O PINUS E A AGROTORA- PARTE II
A visita à Fazenda Fortaleza, na cidade de Itapeva, no Estado de São Paulo, foi uma experiência extraordinária, onde pudemos sentir a importância do pinus para o agronegóçio, para a economia de forma geral e, em especial, para o Brasil que passou de importador a exportador.
Na segunda parte desta matéria falaremos dessa visita, de forma simples e, ao mesmo tempo, mostrando detalhes técnicos importantes.
PORTAL DE ENTRADA DA FAZENDA FORTALEZA - RESISUL
EM ITAPEVA - SP
Em
Itapeva, fomos recebidos pelo Sr Jades Michetti, técnico agrícola,
ex-funcionário da RESISUL que, hoje, além de produtor independente
de resina de pinus, tem empresa de prestação de serviços
florestais e faz todo serviço de preparo de solo, plantio do pinus,
manutenção e coleta da resina com utilização de mão de obra
própria, além de comercializar toda sua produção de resina para a
RESISUL. O Sr Jades também é produtor independente de mudas através
de sementes melhoradas de pinus, que utiliza em seu plantio próprio
e comercializa parte delas a pequenos produtores da região. Pelo que
pudemos observar nos plantios visitados, essa característica de
produção de resina é mais acentuada no Pinus elliottii puro e
alguns de seus híbridos, sendo este um indicativo para a seleção
dessa espécie para plantios comerciais, tendo como produto principal
a extração de resina. Alguns híbridos como HE (hondurensis com
elliottii -elihondurensis), tem a versatilidade de manter a
produtividade para produção de resina, além de formar um fuste
retilíneo podendo ser aproveitado para comercialização como toras
no final do ciclo de produção de resina, que se encerra entre 15 a
20 anos de idade da cultura.
A
resina extraída de árvores de P. elliottii possibilitou a criação
de uma atividade econômica muito importante no setor florestal que é
a produção, processamento e exportação de resina. Dados de 2002
indicam que a produção brasileira, de aproximadamente 100.000
t/ano, representa uma movimentação financeira de US$ 25 milhões.
Com isso, o Brasil passou de importador a exportador deste produto.
A
produtividade média de resina de P. elliottii, no Brasil, em árvores
não melhoradas, é de 2 kg/árvore ao ano. Esta característica é
também de alta herdabilidade e pode se alterada mediante seleção
criteriosa das matrizes. Assim, após mais de uma geração de
seleção e reprodução controlada, as árvores geneticamente
melhoradas que constituem os povoamentos comerciais de hoje chegam a
produzir, em média, 6 kg/árvore ao ano. Isto significa que, mesmo
mantendo a mesma extensão das florestas atuais, a produção de
resina poderá ser triplicada nas próximas rotações, com o uso de
semente geneticamente melhorada, agregando um valor substancial aos
povoamentos de P. elliottii.
O
melhoramento genético tornou o uso industrial do pinus cada vez mais
viável. Esse melhoramento citado acima, já é uma realidade nos
plantio da RESISUL em Paranapanema/SP. Pois visitamos plantios com
produtividades próximas de 4, kg/árvore/ano, sendo que os híbridos
produzidos em viveiro próprio (Foto 04) através da produção de
sementes melhoradas geneticamente, produzidas em um pomar de sementes
melhoradas (Foto 05) na Fazenda Fortaleza da própria RESISUL (Foto
06).
Viveiro florestal da RESISUL
Produtoras (pomar
Matrizes de sementes melhoradas)
Além
da produção de mudas por sementes melhoradas, a RESISUL iniciou
também o processo de produção de mudas clonadas, através da
reprodução vegetativa de mudas por estacas. Essas mudas são
provenientes das sementes melhoradas das árvores matrizes do
referido pomar.
