quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O PODER DA COMUNICAÇÃO E OS COSTUMES DOS BRASILEIROS



A CANTORA ANITA É MAIS NOVO SÍMBOLO DO CONSUMISMO BANAL.

Dizem que brasileiro gosta de 4 coisas: futebol, mulher, Carnaval e praia. No entanto, de jeito que vão as coisas, novos hábitos estão consolidados no cotidiano dos brasileiros: novelas da Rede Globo, bailes funk, carros com sons possantes, conversas de botequins regadas de cervejas, celulares e Facebook. É lamentável ver a maioria da juventude do Brasil preocupada apenas com esses itens. Abre-se o Facebook e lá estão estampadas fotos de garotas entre 12 e 25 anos, em poses sensuais, com a língua para fora e recebendo uma centena de curtidas e comentários elogiosos; da mesma forma, jovens do sexo masculino, entre 15 e 25 anos, se mostram e recebem curtidas e elogios. Nada contra a sensualidade, o desejo, o despertar da libido, o sexo. É normal e faz bem. No entanto, quando isso se torna a principal causa de uma juventude, algo não vai bem para a sociedade onde ela vive. O que mais chama a atenção é que as revistas virtuais e escritas estão dando destaque para essa nova cultura e mostra as filhas de artistas, com apenas 13 anos, namorando e "causando" com seus paqueras na redes sociais.

VIOLÊNCIA E SEXO NOS BAILES FUNK

O Brasil, por conta dessa cultura, da apologia à sensualidade e ao sexo a qualquer custo, é visto em todo o mundo como um país promíscuo.O jornal croata "24 Sata" comemorou a classificação do país para a Copa do Mundo estampando a bunda de uma atleta brasileira vestindo o uniforme da seleção. Os argentinos, assim que se classificaram, pediram para a s mulheres brasileiras os esperarem.

Conversa de botequim, regada de cerveja, depois do trabalho ou nas férias, é salutar, gostoso e eleva o convívio social; bailes funk, desde que não extrapolem os limites do bom senso, representam uma cultura e são formas de extravasar, em determinados momentos e com limites, as energias e a sensualidade; Carnaval é a nossa maior festa e não precisa explicação; e as novelas, os carros com sons possantes e os celulares fazem parte do nosso dia a dia. E o Facebook? Bom essa é uma área complicada de delinear. Não há como prever onde vai dar o fenômeno das redes sociais, onde está inserido o Facebook.

Em outro artigo eu já havia dito que o mundo se transformou pelo poder da comunicação. Aliás, todas as grandes transformações da humanidade se deram através das revoluções da comunicação. Tudo começou quando os seres humanos descobriram o fogo e passaram a retratar seus costumes e emoções nas paredes das cavernas e grutas. Dai, para onde chegamos hoje, pela idade da terra e do universo, com milhões ou bilhões de anos, foi um pulo.

As grandes empresas de comunicação vivem de patrocínios. Para que recebam patrocínios elas precisam retratar e atender os interesses de outras empresas que querem vender seus produtos. Assim, se a música (som) sem qualidade vende, é necessário que se promova seus intérpretes; se a telenovela que transmite a cultura do sexo banal, entre outras idiotices, vende, é necessário que os seus atores sejam transformados em ídolos. E assim vai, criando-se uma cultura onde a maioria dos brasileiros não sabe ler, não sabe se expressar, não sabe escrever, não sabe em quem votou na última eleição, não conhece a verdadeira história do seu país e não sabe o que é respeito e pudor.

A JUVENTUDE ALIENADA PELA FOME E PELO DESCASO

Se verificarmos as estatísticas de morte no trânsito, na guerra do tráfico e outros crimes, veremos que a maioria das vítimas são de jovens. Quando não se tem um ideal de vida e quando não se cresce num ambiente saudável, o resultado é, normalmente a criminalidade. Esse é um dos sintomas da cultura capitalista, onde só vale o resultado final de vender os produtos a qualquer custo, não importando como e para quem. Assim, a comunicação, através de mensagens e imagens, convence e cria os costumes, gerando, também, toda essa violência.

Voltando ao Facebook, bem que existe uma minoria que tenta mudar a tradição de banalidade já enraizada entre os internautas. São páginas culturais que englobam artistas ainda desconhecidos dos holofotes da fama; são editoras famosas que publicam obras de qualidade; e são grupos de defesa dos direitos humanos,do meio ambiente e de uma política honesta. Essa minoria ganha adeptos dia a dia, claro que em número bem ínfimo se comparado com os demais grupos de apologia ao consumismo e à banalidade. Mas, estão ai e, se analisarmos a história da humanidade,veremos que eles sempre existiram e foram os responsáveis pela salvação e perpetuação da civilização.

A CORAGEM DOS JOVENS MUDA OS RUMOS DA HISTÓRIA

A juventude, aliás, sempre foi usada pelos políticos e grandes industriais como massa de manobra. As revoluções são decididas em gabinetes e, para que sejam perpetradas, chama-se a juventude para as ruas. Os chefes de estados declaram guerra e mandam seus jovens para as frentes de batalha. Não faz muito tempo o Brasil foi sacudido por manifestações que assustaram muita gente importante. Essas manifestações foram armadas através das redes sociais. Isso prova o poder que a comunicação tem para mudar os rumos da história. O destaque da comunicação se dá, agora,nas redes sociais. Quem sabe, na eleição do ano que vem possamos melhorar a cara do nosso congresso através das redes sociais.

