Para conhecermos melhor a figura política de Aécio Neves, é interessante
que falemos um pouco de seu avô Tancredo Neves. Tancredo, o homem de
São João Del Rei, que na campanha política para o governo de Minas, na
década de 80, gostava de receber seus correligionários e apoiadores no
Solar dos Neves, foi um dos políticos mais astutos da história do
Brasil. Basta examinarmos os fatos ocorridos quando da posse de João
Goulart para termos essa certeza: Os militares não aceitavam que “Jango”
assumisse a presidência da república, sendo vice de Jânio quadros – que
havia renunciado sob pressão após homenagear Che Guevara -. Foi então
que apareceu, como que por encanto, a figura de Tancredo Neves sendo
indicado pelo Congresso como uma “espécie de primeiro ministro” para
garantir a posse de Jango. Os militares, de uma hora para outra,
misteriosamente, aceitaram a indicação. Só que Jango era um homem
comprometido com as reformas sociais e com as liberdades. Não demorou e,
em 31 de março de 1964, os militares voltaram à tona, com o apoio
explícito dos Estados Unidos, depuseram Jango e assumiram o poder. E o
Doutor Tancredo? (assim gostavam de chama-lo seus mais íntimos amigos).
Ora, mesmo fazendo parte do governo, saiu incólume e protegido
estranhamente pelos militares, juntamente com outra raposa mineira
chamada Magalhães Pinto que apoiou abertamente o golpe militar e,
depois, viria a ser um dos maiores banqueiros do Brasil, dono do Banco
Nacional (o banco do guarda chuva, lembram-se?).
A ditadura perdurou por mais de 20 anos. Nesse período, muitos políticos
foram cassados, exilados, torturados e mortos. Tancredo Neves, contudo,
permaneceu blindado e, quando a ditadura começou a apodrecer, com o
Brasil enfiado numa dívida externa de mais de 150 bilhões de dólares,
inflação descontrolada, desemprego em alta, violência nas ruas por conta
da corrupção nas polícias que foram deturpadas pela ditadura, ele
apareceu de forma mais contundente como uma espécie de salvador da
pátria. Como eterno membro do Congresso, era deputado pelo MDB,
juntamente com Ulisses Guimarães e outras raposas da república que eram
toleradas pelos militares para que o Brasil parecesse um país onde havia
democracia. Nos início dos anos 80 ele sai do Movimento Democrático
Brasileiro - MDB e fundou o Partido Popular – PP. Qual era a sua ideia
com isso? Ele queria se tornar o grande líder, mostrando ao povo que
empunhava a bandeira de salvação da pátria. Com um brilhante apoio da
mídia – em especial dos jornais da família Marinho, entre outros, ele
conseguiu seu intento.
Pouco tempo depois, noutra manobra de mestre nas artes da política, ele
se uniu, novamente, a Ulisses Guimarães e fundaram o Partido do
Movimento Democrático Brasileiro – PMDB. O que estava por trás dessa
manobra? Resposta: Chegar ao Governo de Minas Gerais, disputando, depois
de muitos anos, os votos com o candidato, ainda dos Militares, Eliseu
Resende. Venceu a eleição, tendo Hélio Garcia como seu vice. Notem que
Hélio Garcia era homem de confiança dos militares. Nunca havia disputado
uma eleição e sua carreira de político se iniciou como Prefeito Biônico
de Belo Horizonte durante a ditadura militar.
Como Governador de Minas Gerais, Tancredo e os seus apoiadores (todo o
ninho de raposas do PMDB, empresários da Andrade Gutierres e outras
grandes empreiteiras, agências de publicidades, Bancos e produtores
rurais, em especial aqueles do Triângulo Mineiro ligados ao ex-senador
Ronan Tito), começaram a se articular pensando na eleição para
presidente da republica, baseada na “abertura lenta” e na “anistia geral
e irrestrita” proposta pelos militares.
