O que diferencia o ser humano dos demais animais não é a sua capacidade de destruir o meio ambiente à sua volta, fazer guerras, ser cruel, ambicioso, miserável, digno, ou dotado de amor. O que diferencia o ser humano de qualquer outro ser vivo é a sua capacidade de buscar formas que satisfaçam a sua curiosidade e de encontrar elementos capazes de transformar o meio em que vive, seja para o bem, seja para o mal.
Nesse contexto de evolução do ser humano, o modelo de urbanização, ainda baseado na Revolução Industrial, não mais sustenta a lógica da vida. Estamos espremidos em ambientes de imensos conglomerados de cimentos, ferros, alumínios, vidros, borrachas, lâmpadas e máquinas de todas as espécies.
Já nos foi dito que nas metrópoles, grandes e médias cidades e, até mesmo, em algumas pequenas cidades, o ser humano é denominado “animal urbano”. Será esse um termo correto para designar um ser que necessita intrinsecamente dos meios naturais para sobreviver? Será justo manter o ser humano aprisionado e entorpecido, desconhecendo seu próprio eu?
No meio dos conglomerados urbanos o ser humano se insere às máquinas que ele próprio criou e, desesperado, procura espaços para desaguar suas emoções e instintos. Esses espaços nada mais são do que outras criações da “Revolução Industrial”, ou seja, os grandes shows assistidos por milhares, quando não, milhões de pessoas, marcados por produções fabulosas da tecnologia; clubes fechados e abertos, dependendo do poder econômico dos frequentadores; espaços de convivência nos shoppings (área de alimentação, salas de cinema, pequenos parques de diversões para crianças); e, por fim, as praias e praças superlotadas onde os grupos se fecham e desconhecem seus semelhantes, bem ao lado.
Se revisarmos a história, veremos que este atual modelo de urbanização sempre colocou o ser humano numa disputa inglória. Não podemos afirmar que o espaço urbano de hoje é melhor ou pior que o do início da “Revolução Industrial” ou lá dos tempos do Império Romano, ou mesmo da Grécia Antiga. A sociedade sempre foi dividida em camadas sociais: ricos, médios, pobres e miseráveis. Os meios usados para se chegar a ser rico nem sempre foram os mais bonitos, saudáveis ou justos. Desde os tempos do início da civilização, seres humanos enganam, matam e escravizam em nome do poder. Não há nada de novo nessa divisão urbana onde no Brasil o exemplo mais cruel é o das favelas. Logo depois da proclamação da Lei Áurea, as famílias de negros que deixaram as grandes fazendas, foram segregadas nas periferias das cidades. Essa segregação, nas grandes metrópoles, geraram as favelas, numa mistura de mestiços de índios e negros, na sua maioria filhos bastardos dos funcionários públicos, senhores de engenho, senhores do café e senhores do leite e da carne de boi.
Muitos seres humanos, ao longo do tempo, sempre sonharam com um mundo mais justo, onde não houvesse fome e todos fossem tratados igualmente na busca das necessidades comuns à sua sobrevivência. Primeiro, foram as religiões, que nasceram do medo da morte e da necessidade de se adorar um ser superior, imortal. As religiões não resolveram e nunca vão resolver os problemas sociais da humanidade. Em nome de Deus muita atrocidade foi cometida e ainda continua a ser perpetrada pelo mundo. Depois, veio a filosofia pregando a igualdade, paraísos e criando regras (Platão, Aristóteles, Sófocles...). Já no Séc. XVIII deparamos-nos com a Revolução Francesa, que foi outro engodo. Ela matou seus próprios idealizadores (Danton e Robespierre). Logo a seguir, veio a Revolução Industrial, trazendo, com ressalvas, evolução para a humanidade.
No Séc. XX uma luz surgiu através de um tratado poderoso que marcou gerações e prometia mudar o mundo pregando uma sociedade sem classes, baseada nas ideias de Karl Max. Numa mistura de conceitos comunistas, e variando para socialistas, ditaduras cruéis foram implantadas pelo mundo em nome de uma sociedade mais justa, prometendo acabar com as desigualdades sociais. Tudo, também não passou engodo e provou, mais uma vez que estava em jogo a ânsia do ser humano de ter poder, governar, mandar, ser superior. Os regimes comunistas/socialistas sucumbiram todos com os seus sonhos e os seus líderes entraram para a história como governantes cruéis.
Paralelamente às ditaduras, governos déspotas e regimes socialistas/comunistas, os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Itália, a Espanha e o Japão se impuseram defendendo o capitalismo, baseado no modelo de Democracia. Esse modelo perdurou, ao longo do tempo, foi se adaptando a mini modelos (social democracia, neoliberalismo, socialismo liberal, etc.). Houve uma interrupção nesse processo pelas distorções causadas pelo Nazismo. Contudo, esse modelo, ainda vigente, pregado pelos Estados Unidos e pelo bloco da Europa, também se mostrou cruel, pois não minimizou as misérias humanas, as disputas bárbaras pelo poder e as desigualdades sociais.
O que mais preocupa, no entanto, com relação ao futuro da humanidade, diante do atual modelo econômico, ainda sob a liderança dos Estados Unidos e do Bloco Europeu, é o fato desses países ditos desenvolvidos estarem em situação precária financeiramente e dependentes das economias dos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Existe uma clara dependência, desses países, de recursos naturais que eles não mais possuem: petróleo, ferro, madeira, água doce em abundância e território. O outro fato preponderante com relação a esses países é que eles estão endividados por conta da emissão de excesso de papéis no mercado financeiro do mundo.
A discussão do FÓRUM DAS ÁGUAS tem que ser focada, em especial, em cinco pontos:
1 - A MINIMIZAÇÃO DAS DESIGUALDADES ATRAVÉS DE AÇÕES SOCIAIS (RESPONSABILIDADE SOCIAL) DAS EMPRESAS E DO PODER PÚBLICO;
2 – A DEFESA DAS RESERVAS NATURAIS BRASILEIRAS, EM ESPECIAL DOS NOSSOS LENÇÓIS DE ÁGUA DOCE (O FÓRUM DEFENDERÁ AS ÁGUAS DO ALTO RIO GRANDE E OS LENÇÓIS SUBTERRÂNEOS DO CIRCUITO DAS ÁGUAS);
3 – A EDUCAÇÃO E A CULTURA COMO MEIOS DE SE SAIR DA MISÉRIA – PROPOSTAS CONCRETAS;
4 – A MULHER COMO MODELO DE UM NOVO PARADIGMA SOCIAL;
5 – E A REINVENÇÃO DO ESPAÇO URBANO NAS IDEIAS DE JORGE LUIZ BARBOSA.
A CARTA DAS ÁGUAS não deverá ser um documento pré-determinado, mas um documento CONTUNDENTE a ser composto a partir das discussões do FÓRUM BRASILEIRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CAXAMBU.
Pedro Paullo de Oliveira.