pôs-se a gritar e a apontar para o céu na direção do vale. A serração daquele lado havia se dissipado e, pairando no ar, com o capote aberto e o chapéu de abas largas, Ascânio sorria e acenava para o povo.

---- Jesus! – Exclamou o sacristão – O padre não vai acreditar, pois ele disse que só os anjos e os santos podem voar. Homens de carne e osso, só de avião.

            Uma estrela se destacava no céu e o seu brilho se aproximou de Ascânio que deu uma gargalhada e foi desaparecendo no meio dele, desvanecendo lentamente, diminuindo de intensidade até se apagar. Quando já não mais se via a figura de Ascânio no céu, a luz focou o povo no meio do descampado e todos ficaram olhando para cima pasmados. Repentinamente, uma chuva de ovos despencou do alto. Eram tantos ovos que homens, mulheres e crianças ficaram ensopados e formou-se uma imensa poça amarela e pegajosa no chão. As folhas de couve flutuavam no ar descendo lentamente e as crianças agarravam-nas, e as faziam de barcos para boiar sobre o lago de gema e clara de ovos. Muitos adultos, ajoelhados, evocavam a Deus e exclamavam que Ascânio havia se tornado um santo; outros, saíram correndo para casa, arrastando seus filhos com medo se serem levados pela luz que veio do céu; enquanto alguns poucos acreditavam que ele havia sido levado por um objeto voador não identificado.

            No dia seguinte, a imensa poça de clara e gema havia secado e do meio do líquido endurecido o povo constatou que brotavam flores brancas, amarelas, vermelhas, azuis, roxas e alaranjadas que se sobressaiam entre as folhas murchas de couve.

            Nunca mais Ascânio foi visto e tudo que se disse e ainda se fala dele e da sua casa por aquelas bandas da cidade de pedra dizem que é pura especulação. A única coisa que se sabe de verdade é que ele cumpriu o que dizia: voou para o infinito de chapéu e vestindo seu capote com trinta e seis botões prateados.

     

TEXTOS ESPARSOS, Pedro Paulo – Revisto em 21/06/2022

sexta-feira, 17 de junho de 2022

MÁRTIRES DA FLORESTA - OS ASSASSINATOS DO INDIGENISTA BRUNO PEREIRA E DO JORNALISTA DOM PHILLIPS JÁ ESTAVAM DECIDIDOS HÁ TEMPOS




O mundo não se calará tão cedo clamando por justiça e Dom e Bruno foram transformados em mártires.









Bruno Araujo Pereira, 41 anos, funcionário de carreira da FUNAI, foi daqueles seres humanos diferenciados, tal como tantos outros que, em tempos tenebrosos, decidiram doar suas vidas para a defesa da humanidade. Sua causa era luta pela preservação da amazônia e a defesa dos povos ribeirinhos e indígenas. Era teimoso, inteligente, capacitado, firme nas suas convicções e corajoso. Acima de tudo era perspicaz. Nos últimos 10 anos, passou grande parte da sua vida conhecendo a imensidão da maior floreta tropical do planeta. Aprendeu que a Floresta Amazônica só persistirá preservando as populações indígenas. Os indígenas, mantidos e respeitados no seu habitat, sem deterioração de suas culturas, são os guardiões da floresta. São eles que vivem da floresta e têm o conhecimento necessário para defender a sua destruição. Bruno sabia disso e nos seu tempo na funai trabalhou duramente nesse sentido.

Bruno, pelos seus conhecimentos da floresta e dos povos indígenas, foi nomeado como Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato da Funai. Nesse cargo promoveu uma expedição onde detectou vários povos isolados e intimamente inseridos no meio selvagem, parte do ecossistema da Floresta Amazônica. Contudo, essa expedição e suas constantes incursões chamaram a atenção de grileiros, pescadores ilegais, garimpeiros, madeireiros criminosos e, acima de tudo, de traficantes que atuam na tríplice fronteira. O tráfico presente na tríplice fronteira lava seu dinheiro com os produtos da extração ilegal de madeira, da pesca predatória, do garimpo predatório e até da pesca ilegal.