Tancredo, contudo, pensava em algo mais. Alguma coisa o incomodava por
demais e essa sua preocupação era nítida, inclusive nas reuniões no
Solar dos Neves, em São João Del Rei. Ele precisava forjar um herdeiro
político e o seu filho Tancredo Augusto, por mais que ele insistisse,
não mostrava vocação para percorrer com desenvoltura os meandros do
poder e os corredores dos palácios. Foi, então, que ele percebeu no
adolescente Aécio Neves, recém chegado do Rio de Janeiro, seu Neto, a
capacidade para herdar seu legado. Nomeou-o seu secretário particular,
fundou o PMDB Jovem e tratou de coloca-lo como presidente nacional da
agremiação.
Para felicidade do avô, o neto mostrava vocação para a política, apesar
de estar sempre nas rodas de fofoca, acusado de cheirar cocaína, fumar
maconha, beber em excesso e se meter com mulheres de todo tipo com os
seus amigos de São João Del Rei, de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.
Mas, a marca Neves superava e abafava esses comentários.
Tancredo e o PMDB lideraram a campanha pelas eleições diretas lá pelos
idos de 1984 – a famosa Campanha pelas "Diretas Já". Os militares não
aceitaram o pleito pelo voto do povo e a eleição ocorreu de forma
indireta, sendo que Tancredo, tendo Sarney de vice, sagrou-se presidente
da república, eleito pelos membros do Congresso Brasileiro da época. No
entanto, Tancredo não chegou a assumir o Governo. Foi, estranhamente,
acometido de uma diverticulite, agonizou por vários dias e,
coincidentemente, morreu no dia 21 de abril de 1985, após ser empossado
para que se legalizasse a posse do vice.
Com a morte do avô, Aécio tornou-se o único herdeiro político da Família
Neves. A morte do avô, naquele momento alavancou sua careira. Dona
Risoleta Neves, sua avó, tratou de ajuda-lo, sempre o incorporando à
figura do avô. Aécio elegeu-se, então, Deputado Federal por quatro
mandatos consecutivos, formou-se em economia e, por essa época, tinha
declarado um patrimônio de pouco mais de R$100.000,00. Foi nesse tempo
que ele começou a formar seu império de comunicação recebendo
autorizações bondosas do Governo federal para funcionar rádios em
diversas cidades de Minas Gerais.
Aécio, enfim, seguindo os passos do avô, elegeu-se governador de Minas
Gerais. Por esse tempo, seu patrimônio declarado já estava em mais de
800 mil reais. Contudo, já pesava sobre ele suspeitas de envolvimento
com as empreiteiras Andrade Gutierres e Camargo Correia. Sua fortuna não
parou mais de crescer, tendo-o como participante em várias empresas que
enviam recursos para os paraísos fiscais e sob investigação do
Ministério Público.
Recentemente Aécio adquiriu, por mais de 12 milhões de reais, o
apartamento que foi de seu avô em Copacabana, no Rio de Janeiro, no
mesmo prédio onde mora o dono do Unibanco, também investigado por
suspeita de envolvimento nas remessas ilegais de dinheiro para o
exterior, onde Aécio também é investigado. Outras questões escabrosas
colocam Aécio Neves na mira do Ministério Público, entre elas está a
construção do Mineroduto que levará o minério de ferro de minas Gerais
até o Porto do Rio de Janeiro e a venda de Nióbio, onde o Unibanco é o
intermediário, e o preço recebido pelo estado está muito abaixo do real.
O que o Ministério Público tem questionado e investigado é como que um
homem que viveu toda a sua vida de política pode ter acumulado tamanha
fortuna, com um patrimônio imobiliário de dar inveja em qualquer Hélio
Garcia que era dono de empresa do ramo juntamente com o Deputado
federal, à época, José Ulisses.