A VISITA
Projetos em Exploração de Resina:
Primeiramente
visitamos as instalações da Fazenda Fortaleza, passando pelos
diversos pontos de coleta de resina, onde podemos observar os
cuidados com a abertura das estrias (Foto 07), confecção dos
painéis, também chamados de faces de resinagen nas árvores (Foto
08) e a coleta da resina em embalagens plásticas amarradas no tronco
das árvores (Foto 09) de onde é retirada a resina que escorre pelo
tronco e a cada 30 ou 40 dias são colidas e acondicionadas em
tambores plásticos de 200 kg, espalhados por toda área.
As
estrias referem-se a retirada da casca do tronco das árvores, que
são raspadas com (estriador) material cortante, expondo o lenho das
árvores para permitir a sangria e exsudação da resina e são
feitas a cada 15 dias, pois com o tempo, há uma oxidação no local
do corte e a árvore cessa o sangramento. A largura ideal da estria é
em torno de 18 cm. No momento da confecção das estrias, faz-se um
tratamento com um estimulante químico, geralmente solução de ácido
sulfúrico, misturado com farelo de trigo, compostos inertes e água,
aplicando no local da estria (Foto 10), com o objetivo de reduzir a
oxidação naquele local, aumentando o tempo de sangramento da
arvore, provocando a exsudação dos canais resiníferos, retardando
a cicatrização do local cortado e mantendo a produção (sangria)
por mais tempo.
Abertura do painel de resinagem (face) com saquinho plástico.
Confecção das estrias, com detalhe do estriador
(ferramentacortante) de confecção da estria.
As
estrias são confeccionadas em direção ascendente (de baixo para
cima) e uma sacola plástica é amarrada no tronco, abaixo da estria,
recolhendo toda a resina que exsuda pelo tronco. A cada 15 ou 20 dias
toda estria é refeita, retirando aproximadamente 2,0cm da casca,
sempre no sentido ascendente, que recebe nova aplicação de um
estimulante químico.
Embalagem de saco plástico amarrada ao tronco para receber a
resina exsudada.
Aplicação de estimulante químico (bisnaga com pasta ácida)
antioxidante na estria recém confeccionada.
A
medida que as estrias vão subindo pelo tronco, forma-se um painel de
exsudação por onde se escorre a resina. O painel pode atingir de
2,0 a 2,50 metros de comprimento, a partir daí, fica difícil o
manejo e a confecção das estrias. Uma árvore de pinus pode
produzir resina por um período de até 20 anos, dependendo das
condições em que ela esteja submetida.
Viveiro de
Mudas:
Passando
pelo viveiro de mudas da RESISUL, observamos um importante trabalho
de manejo com a coleta e a seleção de sementes melhoradas. Vimos
também, um cuidado especial com as estufas de enraizamento dos
diversos clones selecionados, visando a produção de mudas clonais.
As sementes são coletadas do pomar de semente da própria RESISUL e
os clones (Foto 11) são provenientes das sementes melhoradas
colhidas no pomar. No que se refere à obtenção de sementes, das
diferentes espécies do gênero pinus, os cones (frutos) são
escolhidos ainda quando em processo de maturação bastante
adiantado. Após colhidas, são colocadas em peneiras expostas ao sol
para a iberação das sementes, levando de 3 a 10 dias, conforme as
condições climáticas.
Caletões
com as estacas para produção de clones.
Em galpões especiais,
os cones são armazenados até a completa maturação, onde se abrem,
deixando cair as sementes. As sementes devem ser secas e guardadas em
recipientes fechados à temperatura de 5°C. Como as sementes são
aladas, antes da semeaduraão deverão ser desaladas e bem
acondicionadas
Pelo
que vimos, há um a concentração maior do plantio das espécies de
Pinus eliiottii puro e do híbrido Pinus elliottii x Pinus
hondurensis, onde estão os materiais genéticos de maior
produtividade de resina, sendo que o Pinus elliottii puro, tem
vantagem produtiva sobre o híbrido, porem o hibrido produz fustes
mais retos e atinge alturas maiores, importante na comercialização
de toras, após exaurida a produção de resina.