COMUNICAÇÃO...


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: paraiba.com.br

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

AOS BOTAFOGUENSES: MORRE SEU MAIOR SÍMBOLO - NILTON SANTOS




Foi nesta tarde que Nilton Santos, conhecido como Enciclopédia, nos deixou. Ele estava com 88 anos e morreu de insuficiência respiratória.

Nilton Santos foi o jogador que mais atuou com a camisa do Botafogo, jogando no time por 16 anos. Pela Seleção brasileira, atuou e foi campeão nas Copas de 1958 e 1962.

Nilton Santos foi daqueles jogadores, no seu tempo, carismático, de um futebol clássico, firme e bonito. Mesmo sendo um dos principais atletas do futebol no seu tempo, não fez fortuna. Contudo, deixa seu nome nos anais da história desse esporte, como um dos símbolos de uma época gloriosa em que o Brasil se despontava como uma das grandes potências mundiais da bola.

Aos amigos que o procurava, ainda recentemente, já idoso, ele sempre dizia que cumpriu o seu papel de atleta, defendendo o seu clube amado, o Botafogo e a Seleção Brasileira. ao se referir à Seleção ele fazia questão de frisar que, no seu tempo, se jogava por amor à pátria - amor à "Camisa Canarinho".

O Botafogo, hoje, está órfão. Mas, ao mesmo tempo, está tendo a oportunidade de referenciar um grande atleta: NILTON SANTOS - O ENCICLOPÉDIA.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Arquivo do Botafogo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

JANGO, O NOSSO HERÓI INJUSTIÇADO E RESGATADO




Os Estados Unidos é uma nação por excelência orgulhosa de si própria. Esse orgulho vem da sua história de conquistas que se iniciou no momento em QUE o seu povo, descendente, também, dos bretões decidiu se livrar dos grilhões da Inglaterra e, para isso, contou com a ajuda da França, àquele tempo, inimiga dos ingleses. Foi uma longa e sangrenta guerra a que proporcionou a independência dos Estados Unidos. Dede então, os Estados passou a figurar no cenário mundial como uma nação vanguardista e, em pouco tempo, já era uma das mais poderosas economias do mundo, sem contar o seu poder bélico.

No Dia 04 de Julho os norte-americanos comemoram a sua independência. É um dos dias mais importantes do ano para eles, perdendo, talvez, apenas para o Dia de Ação de Graças. Os desfiles e as comemorações no dia 04 de julho são extraordinários, onde cada cidadão, desde a mais tenra e consciente idade ergue a sua cabeça e encara a bandeira cheia de estrelas com um orgulho exacerbado.

O cidadão norte-americano, de qualquer cor ou credo, tem orgulho do seu nascimento, do seu chão, do seu ar, dos seus governantes e da sua história. Esse orgulho, unido á uma herança imperialista recebida da Inglaterra, os tornou conquistadores por excelência. Eles participaram, praticamente, de todas as guerras do Século XX e impuseram, nos lugares onde eles se realizavam, a sua marca e o seu domínio.

A cultura dos Estados Unidos, hoje, é a mais difundida no mundo e, sempre, com a marca do orgulho do seu povo. Basta assistir aos filmes de super-heróis para observar essa realidade: Homem-Aranha, Batman, Capitão América, dentre tantos outros.

Outra característica especifica do povo norte-americano é a sua capacidade de criar heróis, transformar personagens e mitos, tudo na intensão de promover uma nação e uma raça. Nos últimos dias o povo desse país esteve relembrando a vida e a morte do Presidente John F. Kenedy, assassinado no dia 22 de novembro de 1963, Dallas. Kennedy, se não tivesse sido assassinado de forma tão brutal e se não fosse casado com Jaqueline, bela, inteligente e simpática, teria sido apenas mais governante, tal como foram, antes dele, outros 36. Kennedy era um homem comum, gostava de passeios, mulherengo (uma das suas amantes mais famosas foi Marilyn Monroe) e extremamente dependente da equipe que o colocou no poder. Prova da sua dependência foi a sua decisão desastrada de invadir Cuba pela Bacia dos Porcos. Fidel Castro e Che Guevara lideraram uma guerrilha que humilhou as forças armadas norte-americanas. Mesmo assim, John Kennedy é um herói galante, forte e que, como os titãs, morreu em batalha para se tornar eterno.

Brasil, Século XX. Ano de 1963. O presidente, eleito democraticamente pelo povo é João Goulart – O Jango para todas as pessoas. O país está em convulsão, coma economia estagnada, os salários defasados e o desemprego em alta. Jango dá várias entrevistas, reune sua equipe econômica e, com ela decide: “são necessárias reformas de base para colocar o Brasil nos trilhos e caminharmos para um desenvolvimento social e econômico”. Ele anuncia ao povo que as reformas estão sendo alinhavadas e serão colocadas em práticas no início de 1964. O povo começa a acreditar no seu presidente. No entanto, setores reacionários da economia, ligados a interesses estrangeiros, começam a se movimentar contra o governo de Jango. Iniciam uma campanha severa contra ele, chamando-o de comunista e espalhando, através da imprensa e de movimentos de rua, que o Brasil será entregue para a Rússia e que a propalada reforma de base engloba a reforma agrária, que tomará as terras dos pequenos produtores.

