NÃO ME APEGO AOS BENS MATERIAIS, POIS NÃO PODEREI LEVÁ-LOS PARA ONDE EU FOR NO FINAL DA MINHA VIDA.
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
O PERFIL DE MARCO ARCHER POR UM JORNALISTA QUE CONVERSOU COM ELE POR 4 DIAS NA PRISÃO
SERÁ QUE MARCO ARCHER FOI MESMO UMA VÍTIMA DO SISTEMA OU UM TEIMOSO TRAFICANTE QUE INSISTIU EM TRAFICAR ATÉ SER PEGO?
Marco Archer olhou para a garrafa de uísque Chivas sobre a mesa envernizada, esticou o braço pegou-a e colocou mais uma dose no copo de plástico e pensou: "Que merda! Beber uísque num copo de plástico!". Seus amigos haviam levado maconha para ele fumar e a mistura do álcool com haxixe estava lhe dando onda. Sorveu o líquido com avidez e comeu o resto do doce de leite que a sua tia lhe havia levado mais cedo. Enfim, os guardas chegaram e um deles lhe perguntou na língua local, se estava tudo bem. Marcos apenas balançou a cabeça afirmativamente. Uma réstia de esperança de que pudesse ser perdoado ainda morava em seu coração. Quem sabe eles não transformavam a sua pena capital em prisão perpétua?
A sala fria e silenciosa e doze soldados armados com fuzis esperavam a chegada do condenado. Marco entrou em silêncio. Toda a sua vida, como num filme, transcorria em cenas rápidas na sua mente: carros de luxo, belas mulheres, drogas, viagens, praias paradisíacas, hotéis cinco estrelas e a emoção de traficar pelo mundo. O silêncio foi quebrado pelo som das armas sendo engatilhadas. Um frio intenso cortou sua barriga. Como seria depois da morte? O nada? Ou teria que prestar contas para algum ser em algum lugar?
As explosões e os impactos dos projéteis sobre o peito.
Pedro Paulo de Oliveira.
Especialista em História, Estudante de Direito, Escritor.
O REPÓRTER RENAN ANTUNES DE OLIVEIRA ENTREVISTOU MARCO ARCHER EM 2005, NUMA PRISÃO NA INDONÉSIA. ABAIXO, SEU RELATO:
O CARIOCA MARCO ARCHER CARDOSO MOREIRA VIVEU 17 ANOS EM IPANEMA, 25 TRAFICANDO DROGAS PELO MUNDO E 11 EM CADEIAS DA INDONÉSIA, ATÉ MORRER FUZILADO, AOS 53, NESTE SÁBADO (17), POR SENTENÇA DA JUSTIÇA DESTE PAÍS MUÇULMANO.
Durante quatro dias de entrevista em Tangerang, em
2005, ele se abriu para mim: "Sou traficante, traficante e traficante, só
traficante".
Demonstrou até uma ponta de orgulho: "Nunca
tive um emprego diferente na vida". Contou que tomou "todo tipo de
droga que existe".
Naquela hora estava desafiante, parecia acreditar
que conseguiria reverter a sentença de morte.
Marco sabia as regras do país quando foi preso no aeroporto
da capital Jakarta, em 2003, com 13,4 quilos de cocaína escondidos dentro dos
tubos de sua asa delta. Ele morou na ilha indonésia de Bali por 15 anos, falava
bem a língua bahasa e sentiu que a parada seria dura.
Tanto sabia que fugiu do flagrante. Mas acabou
recapturado 15 dias depois, quando tentava escapar para o Timor do Leste. Foi
processado, condenado, se disse arrependido. Pediu clemência através de Lula,
Dilma, Anistia Internacional e até do papa Francisco, sem sucesso. O
fuzilamento como punição para crimes é apoiado por quase 70% do povo de lá.
Na mídia brasileira, Marco foi alternadamente
apresentado como "um garoto carioca" (apesar dos 42 anos no momento
da prisão), ou "instrutor de asa delta", neste caso um hobby
transformado na profissão que ele nunca exerceu.
Para Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, o outro
brasileiro condenado por tráfico, que espera fuzilamento para fevereiro,
companheiro de cela dele em Tangerang, "Marco teve uma vida que merece ser
filmada".
Rodrigo até ofereceu um roteiro sobre o amigo à
cineasta curitibana Laurinha Dalcanale, exaltando: "Ele fez coisas
extraordinárias, incríveis."
