Após uma longa e difícil investigação, amealhada
por ameaças contra testemunhas e corrupção ativa e passiva, onde policiais
tentaram comprar, também, o silêncio das testemunhas e, por fim, pagaram para
algumas pessoas inventarem que o traficante Catatau tinha assassinado Amarildo,
esse emblemático caso começa a ter contornos reais. Digo contornos reais, por
que até o momento o corpo de Amarildo não foi encontrado.
25 policiais, incluindo o comandante da Unidade
Pacificadora da Rocinha, Major Edson Santos, foram indiciadas acusadas de
envolvimento no desaparecimento e morte de Amarildo. Quatro policiais já estão
presos por decisão da 35ª Vara Criminal da Capital Carioca. São eles: o Tenente
Luiz Felipe de Medeiros e os soldados Newland de Oliveira, Silva Junior e Bruno
Athanásio. Agora, mais três policiais, incluindo o Major Edson Santos, tiveram
sua prisão preventiva decretada após uma auditoria da Justiça Militar. Esse
fato foi um avanço nas investigações do desaparecimento do Pedreiro Amarildo, já
que existe corporativismo comprovado na Policia Militar do Rio de Janeiro.
No entanto, uma das testemunhas do caso esta
desaparecida há mais de 2 meses. Essa testemunha estava, inclusive, no Programa
de Proteção a Testemunhas. Como que uma pessoa que está protegida pelo estado e
que deveria ter o seu paradeiro sob absoluto sigilo ou a sua identidade preservada,
pode desaparecer como fumaça no ar? Quem era o responsável ou os responsáveis pela
segurança dessa testemunha? Essas pessoas têm que responder na justiça pela
falha ou conivência no desaparecimento da testemunha.
De qualquer forma, desgraças a parte, a justiça do
Rio de Janeiro confirmou a pensão para viúva de Amarildo. Dos males o menor?
Não! Bom seria que o pedreiro não tivesse sido assassinado de forma tão covarde,
como concluiu o inquérito policial e o MP. Ora, quem está sendo acusado de
matar Amarildo são os agentes da lei pagos pelo estado para nos proteger de
bandidos e assassinos. Está em jogo a credibilidade de uma instituição, pois se
fosse somente um policial acusado, dir-se-ia que todos os demais não podem
pagar pelo erro de uns poucos. No entanto, são 25 policiais, incluindo um major
e um tenente, acusados de um assassinado bárbaro; foi uma unidade policial
inteira que participou do sequestro, tortura e morte de cidadão pobre e
inocente.
O desaparecimento de Amarildo trouxe a tona um
velho problema da Polícia brasileira, herança de muitas ditaduras, coisas que
começaram lá na proclamação da república por um militar, Marechal Deodoro da Fonseca,
seguido pelo governo da Espada de Floriano Peixoto e terminando em 21 anos de
ditadura militar plena que durou de 1964 a 1985. Nesses 21 anos de ditadura
militar, alguns setores da policia
brasileira se acostumaram a sequestrar, torturar e matar seus desafetos.
Amarildo foi sequestrado por policiais no dia 14 de
julho deste ano. Constatado que ele havia desaparecido, sua família começou uma peregrinação
para encontra-lo, sabedora de que os policiais da UPP da Rocinha estavam
envolvidos no seu sumiço. Foram para a frente da casa do governador cobrar
providências para encontrar Amarildo e sensibilizaram artistas do nível de
Caetano Veloso e Wagner Moura. O Caso ganhou repercussão internacional. A
investigação passou a correr de forma séria, com o governador sob pressão da
mídia e dos órgãos de defesa dos direitos humanos. O Delegado Rivaldo Barbosa entregou,
em setembro passado, ao Ministério Público, o Relatório do Inquérito com mais
de 180 páginas. Foi a partir daí que os 25 policiais foram indiciados e muitos
já estão presos.
Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem do Major: Alessandro Costa - Agência O Dia.
Imagem de Amarildo: arquivo O Dia.