(Só para inteligentes, com as minhas desculpas antecipadas aos coxinhas)
Hoje o procurador do Ministério Público, Henrique Pozzobom, pousou mal.
Convocou uma coletiva da imprensa para denunciar Lula, por lavagem de
dinheiro, e começou a sua declaração: “não temos como provar, mas temos
convicção”. É a filosofia do marido ciumento: “não tenho provas, mas a minha mulher está aprontando”.
Antes de entrar no mérito, uma coisa que me intriga e irrita é o fato
desses procuradores serem quase adolescentes, sem nenhuma experiência,
tudo garotão. Filhinhos de papai, mauricinhos, fazem concurso
público, passam, julgam-se os fodões da paróquia e saem acusando e
condenando a quem convém acusar. A justiça brasileira tornou-se silogística e aí é que mora o perigo.
Melhor explicando: silogismo é um termo filosófico, criado por
Aristóteles e que, segundo ele, determina um sistema lógico perfeito.Nesse método de raciocínio, a partir de duas afirmações, chamadas de premissas, conclui-se uma terceira, chamada de dedução.Por exemplo: Todo homem é mortal (primeira premissa). O Papa é um homem (segunda premissa). Então o Papa morrerá (dedução).Só que temos aqui duas implicações: a primeira é que a partir de duas
premissas verdadeiras podemos chegar a uma conclusão errada.Por
exemplo: Todos os pássaros voam. Os aviões voam. Então o avião é um
pássaro. Ou: Todas as aves têm penas. Os espanadores têm penas. Então os
espanadores são aves.
Fazer justiça a partir do raciocínio
silogístico, como os meninos da Lava Jato têm feito é muito bonito em
tese, mas inválido na prática. Em se tratando de justiça, silogismos
não bastam, são necessárias provas, senão corre-se o risco de
raciocinar, propositalmente ou não, como o marido ciumento.
Lula e
Dona Marisa compraram um triplex em Guarujá. Lula e Dona Marisa foram
vistos no triplex do Guarujá. Então o triplex do Guarujá é deles. A
primeira premissa é verdadeira, há documentos que comprovam que
compraram o imóvel. A segunda premissa também é verdadeira, mas nada tem
a ver com a primeira, uma vez que visitar um imóvel não dá ao
visitante a titularidade do imóvel, prejudicando a dedução.
Mas,
ainda que o silogismo se mostrasse sustentável, há um componente não
considerado, o tempo, criando uma segunda possibilidade, o que a
filosofia chama de silogismo derivado, com um detalhe: o segundo
silogismo não pode entrar em choque com o primeiro.
Então teremos:
Lula e Dona Marisa compraram um triplex no Guarujá, conforme
documentação em nome deles. Por problemas de não cumprimentos
contratuais, Lula e Dona Marisa devolveram o triplex no Guarujá,
conforme documentação em nome deles. Então o triplex não é deles.
Como o segundo silogismo se choca com o primeiro, caímos no que a
filosofia chama de dilema, o que invalida o raciocínio silogístico,
nesta questão específica.
Porque esse meu blá blá blá? Para mostrar
como os procuradores agem, fabricando factóides, criando ilações,
deduções abstratas sobre situações concretas, na ausência de provas.
Primeiro Lula era o comandante em chefe do Mensalão (AP 470). Não encontraram provas. Arquive-se. Depois Lula era o dono de um triplex no Guarujá, usado para a lavagem de dinheiro. Não encontraram provas. Arquive-se.Depois era dono de um sítio. Não encontraram provas. Arquive-se.Depois enriqueceu ilicitamente. Não encontraram contas com fortunas,
nem aqui nem no exterior. Nenhum trust no nome dele, nenhuma off-shore.
Arquive-se. Depois afirmaram que os ganhos dele eram incompatíveis
com o que ele afirmava ganhar, no imposto de renda. Ele afirmou que a
diferença era fruto de palestras e conferências ministradas por ele, e
apresentou a documentação. Não satisfeito, o cacique da Lava Jato pediu
que os seus pagadores confirmassem, o que foi feito, com a Fundação
Roberto Marinho (Globo) saindo na frente. Arquive-se. Depois Lula foi acusado de obstruir a justiça, o que está prestes a ser arquivado, por falta de provas.
Esgotadas todas as possibilidades de inviabilizar a candidatura Lula,
em 2018, criaram novos silogismos: Lula era o presidente da república.
Funcionários públicos fizeram cagadas no governo Lula. Então Lula sabia. Lula presidiu o PT. Petistas fizeram cagadas. Então Lula sabia. Lula é o maior líder da esquerda. Esquerdistas fizeram cagadas. Então Lula sabia... E da série de silogismos derivados, a dedução final: Lula é o comandante máximo de todas as cagadas. Funciona para alienados idiotas, para seres pensantes, não.
Não basta eu estar armado e no interior do banco, no momento do
assalto, duas premissas, para ser um dos assaltantes do banco, a
dedução. Eu bem posso ser o segurança do banco, mas do caráter de quem deduz sem provas vai depender o que vão alardear.
O Judiciário brasileiro virou um partido político sem moral e sem ética, e o comitê central está em Curitiba.
Francisco Costa
Rio, 14/09/2016.