Nos Estados Unidos, o governo de Kennedy se movimenta preocupado com os destinos do maior país da América latina, tendo em vista os interesses das suas empresas instaladas no Brasil. O Pentágono e a CIA montam um plano estratégico para derrubar o Governo de Jango. Agentes da CIA chegam ao Brasil para preparar o fim do governo democrático. Kennedy, no entanto, é assassinado. O mundo está dividido em dois blocos econômicos e militares: o bloco comunista, liderado pela Rússia (antiga União soviética) e o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos. Os planos para derrubar Jango, mesmo diante da tragédia que assola os norte-americanos com a morte do seu presidente, continuam.

Março de 1964. O Congresso, pressionado pelas Forças Armadas, vota a deposição de Jango, poucos dias antes dele anunciar suas Reformas de Base. Jango é o anti-herói, o comunista, baseado numa propaganda muito bem elaborada e anticomunista, montada pela CIA. Jango não é nenhum mito, mas um presidente deposto, arrancado à força pela ameaça das armas; Jango é o presidente deposto pelos reacionários que vendem o Brasil por nada. Enquanto nos Estados Unidos John Kennedy é adorado e chorado, João Goulart é obrigado a fugir para o exílio, evitando, assim, uma guerra civil.

João Goulart morre no exílio, em Mercedes, na Argentina, no dia 06 de dezembro de 1976, oficialmente por ataque cardíaco, aos 57 anos. A imprensa publica algumas notas sobre a sua morte; o governo militar não lhe presta nenhuma homenagem; o povo mal fica sabendo de como foi o seu enterro. O anti-herói do governo déspota do Brasil continua longe do povo.

No entanto, a história pode ser recontada. O Jango de São Borja, claudicante e formado em direito logo começou a ressurgir na memória dos que os conheceram. Sua morte passou a ser suspeita, podendo ter sido encomendada pelos militares da “Operação Condor”, formada por pessoas de países sob ditaduras como a do Brasil.

Maio de 2013 e a Comissão Nacional da Verdade resolve exumar os restos mortais de Jango. Seus restos mortais são levados para Brasília. Um desfile cívico é promovido, acompanhado o caixão com o corpo de Jango, com a presença de todas as autoridades da República Brasileira. O Congresso se reúne e anula a sessão de março de 1964 que considerou vago o cargo de presidente da República Brasileira.

Em 31 de março de 1964 terão se passado 50 anos do golpe militar que derrubou Jango. Talvez, até lá já se saiba se ele foi ou não assassinado pelos militares. Os militares, vendo o regime que mantinham se apodrecer, temeram que Jango pudesse voltar ao poder.

49 anos se passaram para que o Brasil descobrisse que tem heróis e que pode criar mitos para o seu povo se orgulhar. Jango é uma figura mítica. Jango foi um homem – e a história pode provar – dotado de coragem e amor pelo Brasil. Segundo os melhores historiadores e economistas, se ele tivesse conseguido impor as suas “Reformas de Base” o Brasil, hoje, seria uma nação poderosa. Mas, isso os imperialistas não queriam e compraram os vendilhões e mercenários do Brasil.

Jango foi um herói de verdade. Merece que a sua memória seja resgatada e o seu nome entre para a história no pedestal dos grandes líderes, talvez um dos maiores e “melhores”. Jango deve ser colocado como símbolo de um tempo e contra o buraco negro criado pelos militares no Brasil.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagens: mestresdahistoria

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

OS NOSSOS RIOS, A NOSSA VIDA: DESCASO E MORTE.






Os Rios da Bacia do Alto Rio Grande estão morrendo lentamente e as pessoas não estão percebendo. A juventude, preocupada com o seu dia a dia, com as suas diversões e com a possibilidade de encontrar empregos bem remunerados, não enxergam que uma morte silenciosa se opera ao seu lado: a morte dos córregos, dos rios e das lagoas.

A região da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Grande está situada no sul de Minas Gerais e é composta por 33 municípios abrangendo uma área aproximada de 9.000 km2. A área de drenagem é de 240 km de extensão, com uma população de cerca de 365.000 habitantes. A bacia hidrográfica do Alto Rio Grande é composta pelas sub-bacias são do Rio Grande, do Rio Aiuruoca, do Rio Turvo Grande e do Rio Ingaí, que nascem na Serra da Mantiqueira e pela sub-bacia do Rio Capivari. As cidades que compõem essa Bacia são: Aiuruoca; Alagoa; Andrelândia; Arantina; Bocaina de Minas; Bom Jardim de Minas; Carrancas; Carvalhos; Ingaí; Ijaci; Itumirim; Itutinga; Liberdade; Luminárias; Madre de Deus de Minas; Minduri; Nazareno; Piedade do Rio Grande; Santana do Garambéu; São Vicente de Minas; Seritinga; Serranos; Baependi; Bom Sucesso; Cruzília; Ibertioga; Ibituruna; Itamonte; Lavras; Lima Duarte; Santa Rita de Ibitipoca; São João Del Rei; São Tomé das Letras.