O repórter pediu um exemplo: "Viajou pelo
mundo todo, teve um monte de mulheres, foi nos lugares mais finos, comeu nos
melhores restaurantes, tudo só no glamour, nunca usou uma arma, o cara é
demais."
Para amigos em liberdade que trabalharam para
soltá-lo, o que aconteceu teria sido "apenas um erro" do qual ele
estaria arrependido.
Na versão mais nobre, seria a tentativa desesperada
de obter dinheiro para pagar uma conta de hospital pendurada em Cingapura -
Marco estaria preocupado em não deixar o nome sujo naquele país. A conta
derivou de uma longa temporada no hospital depois de um acidente de asa delta.
Ter sobrevivido deu a ele, segundo os amigos, um incrível sentimento de
invulnerabilidade.
Ele jamais se livrou das sequelas. Cheio de pinos
nas pernas, andava com dificuldade, o que não o impediu de fugir
espetacularmente no aeroporto quando os policiais descobriram cocaína em sua
asa delta.
Arriscou tudo ali. Um alerta de bomba reforçara a
vigilância no aeroporto. Ele chegou a pensar em largar no aeroporto a cocaína
que transportava e ir embora, mas decidiu correr o risco.
Com sua ficha corrida, a campanha pela sua
liberdade nunca decolou das redes sociais. A mãe dele, dona Carolina, conseguiu
o apoio inicial de Fernando Gabeira, na Câmara Federal, com voto contra de Jair
Bolsonaro.
O Itamaraty e a presidência se mexeram cada vez que
alguma câmera de TV foi ligada, mesmo sabendo da inutilidade do esforço.
Mesmo aparentemente confiante, ele deixava
transparecer que tudo seria inútil, porque falava sempre no passado, em tom
resignado: "Não posso me queixar da vida que levei".
Marco me contou que começou no tráfico ainda na
adolescência, diretamente com os cartéis colombianos, levando coca de Medellín
para o Rio de Janeiro. Adulto, era um dos capos de Bali, onde conquistou fama
de um sujeito carismático e bem humorado.
A paradisíaca Bali é um dos principais mercados de
cocaína do mundo graças a turistas ocidentais ricos que vão lá em busca de uma
vida hedonista: praias deslumbrantes, droga fácil, farta - e cara.
O quilo da coca nos países produtores, como Peru e
Bolívia, custa 1 000 dólares. No Brasil, cerca de 5 000. Em Bali, a mesma coca
é negociada a preços que variam entre 20 000 e 90 000 dólares, dependendo da
oferta. Numa temporada de escassez, por conta da prisão de vários traficantes,
o quilo chegou a 300 000 dólares.
Por ser um dos destinos prediletos de surfistas e
praticantes de asa delta, e pela possibilidade de lucros fabulosos, Bali atrai
traficantes como Marco. Eles se passam por pessoas em busca de grandes ondas, e
costumam carregar o contrabando no interior das pranchas de surf e das asas
deltas. Archer foi pego assim. Tinha à mão, sempre que desembarcava nos
aeroportos, um álbum de fotos que o mostrava voando, o que de fato fazia.
O homem preso por narcotráfico passou a maior parte
da entrevista comigo chapado. O consumo de drogas em Tangerang era uma
banalidade.
Pirado, Marco fazia planos mirabolantes - como
encomendar de um amigo carioca uma nova asa, para quando saísse da cadeia.
Nos momentos de consciência, mostrava que estava
focado na grande batalha: "Vou fazer de tudo para sair vivo desta"
.
Marco era um traficante tarimbado: "Nunca fiz
nada na vida, exceto viver do tráfico." Gabava-se de não ter servido ao
Exército, nem pagar imposto de renda. Nunca teve talão de cheques e ironizava
da única vez numa urna: "Minha mãe me pediu para votar no Fernando Collor".
A cocaína que ele levava na asa tinha sido comprada
em Iquitos, no Peru, por 8 mil dólares o quilo, bancada por um traficante
norte-americano, com quem dividiria os lucros se a operação tivesse dado certo:
a cotação da época da mercadoria em Bali era de 3,5 milhões de dólares.
Marco me contou, às gargalhadas, sua "épica
jornada" com a asa cheia de drogas pelos rios da Amazônia, misturado com
inocentes turistas americanos. "Nenhum suspeitou". Enfim chegou a
Manaus, de onde embarcou para Jakarta: "Sair do Brasil foi moleza, nossa
fiscalização era uma piada".