Aécio Neves, senador da república, para garantir seu poder, assumiu, a
presidência do PSDB, atropelando José Serra. Faz tempo, desde a sua
fundação, a direção do partido dos tucanos, estava em São Paulo. O
herdeiro de Tancredo, como raposa, comanda os pássaros de bico grande à
sua maneira, impondo seu estilo maneiro de fazer política e batendo de
leve na Presidente Dilma. Qual a sua intenção por trás dessas manobras? A
primeira delas, com certeza, é consolidar seu poder perante os tucanos e
o Brasil; a segunda, é blindar-se perante a justiça (quanto mais
poderoso, mais intocável); a terceira, é para manter-se como o grande
líder dos mineiros; e a quarta, é visando a presidência da república, se
ele sentir (veja bem...) que existe e mínima possibilidade de vencer a
Presidente Dilma. No contrário, ele será, com certeza, candidato a
governador dos mineiros.
Não se enganem, contudo, os incautos que pensam que Aécio Neves é um
líder por acaso. Por trás dele estão grandes corporações (bancos e
empreiteiras). E quando se fala em bancos e empreiteiras, fala-se,
também, de muito dinheiro em jogo.
Opinião final: Lamentavelmente, no Brasil, ainda persistem e existem as
raposas no poder, transitando pelo Executivo, Legislativo e judiciário.
Enquanto essas raposas forem maioria, em especial no Congresso Nacional,
o Brasil continuará sendo um país de caudilhos.
Pedro Paulo de Oliveira
Acadêmico de Direito pelo IPTAN - Palestrante, escritor e Consultor Legislativo
OPINIÃO ATUALIZADA DO REDATOR:
Ontem, dia 14 de Outubro de 2014, Aécio Neve, candidato, enfim, consolidado das forças contra o domínio do Partido dos Trabalhadores (diga-se Lula e seus "companheiros e companheiras"), postou-se lado a lado com Dilma Rousseff. Ora, tal como postado na matéria acima, Aécio, como raposa ( tal como o foi seu avô Tancredo Neves) soube se aproveitar das fraquezas de Marina e dos seus apoiadores ( Natura, Banco Itau, Capital especulativo externo que defende o meio ambiente e, na verdade, quer obter muito lucro). No embate, cheio de mágoas, entre Marina Silva e Dilma (PT), Aécio se portou como opção de oposição ao poder vigente e já desgastado, queira ou não aqueles que querem a continuação do atual governo. Aécio cresceu, malandramente, pelas beiradas, ou seja, na fraqueza e no despreparo de Marina Silva para ser uma real candidata para vencer o PT.
O intento de Aécio, desde que foi forjado na adolescência, era chegar onde chegou. Conseguiu para surpresa de muitos caudilhos de bicos grandes e amarelos. As circunstâncias ajudaram-no? sim. Se Eduardo Campos não tivesse morrido seria ele que estaria disputando o segundo turno com Dilma? Acredito que não, pois Dilma venceria no primeiro turno.
No debate de ontem promovido pela TV Bandeirantes, os dois candidatos se propuseram um ataque mutuo. Uma enxurrada de acusações de ambas as partes tomou todo o debate. Aécio tentou, de todas as formas, se mostrar como um candidato incólume. Não conseguiu e a sua história política prova o contrário. Deixou a desejar no governo de Minas, como Presidente da Câmara e tem muitas perguntas a responder para o povo brasileiro no tocante à sua fortuna pessoal.
No tocante à política, Aécio Neves é o candidato de um grupo que está fora do poder desde que Fernando Henrique deixou a Presidência da República e Lula derrotou Serra pela primeira vez. Não se enganem os incautos achando que Marina Silva o apoia de coração e com gosto. Ela tem uma mágoa profunda contra o PT e quer se vingar. além do mais, todos sabemos que a Natura tem horror ao PT. Assim, Aécio Neves não passa de um Candidato forjado pela oligarquia política que governou o país desde que os militares entregaram o poder em 1984 até a entrada de Lula pela primeira vez.
Pedro Paulo de Oliveira
Acadêmico de Direito pelo IPTAN - Palestrante, escritor e Consultor Legislativo