Como se pode depreender do texto acima, retirado do Comitê de Bacia Hidrográfica – CBH Rio Grande, a área em questão é extremamente grande, equivalendo ao ou maior que o território de muitos países. Quanto à população que, em primeiro plano, pela extensão territorial, parecerá pequena, não é, tendo em vista que essa região é extremamente produtora, com destaque para a produção de café, soja, milho, bovinos, equinos, suínos, além de hortigranjeiros, embora as pessoas residam, na sua maioria em pequenas cidades, com as destacadas acima.



Ainda segundo o CBH Rio Grande: “nas áreas de influência do bioma cerrado encontramos uma fauna extremamente rica, apresenta 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espécies de anfíbios, das quais 45 endêmicas; 120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas. Podemos encontrados animais como a paca, cutia, preguiça, capivara, quati, cachorro-do-mato, lobo-guará, gambá, tamanduá-mirim, tatu peba, tatu-de-rabo-mole, tatu-galinha, macacos como sagüi, macaco-prego, lagarto teiú, cobras cascavel, várias espécies de jararaca, jibóia, coral. A avifauna é caracterizada por jacus, mutuns, jacutingas, seriemas, tucanos e papagaios”.

Ora, então, com tanta riqueza, por que descaso e morte? Vamos por etapa. Comecemos pelas nascentes e córregos que formam os rios: estão, na sua maioria, poluídos por esgotos domésticos e de pequenas indústrias; as cidades avançaram sobre as nascentes (pequenas minas de água) e assorearam suas margens, destruindo a vegetação e fazendo drenos sobre seus cursos; e a maioria do lixo das casas é jogada nas suas águas. Depois, vêm os rios: a extração de areia e os garimpos ilegais simplesmente transformaram os rios em meios de se ganhar dinheiro, destruindo suas margens e desmatando nas suas imediações; o esgoto das cidades, quando não jogados nos córregos é despejado diretamente nas suas águas, como é o caso do Rio Turvo em toda a sua extensão; e, completando, vem a pesca ilegal com tarrafas, bombas e juquiás, onde pescadores inescrupulosos tiram das águas filhotes de piau, dourado, mandi e lambari.



Uma das mais belas cachoeiras da cidade de Carrancas é imprópria para a natação, tendo em vista que todo o esgoto doméstico do município escorre para as suas águas. O Rio Turvo, antes navegável, com uma população de peixes diversificada e que tinha suas águas limpas, apesar de turvas, hoje é um arremedo do seu passado de glória: sem peixes, contaminado pelo esgoto, assoreado e feio.

Outros problemas, ao longo dos tempos, também contribuíram para a degradação dos rios: as queimadas em detrimento da pecuária leiteira; os desmatamentos em torno das nascentes e nas margens dos córregos e rios e o uso de pesticidas nas lavouras de batata e outros hortigranjeiros.

A realidade fica ainda pior quando sabemos que o governo de Minas Gerais gasta milhões de reais na manutenção das rodovias estaduais, feitas, "estranhamente", com economia de materiais, pois,- diferente de outros estados -, se deterioram logo, e que parte desse dinheiro poderia ser usado para a construção de usinas de tratamento de esgotos, aterros sanitários e recuperação das nascentes, córregos, rios e lagoas.



Precisamos nos conscientizar que para que os nossos filhos e netos tenham futuro, uma vida com dignidade, não basta dar-lhes estudo ou deixar-lhes um patrimônio em dinheiro e imóveis. Necessário se faz, também, que preservemos o nosso meio ambiente, a começar pela água que bebemos e usamos para a nossa higiene diária. A água faz parte do bioma que nos envolve e, da forma como vai, com os rios sendo poluídos e assoreados, não restará muita coisa em um século. Um século passa rápido, foi o tempo de nossos avós e logo será o tempo dos nossos netos. Para aqueles, devemos a memória e o fato de ter nascido; para estes, devemos a vida e o futuro.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagens: ambientenatural

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

QUANTO VALE A VIDA DE UM MENINO DE 3 ANOS?



Eu queria poder dizer para Natália, a mãe do Menino Joaquim, o quanto sinto a perda que ela teve com a morte do seu filho. Eu queria poder olhar nos olhos dela e explicar-lhe que ela não poderá, nunca mais, ver Joaquim sorrindo, correndo, brincando, aprendendo, abraçando,chorando, vivendo a sua infância plenamente, tornando-se um adolescente e um homem. Se fosse possível eu ficar frente a frente com Natália,falaria-lhe assim:

---- Olha, Natália, tenho tanta saudade da minha mãe e gostaria, ainda e tanto, que ela pudesse me amparar nas minhas quedas. Eu digo "ainda", Natália, porquê ela já se foi, mas registrou todos os meus momentos na sua mente e sempre que a encontrava, ela fazia questão de relembrar o orgulho que teve ao me ver nascer e transformar-me em um homem adulto e chefe de família. Sei que ela, quando me viu sair de casa, Natália, teve o seu coração partido e rezou, todos os dias da sua vida, por mim, para que tudo desse certo no meu caminho.