Na chegada, com certeza ele viu no aeroporto
indonésio um enorme cartaz avisando: "Hukuman berta bagi pembana
narkotik'', a política nacional de punir severamente o narcotráfico.
"Ora, em todo lugar do mundo existem leis para
serem quebradas", me disse, mostrando sua peculiar maneira de ver as
coisas:"Se eu fosse respeitar leis nunca teria vivido o que vivi"
.
Ele desafiou o repórter:" Você não faria a
mesma coisa pelos 3,5 milhões de dólares "?
Para ele, o dinheiro valia o risco:" A venda
em Bali iria me deixar bem de vida para sempre "- na ocasião, ele não
falou em contas hospitalares penduradas.
Marco parecia exagerar no número de vezes que
cruzou fronteiras pelo mundo como mula de drogas:" Fiz mais de mil gols
". Com o dinheiro fácil manteve apartamentos em Bali, Hawai e Holanda,
sempre abertos aos amigos:" Nunca me perguntaram de onde vinha o dinheiro
pras nossas baladas ".
Marco guardava na cadeia uma pasta preta com fotos
de lindas mulheres, carrões e dos apartamentos luxuosos, que seriam aqueles
onde ele supostamente teria vivido no auge da carreira de traficante.
Num de seus giros pelo mundo ele fez um cursinho de
chef na Suíça, o que foi de utilidade em Tangerang. Às vezes, cozinhava para o
comandante da cadeia, em troca de regalias.
Eu o vi servindo salmão, arroz à piemontesa e leite
achocolatado com castanhas para sobremesa. O fornecedor dos alimentos era
Dênis, um ex-preso tornado amigão, que trazia os suprimentos fresquinhos do
supermercado Hypermart.
Marco queria contar como era esta vida"
fantástica "e se preparou para botar um diário na internet. Queria
contratar um videomaker para acompanhar seus dias. Negociava exclusividade na
cobertura jornalística, queria escrever um livro com sua experiência - o que
mais tarde aconteceu, pela pena de um jornalista de São Paulo. Um amigo prepara
um documentário em vídeo para eternizá-lo.
Foi um dos personagens de destaque de um bestseller
da jornalista australiana Kathryn Bonella sobre a vida glamurosa dos
traficantes em Bali - orgias, modelos ávidas por festas e drogas depois de
sessões de fotos, mansões cinematográficas.
Diplomatas se mexeram nos bastidores para tentar
comprar uma saída honrosa para Marco. Usaram desde a ajuda brasileira às
vítimas do tsunami até oferta de incremento no comércio, sem sucesso. Os
indonésios fecharam o balcão de negócios.
O assessor internacional de Dilma, Marco Aurélio
Garcia, disse que o fuzilamento deixa"uma sombra"nas relações
bilaterais, mas na lateral deles o pessoal não tá nem aí.
A mãe dele, dona Carolina, funcionária pública
estadual no Rio, se empenhou enquanto deu para livrar o 'garotão' da enrascada,
até morrer de câncer, em 2010.
As visitas dela em Tangerang eram uma festa para o
staff da prisão, pra quem dava dinheiro e presentes, na tentativa de aliviar a
barra para o filhão.
Com este empurrão da mamãe Marco reinou em
Tangerang, nos primeiros anos - até ser transferido para outras cadeias, à
espera da execução.
Eu o vi sendo atendido por presos pobres que lhe
serviam de garçons, pedicures, faxineiros. Sua cela tinha TV, vídeo, som,
ventilador, bonsais e, melhor ainda, portas abertas para um jardim onde ele
mantinha peixes num laguinho. Quando ia lá, dona Carola dormia na cama do
filho.
Marco bebia cerveja geladinha fornecida por chefões
locais que estavam noutro pavilhão. Namorava uma bonita presa conhecida por
Dragão de Komodo. Como ela vinha da ala feminina, os dois usavam a sala do
comandante para se encontrar.
A malandragem carioca ajudou enquanto ele teve
dinheiro. Ele fazia sua parte esbanjando bom humor. Por todos os relatos de
diplomatas, familiares e jornalistas que o viram na cadeia de tempos em tempos,
Marco, apelidado Curumim em Ipanema, sempre se mostrou para cima. E mantinha a
forma malhando muito.