Em 2019, pouco tempo antes da eleição que colocou Bolsonaro na presidência do Brasil, Bruno comandou uma operação em Roraima que culminou com a expulsão de centenas de garimpeiros das terras Yanomami. Mais uma vez Bruno chamou a atenção para si alertou políticos, ruralistas e o crime organizado já enraizado naquela região.

Bolsonaro assumiu a presidência e sob orientação de políticos ligados à grilagem, garimpo ilegal e pesca predatória, exonerou o superintendente da FUNAI e nomeou o delegado da polícia federal Marcelo Xavier Silva para assumir o cargo apoiado pela bancada ruralista. Em seguida, Bruno foi exonerado do seu cargo na FUNAI e no seu lugar foi nomeado o pastor evangélico Ricardo Lopes Dias.

Mas, Bruno, teimoso, decidido, dedicado à causa indígena e da floresta, não iria desistir. E não desistiu. Assumiu um cargo de assessoria na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), onde continuou seu trabalho. A UNIVAJA nasceu e persiste para defender os povos e as terras do Vale do Javari. O Vale do Javari é uma terra indígena localizada nos municípios de Atalaia do Norte e Guajará, no lado oeste do estado do Amazonas. Foi demarcada por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso em 2 de maio de 2001.

Afastado do cargo de coordenador e licenciado do FUNAI, Bruno passou a apoiar as ações da UNIVAJA em defesa do seu território e dos povos ali inseridos. E a defesa do território significava confrontar os predadores humanos que ali se infiltravam com a anuência do desmonte da FUNAI promovido pelo governo Bolsonaro.

A exoneração do cargo na FUNAI não foi suficiente para afastar Bruno da sua luta pela floresta e seus povos nativos. Dedicado a sua causa continuou a perseguir e denunciar os crimes ali praticados. Elaborou, juntamente com a UNIVAJA, relatórios contundentes denunciando os crimes e apontando seus autores. Esses relatórios foram todos enviados para a FUNAI e para Polícia Federal.

Neste meio tempo, entre 2019 e 2022, Bruno conheceu o repórter Dom Phillips. Dom lhe expôs seu trabalho em defesa da Floresta Amazônica e e lhe detalhou que estava escrevendo um livro sobre como preservar a floresta de forma sustentável, englobando todos os atores inseridos no ecossistema. os dois se entenderam imediatamente e Dom propôs a Bruno guiá-lo no seu trabalho, o que foi imediatamente aceito.

Contudo, Dom já era uma figura conhecida e non grata para muitos adeptos das invasões e destruição da Amazônia. Em julho de 2019, ele participou de um café da manhã entre jornalistas organizado pela assessoria do Palácio do Planalto e confrontou o Presidente da República com relação ao desmatamento que havia crescido assustadoramente e as multas aplicadas pelo IBAMA haviam caído na mesma proporção. Estava presente, também, neste café, o General Augusto Heleno. O presidente se irritou e respondeu que a Amazônia é do Brasil, está preservada e nenhum país do mundo tem moral para criticar essa soberania e sua preservação.

Dom e Bruno, ao se unirem selaram suas sentenças de morte, os bandidos espalhados e comandando o crime no Vale do Javari passaram a monitorá-los até encontrar o melhor momento de assassiná-los. Era preciso, pois Bruno e Dom estavam chamando a atenção do mundo para os seus crimes.

Bruno e Dom foram covarde e cruelmente assassinados, numa emboscada planejada cuidadosamente.

E agora? O Governo de Jair Bolsonaro está com um pepino na mão para descascar, pois o mundo não se calará tão cedo clamando por justiça e Dom e Bruno foram transformados em mártires.







Pedro Paulo de Oliveira.




quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A LEI DOS SONHOS E O NATAL




LEI Nº 2018



                              "INSTITUI O CÓDIGO DOS SONHOS E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS" 


 
É PRECISO SEMPRE SONHAR...
E DEIXAR FLORESCER OS SONHOS.
ROUBAR SONHOS É CRIME INAFIANÇÁVEL,
PREVISTO NESTE CÓDIGO DOS SONHOS.
O SONHO DEVE SER COMO A ÁGUA QUE BROTA DA TERRA,
BORBULHANDO PURA E CRISTALINA.

CÓDIGO DOS SONHOS.