UM FATO EXTRAORDINÁRIO SOBRE A VIDA



Ontem, eu decidi fazer um passeio por montanhas e cachoeiras. Fui para a bucólica cidade de Carrancas, em Minas Gerais. No entorno da cidade existem, na minha opinião, as mais belas cachoeiras da região. Levei comigo minha esposa Cássia, meu filho Augusto e sua namorada Tatiane, meu neto Pedro e minhas netas Fernanda e Ana Clara. A temperatura devia estar em torno de 35 graus. Depois de visitar diversas e belas cachoeiras (foi um dia longo, de muitos encontros e o texto se alongaria, também, nas descrição. Por isso, escolho resumir), encerramos o passeio na Cachoeira do Amor. A água super-gelada nos refrescou. Eu e meu filho conduzimos as crianças através da água. Ensinei, mais um pouco, meu neto Pedro a nadar.

No final da tarde, o sol já pincelava o horizonte de dourado e lançava sombras sobre a paisagem. A água do lago, formado pela Cachoeira do Amor, reverberava a luz formando um quadro único e prateado. Foi quando eu e o Augusto reparamos num pássaro que pousou a poucos centímetros da minha cabeça. Era uma ave pequena, de cor negra e com um topete que lhe dava um ar de notoriedade. Ela se firmou sobre um fino galho, entre as pedras e os filetes de água e olhava para cima o tempo todo. Naquele instante, reparei em meu filho e em meus netos, absorvi a água cálida e senti a vida em toda a sua plenitude. Senti, de verdade a presença de Deus. A pequena ave abriu suas asas e fez um voo rasante sobre minha cabeça. Foi algo extraordinário! Depois, ela voltou para o galho e não arredou o pé de onde estava. Foi, então, que a Tatiane, com o seu instinto de mulher, me disse que a ave estava protegendo o seu ninho. A mãe protegendo as suas crias e me dizendo, sem medo, que estava ali, para perpetuar a vida.

A MORTE DE JOAQUIM.



O corpo do menino de três anos, que sorri para as câmeras no momento em que era fotografado, foi encontrado boiando a 150 quilômetros da sua casa. Eu já havia dito no texto anterior que não esperava encontrá-lo com vida. Seu padrasto é o principal suspeito de tê-lo matado; sua mãe é suspeita de conivência com o assassino. Foi pedida a prisão preventiva de ambos e Natália, que defendia o padrasto, está mudando a versão dos fatos para se proteger. Ela dá detalhes de um relacionamento conturbado, onde o homem com quem ela dividia a casa dava sinais de que tinha ciumes do Menino Joaquim, fruto do primeiro casamento de Natália.

Joaquim, enfim, é mais uma vítima do desleixo de uma mãe; Joaquim, que eu coloquei no Facebook como símbolo da vida, continuará vivo na memória da sua mãe. Ela, no entanto, carregará a sua imagem estática no tempo, imaginando o que ele poderia ser e o quanto poderia viver, não fosse a sua covardia diante de um crápula, assassino cruel e que, ao que tudo indica, ainda teve ajuda de mais alguém na perpetração desse crime cruel.

Ao narrar os momentos de encontro, ontem, com a pequena e notória ave, tento traspor em palavras o sentimento que me tomou e a todos que estavam comigo ao constatar a coragem da mãe alada em proteger os seus filhos. Coragem essa que, ao que parece, a mãe humana Natália não teve.


Texto: Pedro Paulo de Oliveira.

Imagens: R7 e Site da cidade de Carrancas, Brasil, Minas Gerais.




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O MENINO JOAQUIM




Tenho, com pesar, aqui neste espaço do Redator, insistido em discorrer sobre assuntos que, muitas das vezes, as pessoas não costumam apreciar. a maioria da população gosta de ler sobre fofocas, sobre a provável garota de programa que dormiu com Justin Bieber (um péssimo cantor, produto das gravadoras norte-americanas)que esteve no Brasil e, juntamente com os seus seguranças nos tratou como selvagens. a maioria dos internautas preferem postar, nas redes sociais, fotos das suas festas, dos seus passeios e mandar recados indiscretos ou indiretos para seus desafetos. Claro que todo mundo quer se autopromover. É uma necessidade humana se sobressair sobre seus semelhantes, até como forma de se impor sobre o sexo oposto, fazendo sucesso.


Tudo, no entanto, tem um limite: quando a banalidade e a porcaria se impõem sobre a dignidade, algo passa a não ir bem na sociedade. Quando os donos da comunicação incentivam ritmos loucos, sem pé nem cabeça e letras idiotas em prol do lucro, é por que a sociedade está se degradando. Quando assistimos os programas de televisão, em horário nobre, promovendo baixarias em busca de audiência a qualquer preço, é por que já chegamos ao ápice da idiotice. A baixa cultura ou o culto à bunda grande, coxas grossas, seios "turbinados" e muito músculo espalhado pelo corpo é o que vale. É um vale tudo em busca da fama e do poder. Muitos sucumbem no meio do caminho.


Por essa razão, falar da vida, defender a vida, buscar a vida, não é uma boa escolha. A miséria alheia incomoda, causa asco e a grande maioria não se importa, desde que ela não bata à sua porta.


É uma escolha defender a vida: os inocentes, os miseráveis, os animais, os rios, as matas, o mar, o ar.