Cuidados na seleção e produção de sementes
Visitamos
outros 02 viveiros de produtores independentes localizados na cidade
de ITAPEVA
Foto
11: Caletões com as
estacas para estruturas modernas de Itapeva, que além de produzirem
mudas por semente, possuem produção clones. do enraizamento de
produção de mudas por propagação vegetativa de estacas de através
estacas em caletões (Foto 13 - Eucapinus). A EUCAPINUS produz mudas
para a RESISUL
com sementes melhoradas fornecidas pela própria RESISUL e essas não
podem ser comercializadas para terceiros.
Viveiro da EUCAPINUS em Itapeva.
Plantio:
Por
se tratar de uma espécie extremamente rústica, o Pinus naquela
região é plantado com poucas técnicas e quase sem nenhum trato
silvicultural. Pelo que vimos, para produção de resina, o maior
cuidado está em selecionar um bom material genético e produzir uma
boa muda. Quanto ao preparo de solo, somente uma subsolagem é feita,
às vezes com distribuição de calcário, porem o controle ás
formigas cortadeiras é constante. O controle da matocompetição é
realizado somente no primeiro ano da cultura (Foto 14). É comum
fazer uma ou no máximo duas intervenções com herbicida, visando o
controle do mato.
Observamos
em um plantio com aproximadamente 1,0 ano (Foto 15 e 16) de idade,
muita infestação com braquiária na linha de plantio, as vezes, com
altura superior à da muda do própri pinus, o que nos foi informado
ser uma situação normal. O espaçamento plantado é de 3,0 x 2,0
metros ou 3,0 x 3,0 metros e o plantio é realizado no período
chuvoso, evitando gastos com irrigação. Aos 5,0 anos inicia-se uma
desrrama (retirada de galhos) até uma altura de 2,50 metros e aos
7,0 anos inicia-se a confecção das estrias que produzirão a
resina. Entre o 7o e o 8o ano, inicia-se o desbaste, selecionando-se
as piores árvores para serem eliminadas, deixando as melhores e mais
produtivas. Para aproveitar a produção de resina das árvores
desbastadas, a sangria se inicia por elas (árvores que irão sair) e
depois segue pelo restante das árvores remanescentes.
Plantio com 1,0 ano de idade controle do mato
Plantio com quase 2,0 anos com muita braqueária.
Plantio com seis meses evidenciando a ocorrência de
muita braquiária. O plantio é manual e as mudas são bem
acondicionadas no sulco feito com o subsolador. As vezes coloca-se
hidrogel, preventivamente, com o objetivo de manter a umidade ao
redor da muda, durante o período que permanecer sem chuvas logo após
o plantio. Quanto ao espaçamento entre as mudas, os mais densos,
favorecem o crescimento em altura e os menos densos, aumentam o
incremento em diâmetro. Daí, a grande maioria dos plantios terem
como espaçamento inicial, o arranjo de 3 x 2 metros (densos),
favorecendo o crescimento em altura e com a prática da realização
do primeiro desbaste seletivo que ocorre aos 6 ou 7 anos, estimula-se
o incremento em diâmetro, aumentando o volume de copa e
consequentemente a produtividade. O primeiro desbaste elimina- de 30
a 40% das árvores e é seletivo. O 2o desbaste vai ocorre aos 10 ou
11 anos e vai retirar 20% a 30% (do que sobrou). Daí, as árvores
selecionadas para sair são aquelas mais finas, com painéis de
resinagem inferior a 15 cm. O ideal da largura dos painéis é de 18
a 22 cm. Esse desbaste é um manejo para condução do povoamento
para produção de toras, após exaustão da produção de resinas.
A
RESISUL possui na região de Paranapanema, aproximadamente 1.500
hectares de Pinus e todo ano tem novos plantio em substituição
àqueles mais velhos, com produção de resina já em exaustão.
Outra
modalidade de produção/compra de resina é através de parceria com
produtore independentes, ou seja, a RESISUL arrenda áreas já
plantadas de floresta de pinus para resinar e paga ao produtor em
torno de 25% - 30% da produção. O produtor recolhe em torno de 2,5%
de impostos. A RESISUL tem aproximadamente 1.000 ha explorados nesta
modalidade.
Texto de autoria do
Engo André Luiz C.
Rocha
AGROTORA