ART. 1º - TODO SER HUMANO NASCE COM DIREITO A SONHAR.

§ 1º - OS PAIS SÃO OS RESPONSÁVEIS PARA DESPERTAR OS PRIMEIROS SONHOS NOS SEUS FILHOS.

§ 2º - OS PRIMEIROS SONHOS DEVERÃO SER APENAS SOBRE O AMOR.

§ 3º - A NINGUÉM É DADO O DIREITO DE ROUBAR OS SONHOS DE OUTROS, POR MAIS POSSÍVEIS OU IMPOSSÍVEIS QUE POSSAM PARECER

§ 4º - AS AUTORIDADE CONSTITUÍDAS DESTE PAÍS ENVIDARÃO TODOS OS ESFORÇOS NECESSÁRIOS E CONSTITUIRÃO POLÍTICAS PÚBLICAS PARA QUE, AO NASCER, SEJA GARANTIDO A TODOS O DIREITO E OS MEIOS PARA SONHAR. 

§ 5º - AO GARANTIR QUE TODOS POSSAM SONHAR, TAMBÉM DEVERÁ SER GARANTIDO O DIREITO A UMA VIDA DIGNA, SEM FOME, SEM GUERRAS, SEM ÓDIO, SEM MENTIRAS E NENHUMA OUTRA ESPÉCIE DE CRUELDADE.
 


(...)

BRASIL, DEZEMBRO DE 2018




JUSTIFICATIVA

O NATAL É APENAS UMA DATA, UMA COMEMORAÇÃO COMO TANTAS OUTRAS. NO ENTANTO, CONVENCIONAMOS TRANSFORMAR O NATAL NUM DIA DE SONHOS. SONHOS QUE PARA MUITOS NÃO SE REALIZARÃO, TOMADOS PELA MISÉRIA, PELA FOME, PELA GUERRA, E PELO DESAMOR. É ASSIM O MUNDO. CERTAMENTE QUASE TODOS QUE ESTIVEREM LENDO ESTE TEXTO PODERÃO SONHAR E REALIZARÃO PARTE DOS SEUS SONHOS NESTE NATAL.

MAS, QUE NESSE NATAL, OS NOSSOS SONHOS POSSAM RETORNAR AOS MOMENTOS DE INOCÊNCIA E QUE POSSAMOS OLHAR PARA TRÁS E PARA O LADO PARA DESCOBRIRMOS QUE A VIDA É MUITO MAIS DO QUE O NOSSO MUNDO, A NOSSA CASA, O NOSSO CORPO.

"EU VI O OLHAR DA CRIANÇA SUPLICANDO APENAS UM PRATO DE COMIDA NO NATAL! ESSE ERA O SEU SONHO DE NATAL!"

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: engeplus

domingo, 12 de novembro de 2017

É NATAL... E DAÍ?



É Natal e daí? Poucos se importam com a fome e a miséria alheas.
O mundo sempre foi injusto e inventaram o Natal.


Natal é tempo de se consumir
enriquecer mais ainda os ricos.

Os ricos tomarão vinho
e comerão iguarias importadas.

Em Brasília continuarão a fazer festa
bandidos que governam um país
uma nação chamada Brasil.

No Rio de Janeiro
tão bonito... continuarão a matar
inocentes morrerão nas favelas
policiais corruptos continuarão a extorquir.

La no Nordeste a fome e a sede continuarão
fome e sede por lá é conveniente
e morrerão muitos em tenra idade.

As chacinas continuarão em São Paulo
e no Espírito Santo.

As chuvas derrubarão casas
em Minas Gerais e no Rio de janeiro
e inundarão cidades pelo país afora.

É Natal! E daí?
Muitos infelizes receberão cestas
recheadas de alimentos
“angu de um dia só”
e os meninos e meninas
ganharão presentes
mas, somente nesse dia
que é dia de ação de graça
de falar que é Natal
tempo de solidariedade
tempo de renovação
tempo de amor
tempo de paz.


Pedro Paulo de Oliveira.

NAYRA E O CHAVELHO DE ESPINHOS NA FAIXA DE GAZA

" Esses pequeninos, cheios de sonhos, sonhos que embalam o mundo, distantes das       ambições e da crueldade dos homens e mulheres que...