Por que o tema deste meu comentário se chama "O MENINO JOAQUIM"? Ora, seguindo o que aconteceu com ele, vendo a sua imagem, tentando entender o que aconteceu com ele, vejo-o como SÍMBOLO DA VIDA. Não quero simplesmente falar de um garoto de 3 anos. Quero que todos reparem no sorrisos dele na imagem.prestem atenção ao que ele segura na mão. É um inseto, uma vida minúscula e que o encanta e o faz sorrir. Ele sabe, ele sente que sobre a sua mão, em completa interação, a pequena vida pulsa e vai voar pelo mundo. O menino Joaquim desapareceu no dia 05 de novembro. Para a Polícia de São Paulo seu padrasto e sua mãe são os principais suspeitos do seu desaparecimento. Não havia mais ninguém na casa na noite em que ele sumiu. Seu padrasto, na noite em questão, disse que saiu para comprar drogas e sua mãe afirmou que dormiu tão pesado que não pode perceber nada de anormal.


Não acredito que essa criança seja encontrada com vida. Quem o levou sabe disso. Contudo, para o seu pai, que clama todos os dias na porta da delegacia por justiça e pela volta e vida do filho, resta, a eterna esperança de um milagre.


Eu já afirmei em ouros comentários, que a crueldade humana não é contemporânea. Houveram tempos negros em tempos não tão emotos e em outros distantes. Coisas terríveis foram feitas, inclusive em nome de Deus e em nome do poder. Mas o que precisamos entender é que chegamos a um nível de compreensão da vida onde não cabem mais covardias por ignorância ou omissão.


Dedico esta matéria em nome da vida, em nome do MENINO JOAQUIM, DESAPARECIDO DESDE O DIA 05 DE NOVEMBRO DE 2013.

Pedro Paulo de Oliveira.

sábado, 2 de novembro de 2013

O MATADOR DE SONHOS - PARA ISABELA



Para Isabela Pavani Castilho, 18 anos, que foi baleada na cabeça na rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos (SP), na noite de terça-feira (29), e que morreu na madrugada deste sábado. Seus órgãos foram doados para que outros sonhos possam continuar vivos



Meus olhos espreitam...

Quero roubar o sonho,
Quero arrancar o sorriso
Quero levar a vida.

Eu não sonho,
Eu não tenho vida,
Miserável que sou
Nas entranhas das trevas
Que me consome,
que me leva.
Eu bebo, eu cheiro
Eu sorvo,
Eu roubo.

Minha alma se perdeu,
não tenho piedade,
não sou filho, não sou pai...
meus irmão se foram...
Esqueci do amor,
perdi o perdão.

Sou o atroz...
Covarde desgraçado!...
Minhas palavras são poucas

Consumidas pelo ópio.
Meu olhar não gosta do seu olhar.
Não me olhe!
Sou o seu juiz
Sou o seu carrasco.

Por quê?
Não me pergunte.
Aprendi a matar,
Sou o espírito das trevas,
Seu desassossego,
Seu terror,
Seu cadafalso,
Sua pena de morte.

Quero matar seu sonho,
Por que não posso sonhar;
Quero sua vida,
Por que não tenho vida.

Hoje, vou caçar
Destroçado pela alucinação...
Pego a estrada,
Escolho a vítima,
Quero tudo que ela tem...
A vítima?...

Não merece viver.
Escuto suas súplicas...
Que idiota!
Eu sou o senhor da vida.

É uma donzela
Seus olhos brilham,
Ela é bonita,
Ela tem sonhos...
Mas seus sonhos não são meus,
Ela me olha nos olhos,
Não gosto, sou escória.
Decido se ela vai viver.

Tenho o poder nas mãos,
Sinto-me excitado...
Comprimo meus dedos,
Escuto a explosão...
A donzela ainda me olha,
Ela chora.
Lágrimas no brilho do olhar que se apaga.

Eu sou o mal encarnado,
a sua desventura...
não cruze o meu caminho,
Não me olhe,
Eu não gosto do seu olhar,
se cruzar o meu caminho
eu levo a sua vida,
eu mato os seus sonhos.


COMENTÁRIOS:

Após ponderar sobre tantas tragédias e tomar conhecimento da morte de Isabela, de forma brutal e covarde, tentei, como escritor, transcrever o que sente um assassino mordaz, cruel e implacável diante das vítimas indefesas. Quero, com isso, mostrar para o mundo, do outro lado, do lado do carrasco, que todas essas mortes foram praticadas de forma covarde e que alguma coisa tem que ser feita para mudar a situação de horror que a nossa sociedade está vivendo. Talvez, com um olhar mais profundo sobre os sentimentos dos algozes, as autoridades possam mudar essa realidade brutal e sanguinária.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: R7

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

RIO DE JANEIRO – A CIDADE E O CRIME - UMA TRAGÉDIA SEM FIM.




O MENINO KAIO

Kaio é um menino brasileiro, carioca da gema - como se diz no Rio de Janeiro para aqueles que nascem na “Cidade Maravilhosa”. Ele tem apenas 8 anos e uma paixão: o futebol. Por isso seu pai o inscreveu para treinar na escolinha do time do Bangu. Alegre e proativo, Kaio logo se destaca entre os atletas mirins do clube. No entanto, seu time do coração é o Vasco da Gama, o mesmo para o qual seu pai torce.

A mãe de Kaio resolveu morar com a mãe e o padrasto até terminar a reforma da própria casa. Ela e o marido trabalham e o Kaio poderia ser cuidado pelos avós de segunda a sexta-feira. Assim, ele estuda pela manhã, almoça e frequenta as aulas de futebol nas terças e quintas-feiras. Juamir é o seu avô e é quem o veste como atleta. Faz questão de amarrar suas chuteiras. Rosane, sua avó é quem o leva para o treino e fica esperando-o até o final.