Para ele, a balada era permanente. Nos últimos anos
teve várias mordomias, como celular e até acesso à internet, onde postou
algumas cenas.
Um clip dele circulou nos últimos dias - sempre
sereno, dizendo-se arrependido, pedindo a segunda chance:" Acho que não
mereço ser fuzilado ".
Marco chegou ao último dia de vida com boa
aparência, pelo menos conforme as imagens exibidas no Jornal Hoje, da Globo.
Mas tinha perdido quase todos os dentes em sua temporada na prisão, como
relatou a jornalista e escritora australiana. No Facebook, ela disse guardar
boas recordações de Archer, e criticou a" barbárie "do fuzilamento.
Numa gravação por telefone, ele ainda dava
conselhos aos mais jovens, avisando que drogas só podem levar à morte ou à
prisão.
Sua voz estava firme, parecia esperar um milagre,
mesmo faltando apenas 120 minutos pra enfrentar o pelotão de fuzilamento - a se
confirmar, deixou esta vida com o bom humor intacto, resignado.
Sabe-se que ele pediu uma garrafa de uísque Chivas
Regal na última refeição e que uma tia teria lhe levado um pote de
doce-de-leite.
O arrependimento manifestado nas últimas horas pode
ser o reflexo de 11 anos encarcerado. Afinal, as pessoas mudam. Ou pode ter
sido encenação. Só ele poderia responder.
Para mim, o homem só disse que estava arrependido
de uma única coisa: de ter embalado mal a droga, permitindo a descoberta pela
polícia no aeroporto.
" Tava tudo pronto pra ser a viagem da minha
vida ", começou, ao relatar seu infortúnio.
Foi assim: no desembarque em Jakarta, meteu o
equipamento no raio x. A asa dele tinha cinco tubos, três de alumínio e dois de
carbono. Este é mais rijo e impermeável aos raios:" Meu mundo caiu por
causa de um guardinha desgraçado ", reclamou.
"O cara perguntou 'por que a foto do tubo saía
preta'? Eu respondi que era da natureza do carbono. Aí ele puxou um canivete,
bateu no alumínio, fez tim tim, bateu no carbono, fez tom tom".
O som revelou que o tubo estava carregado,
encerrando a bem-sucedida carreira de 25 anos no narcotráfico.
Marco ainda conseguiu dar um drible nos guardas.
Enquanto eles buscavam as ferramentas, ele se esgueirou para fora do aeroporto,
pegou um prosaico táxi e sumiu. Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no
arquipélago indonésio passou sua última noite em liberdade num barraco de
pescador, em Lombok, a poucas braçadas de mar da liberdade.
Acordou cercado por vários policiais, de armas
apontadas. Suplicou em bahasa que tivessem misericórdia dele.
No sábado, enfrentou pela última vez a mesma
polícia, mas desta vez o pessoal estava cumprindo ordens de atirar para matar.
Foi o fim do Curumim.
JUSBRASIL
Fonte: DCM
Folha Política
www.folhapolitica.org
A GUERRA SANTA? O OCIDENTE É SANTO? O ATENTADO NA FRANÇA.
ATENTADO NA FRANÇA, O ABSURDO DAS MORTES ANUNCIADAS.
Quando se publica uma matéria
sobre uma questão tão delicada quanto atentados terroristas e, no caso em
questão, na França e que vitimou Georges Wolinsk, parece que o comentaristas de
plantão, na sua maioria idiotas que fazem críticas sem sentido, se acovardam e
se escondem na sua hipocrisia.
O que aconteceu na França deveria servir como alerta para a questão cultural, plural e equivocada no mundo contemporâneo, e a liberdade de poder se expressar sem ferir o orgulho alheio. Georges Wolinsk e seus amigos mortos nesse atentado sabiam do perigo que corriam (se não sabiam, eram idiotas). Ao publicar charges cômicas sobre o Profeta Maomé eles, na verdade, estavam criticando todo um sistema (pelo menos assim pensavam) e os movimentos islâmicos não perdoam esse tipo de ação. Assim, Wolinski, Charb, Chabou e Tignous, ao serem mortos, estavam cientes da sua condição de inimigos da causa islâmica.
A cultura francesa perde com essas mortes? Claro que sim. Mas quem perde mais com esse atentado, que pegou as autoridades francesas de calças curtas, é o mundo e a paz. A guerra entre o Ocidente e o Oriente parece não ter fim e ganha novos ingredientes a cada dia, como um bolo em que se coloca fermento demais e, depois de assado, não serve mais para comer.
O mundo islâmico está fervilhando
de protestos e olha que não é de pouca gente: passa dos milhões. Esses
protestos vão passar? Claro que sim. São endêmicos e representam a comoção do
momento. Mas o terrorismo, cria do próprio Ocidente, só tende a crescer e a
fazer novas vítimas. O temido Estado Islâmico agora, além de sequestrar, julgar
sumariamente e executar com requintes de crueldade, resolveu pedir resgate em
troca de algumas vítimas. Onde vai parar essa sanha por vingança de uma gente
que acredita na Guerra Santa e que os governantes ocidentais acreditam que vão
vencer? Como eles estão enganados.
Será que o Ocidente nunca vai compreender que não se faz amigos com desrespeito às tradições alheias e sobre o açoite?
Será que o Ocidente nunca vai compreender que não se faz amigos com desrespeito às tradições alheias e sobre o açoite?
Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Especialista em História, Estudante de Direito, Palestrante e Consultor Legislativo e Executivo.
ABAIXO, TRANSCREVO TEXTO ELABORADO COM EXTREMA MAESTRIA, POR LEONARDO SARMENTO, SOBRE O MESMO TEMA, ONDE O AUTOR COMPARA A COMOÇÃO CAUSADA PELAS MORTES NA FRANÇA COM O DESCASO COM RELAÇÃO AOS MASSACRES RECENTES OCORRIDOS NA NIGÉRIA.
Trataremos de assuntos extremamente delicados e
controversos onde a esfera racional por variados instantes cede espaço para que
a esfera da emoção se faça prevalecer. Até para nós, estudiosos do direito, há
inelutável dificuldade para se emprestar uma análise cognitiva que se mostre
satisfativa. O artigo divide-se em duas temáticas distintas, mas
complementares.
Neste momento é que os métodos de Alexy e Dworkin
parecem falhos, quando inferimos a necessidade de sopesarmos, ponderarmos bens
tuteláveis de tão expressivo valor e realidades, mas o direito não pode se
acabrunhar e deve viabilizar uma decisão interpretativa que na maior medida
possível mostre-se aproximada da justiça e da equidade.
Pelo menos 400 pessoas morreram na Nigéria em um
novo ataque supostamente cometido pela seita radical islâmica Boko Haram no
estado de Borno, no norte da Nigéria nos primeiros meses de 2014. Você que leu
esta notícia hoje, lembra de tê-la visto nos noticiários? Lembra-se, por
quantos dias? Com que perplexidade?
Pois no final da 2ª quinzena de janeiro de 2015
(dia 12), a Organização Humanitária Anistia Internacional calcula que cerca de
2.000 pessoas foram chacinadas pela mesma seita de extremistas islâmicos que
teriam assumido o controle de Baga e arredores há 15 dias. Pergunto: Você
leitor, teve conhecimento deste fato? Quantas vezes já ouviram ou leram nos
noticiários? O mundo está reunindo-se em alguma marcha histórica que reunirá 3,7
milhões de pessoas pelas vidas dos Nigerianos massacrados?
Em outro hemisfério, com outra visibilidade, com
outra perspectiva de “comoção mundial”, desta vez na França, 17 mortos, entre
eles as 12 pessoas que morreram em um atentado contra a sede do jornal
"Charlie Hebdo", este a mais de uma semana tomou conta dos
noticiários do mundo, que participou de uma marcha histórica que reuniu grande
parte dos principais representantes de Estados e de Governos de todo o ocidente
em um verdadeiro “tsunami humano” que tomou conta das ruas de Paris.
Neste momento, sem qualquer grão de hipocrisia, mas
de certa forma impactado pelas perspectivas humanas de valor, perguntemos:
Franceses valem mais que nigerianos? A morte de dezessete franceses causa maior
revolta, repulsa e comoção que a morte de 2000 nigerianos? A morte de brancos
europeus é mais dolorosa que a morte de negros africanos?
Estas perguntas deixamos com o fim de provocar uma
autorreflexão de nossas representações neste mundo, de nossas diferenças,
importâncias e prioridades. Mensuremos nosso potencial para produzirmos
hipocrisias em nossas relações humanas e o valor que atribuímos aos humanos,
negros, brancos, amarelos ou da cor de pelé que representemos aos olhos do
mundo. Será que somos capazes de conscientemente tarifarmos a vida humana pela
cor, Estado, fé religiosa ou cultura que representamos?