Bangu é um bairro da periferia do Rio de Janeiro, que mistura o velho e o contemporâneo, formado por casas antigas, edifícios médios e baixos, condomínios populares e construções que abrigam uma população que vai até a classe média alta. Possui amplas avenidas, ruas estreitas e até becos. Nos seus tempos de glória abrigou o famoso Cassino Bangu e o Cine Arte Bangu, prédios que ainda existem até hoje, como referências culturais. A Igreja de Santa Cecília é, também, um dos destaques do bairro, com a sua pintura ferrugem e suas torres pontiagudas. No entanto, os orgulhos parecem ser a antiga Fábrica Bangu que hoje abriga o Bangu Shopping e o Bangu Atlético Clube, onde o pequeno Kaio treina e sonha ser um atleta profissional e famoso. Mas, Bangu também é conhecido nacionalmente pelo seu complexo penitenciário.

Quinta-feira, dia 31 de outubro de 2013. Kaio acorda com a voz da sua vó que o chama:

---- Levanta meu filho, que a Kombi logo logo encosta lá na esquina.

Kaio se espreguiça, abraça o travesseiro, curtindo o melhor momento da cama, que é aquele em que acordamos pela manhã. Olha para Dona Rosane e lhe diz:

---- Já vou levantar vó.

Ela sorri. Sabe que o neto vai permanecer deitado por mais uns cinco minutos. Olha-o com carinho e vai para a cozinha arrumar a mesa com o seu café da manhã. Juamir acabou de chegar trazendo pães fresquinhos e os esparrama sobre uma grande bandeja. O aroma adocicado de pão francês toma conta da copa. Ela olha o marido e diz:

---- Logo, logo minha filha e o Kaio vão voltar pra casa deles.

Juamir dá uma gostosa risada.

---- Sim, mulher. Toda semana você fala isso. Mas, eles sempre virão aqui. Depois, nós iremos lá na casa deles, também. É sempre assim.

Kaio olha para a janela e sente a luz do sol. Será mais um dia na escola e na expectativa de ir para o clube treinar futebol. Imagina-se adulto, jogando pelo Vasco da Gama, no Maracanã lotado, numa tarde de domingo. Ele é o centroavante e joga contra o fluminense. O jogo está empatado e o Vasco precisa da vitória para se classificar. Faltando um minuto para o término do jogo, na altura da grande área, ele recebe um passe de bola alta, mata-a no peito, dribla a zaga adversária, encara o goleiro e chuta no canto esquerdo, marcando o golaço. O Maracanã lotado vibra e grita seu nome. Ele é o herói da tarde. O gol da classificação saiu dos sues pés. O juiz apita o final do jogo e os atletas fazem uma volta olímpica liderados por ele. Na saída do gramado, todos os repórteres querem ouvi-lo e seus pais e seus avós o vêem ao vivo através da televisão. Seus devaneios são interrompidos pela voz da avó que o chama para arrumar, tomar café e ir para a escola.


Kaio recebeu na semana anterior um par de chuteiras novas com o nome do Neymar. Foi seu presente de Natal antecipado. Vai estreá-la no jogo final do campeonato que está participando e os seu time será, com certeza, campeão.

Enquanto toma o café, seu avô lhe diz para não se esquecer de que a escola do estado é tão importante quanto a escola de futebol. Kaio o escuta com atenção. No entanto, gosta mais da escola de futebol. É um sentimento que não consegue mudar. Come pão com manteiga, toma café com leite e se levanta apressado. Já está quase na hora da perua escolar passar. Coloca a mochila nas costas e segue com o seu avô até o ponto. A perua chega e Juamir despede-se do neto. A Kombi desaparece na esquina e Juamir sente um aperto no coração. É um avô muito novo, com apenas 42 anos e tem aquele menino como seu filho, parte inseparável da sua vida, um amor em continuação, sem medida. Sonha, com ele, o sonho de atleta, de jogador de futebol e sabe, sente que isso pode ser possível.

Na sala de aula, Kaio copia as matérias e pensa nos treinos no Clube. Durante o recreio, ele junta os colegas em torno de si e lhes fala dos treinos e dos jogos do campeonato que está participando e que o seu time vai ser campeão.

Depois da aula, já em casa, ele almoça avidamente a comida feita por Dona Rosane.

---- Está uma delícia, vó. Sua comida é a melhor do mundo.

Dona Rosane sorri satisfeita. Ela é a típica dona casa brasileira, que tem na cozinha seu ateliê de arte. É na cozinha que Rosane prepara o arroz, o feijão, o frango, o macarrão e as verduras com habilidades inigualáveis.

---- É preciso paciência para se cozinhar bem. – Diz ela quando reclamam que a comida está demorando a sair.


Assim que termina a refeição, Kaio pede autorização para usar o computador e vai para o seu quarto brincar com o seu jogos preferido: futebol. Quando o sono o pega, ele tira um cochilo até o momento quem que Juamir o acorda e lhe diz que está na hora de ir para o clube. Ele se levanta correndo, veste o uniforme vermelho e Juamir ajuda-o a amarrar as chuteiras. Metido no uniforme, Kaio se sente um gigante. Na sala sua avó o espera. É ela quem vai leva-lo até o clube.

No caminho para o treino, eles passam pelo Fórum de Bangu. Rosane olha o prédio ladeado por grades e pensa que lá dentro tem juízes que decidem sobre a liberdade e a prisão. Mas, afasta os pensamentos e logo chegam ao clube. Ela entra com o neto, vai até o bebedouro, sacia a sede e se senta um tanto cansada.

Kaio, inspirado, recebe as instruções do professor e mostra tudo que sabe de melhor do futebol em campo. Mostra habilidade, grita com os colegas, pede passe. O professor grita para que eles mantenham as posições e chutem com mais presteza. Ele escuta e assimila os ensinamentos. O técnico, Luiz Manoel, o olha com orgulho. Sabe que ele será um futuro atleta profissional de destaque.


OS CRIMINOSOS


Alexandre é um bandido conhecido pela alcunha de Piolho. Está preso no Presídio de Bangu desde 2012 apontado como chefe do tráfico do Morro do Dezoito, uma das favelas do Rio de Janeiro. Vanderlan é outro fora da lei que atende pelo apelido de Chocolate e está preso, também, no Presídio de Bangu, e é apontado como chefe do tráfico em Belfort Roxo, Baixada Fluminense. O que eles têm em comum? Pesa sobre eles acusações de associação para o tráfico, homicídios, formação de quadrilha e roubo.

Quinta-feira, aproximadamente 14 horas. Piolho e Chocolate deixam o presídio na direção do Fórum. Ambos vão prestar depoimento em uma audiência marcada pelo Tribunal de Justiça. Esta audiência não foi publicada por questões de segurança. Escoltados por agentes penitenciários e policiais fortemente armados, os dois bandidos são conduzidos para o interior do Fórum. A sala de audiências está fechada e eles são colocados em cadeiras para aguardar. Estão algemados e silenciosos. Seus olhos parecem fitar o nada. Chocolate está ansioso. Falará, na audiência, como testemunha.

A Rua 12 de Fevereiro, onde fica o Fórum está com o seu trânsito agitado nesta tarde. O sinal fica vermelho. Dois carros invadem a rua e fecham-na. Quatro homens encapuçados, armados com fuzis e pistolas automáticas saem dos carros e gritam para que ninguém movimente os veículos ou saia dos seus interiores. Enquanto isso, mais oito homens fortemente armados invadem o fórum. Uma viatura da Polícia Militar surge no sentido do Fórum e os homens que fecham a rua começam a atirar na sua direção. Os policiais descem, se protegem e revidam. Os pedestres correm apavorados; os carros são alvejados; e os seus ocupantes se abaixam protegendo-se da saraivada de balas.

No interior do Fórum, os oito bandidos encapuçados entram atirando e gritando que querem levar O piolho e o Chocolate. Eles são recebidos à bala pelos seguranças do Fórum e por alguns policiais que correm desordenados, pegos de surpresa. Sem conseguirem resgatar seus alvos, os bandidos se escondem atrás das pilastras e das paredes do Fórum. Continuam a atirar desvairadamente.

Rosane deixou o Clube faz algum tempo. Está tentando atravessar a Rua 12 de Fevereiro segurando Kaio pela mão. De repente ela percebe uma movimentação estranha e pessoas gritando no meio do trânsito. Sente um calafrio cortar sua espinha. Seu coração dispara. Aperta a mão do neto que levanta a cabeça e a olha sem entender o que está acontecendo. Tudo, num instante, vira um pandemônio, as pessoas correndo, chorando, se escondendo. Os estampidos se sucedem num crescendo sem fim. Ela sente um silvo passar pela sua orelha. Passa a mão e sente que o estilhaço de algo a feriu. Ela se vira para Kaio que a puxa para baixo.

---- Vamos correr e nos esconder. – Diz ela.


Kaio solta a mão da avó e só então ela percebe que ele foi alvejado por um tiro. Ela se ajoelha e o ampara nos braços. Seu instinto de mãe e avó lhe diz que a vida e o sonho de Kaio terminaram. Ela tenta escutar seu coração e sente sua respiração. Mas o pequeno corpo está inerte.


CONCLUSÃO

Juamir declarou que “mataram o sonho de Kaio”. É verdade. Uma “bala perdida”, se é que existem balas perdidas em situações de conflito armado, tal como o que ocorreu em Bangu, tirou a vida de um garoto que sonhava muito e tinha razão para sonhar, pois seus sonhos tinham asas e sentido. Seu técnico investia nele, acreditava nele e, ao vê-lo sem vida, desfaleceu. “Amarrei a chuteira dele e dei um beijo nele”, desabafou Juamir na porta do Instituto Médico Legal.

No conflito morreram um policial e uma mulher. Outra vítima foi internada e passou por uma cirurgia. Os bandidos não conseguiram resgatar os chefes do tráfico do Morro do Dezoito e de Belfort Roxo. Fica, no entanto, uma pergunta: até quando viveremos essa guerrilha urbana no Brasil? Até quando a população simples e inocente continuará morrendo, vítima dos bandidos e da inoperância do estado?

Quando, numa guerra, começam a morrer inocentes em demasia, é por que está na hora de um dos lados do conflito mudar suas estratégias.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: Jadson Marques

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