Já articulamos a respeito deste trágico e
lamentável acontecimento ocorrido em território francês, artigo publicado em
diversos meios: “A hostil relação entre o terrorismo e as liberdades de
expressão democráticas: algumas inferências pontuais”. No artigo tivemos a
oportunidade de assentar por outras palavras, que liberdade só é possível de
ser atribuída se acompanhada de responsabilidade. Liberdade irresponsável é anarquia
e não Estado Democrático de Direito. Assim, devemos assentar que liberdade é um
valor relativo e não absoluto, e por isso deve ser sopesado com outros valores
que estejam em conflito, para extrairmos o máximo de cada um evitando-se o
aniquilamento do outro, aí incluindo-se a liberdade de expressão. Esta, uma
visão neoconstitucionalista que ilumina a ciência do Direito Constitucional
contemporâneo.
Ao analisarmos boa parcela das charges do jornal
"Charlie Hebdo", que teve 12 de seus chargistas brutalmente
assassinados, percebemos que muitas destas charges não cumprem o seu papel de
promover uma ironia política de bom gosto, ao contrário, muitas delas são
grosseiras, de menor potencial criativo e apenas promovem de forma tosca uma
violência emocional absolutamente desnecessária.
Aqui não se quer defender a reação absolutamente
desproporcional dos extremistas islâmicos, ao contrário, desta reação há que se
ter o maior repúdio. Aqui se assenta que, a liberdade de expressão “à priori” é
de fato livre, (com o perdão da redundância), mas quando tomada pelo excesso
capaz de promover dano sem fundamento razoável em qualquer de suas formas, deve
sim, ser responsabilizada na medida de seu excesso. Censura jamais,
responsabilidade sempre, que entendamos seus limites.
Talvez, se no passado o Estado Francês houvesse
responsabilizado o jornal "Charlie Hebdo" por seus excessos
costumeiros absolutamente despropositados e de gosto duvidoso, este absurdo
promovido pelos extremistas não houvesse sido praticado, apenas a título de
mera suposição, conjeturando. Não estamos aqui culpando como responsável direto
o Estado francês por uma reação tão desproporcional de uma fé extremista, mas
pode de certa forma haver contribuído para o resultado absolutamente lamentável
que prosperou.
ALGUMAS CHARGES DO JORNAL CHARLIE HEBDO
QUE PROVOCARAM A IRA DOS TERRORISTAS
Lembremos para finalizar que, para cultura
Muçulmana, precipuamente aos extremistas muçulmanos, a vida e a morte possuem
outros significados que os atribuídos no seio das culturas ocidentais, em boa
parte catequizada pela fé Cristã. Aos muçulmanos (significado: aqueles que se
submetem a Alá), o Islã prevalecerá sobre a terra, os extremistas acreditam que
a realização da profecia do Islã e seu domínio sobre todo o mundo, como
descrito no Corão, é para os nossos dias. Cada vitória de um extremista Muçulmano
convence milhões de muçulmanos moderados a se tornarem extremistas. Matar e
morrer por Alá, para os extremistas do Islã, é sinal de um poder absoluto que
passam a ostentar para um posterior descanso no paraíso do além-vida.
Cultura absolutamente estranha e doentia aos olhos
do ocidente, mas que está incrustada na cultura religiosa dos mais ortodoxos do
Islã, que recebem já durante nos primeiros anos da infância uma verdadeira
lavagem cerebral de uma doutrina desviada do que pregam os bons praticantes do Islã.
Nesta absoluta discrepância do entendimento de vida
e morte que carregamos e que os extremistas muçulmanos carregam, que
deveríamos, se não por respeito ao que nos parece absolutamente doentio e
desviado da boa fé, por questão de segurança dos não praticantes do Islã,
abdicarmos de satirizar o que para eles é intocável. Senão por reSpeito, por
inteligência.
Professor
constitucionalista
Professor
constitucionalista, consultor jurídico, palestrante, parecerista, colunista do
jornal Brasil 247 e de diversas revistas e portais jurídicos. Pós graduado em
Direito Público, Direito Processual Civil, Direito Empresarial e com MBA em
Direito e Processo de Trabalho pela FGV.
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