sexta-feira, 13 de setembro de 2013

FAVELAS E BRASIL - REALIDADE ÚNICA NO MUNDO







      UM DOS TEMAS MAIS DISCUTIDOS NO EXTERIOR (DO BRASIL) QUANDO SE FALA DA NOSSA CULTURA E DA NOSSA CIVILIZAÇÃO, É FAVELA. AS NOSSAS FAVELAS SERIAM ESPÉCIES DE GUETOS, TAL COMO EXISTIRAM TANTOS GUETOS NOS PAÍSES EUROPEUS E NOS ESTADOS UNIDOS. 

        NO ENTANTO, AS FAVELAS BRASILEIRAS SÃO TÍPICAS, ELAS SOBEM O MORRO E TÊM CARACTERÍSTICAS PECULIARES PELO FATO DE JUNTAR DEZENAS DE CULTURAS E SEREM TERRITÓRIOS DE GUERRAS ENTRE O NARCOTRÁFICO E AS POLÍCIAS.

      UM DOS GRANDES PENSADORES DAS FAVELAS E DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRAS É O PROFESSOR JORGE LUIZ BARBOSA. ELE FALA MUITO SOBRE A REINVENÇÃO DO ESPAÇO URBANO E QUE O HOMEM É UM ANIMAL URBANO. REPRODUZO SUA ENTREVISTA, CONCEDIDA AO "BLOG ACESSO", PARA QUE ENTENDAMOS MELHOR OU VEJAMOS SOB OUTRO PRISMA ESSE FENÔMENO SOCIAL CHAMADO FAVELA:


Entrevistas_10.07
Jorge Luiz Barbosa: Periferia – Observatório da diversidade
Por Blog Acesso

Sediado na Maré, no Rio de Janeiro, o Observatório de Favelas foi criado para estudar espaços populares e articular redes de transformação social. À frente da entidade, o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense (RJ), Jorge Luiz Barbosa, assegura com serenidade e conhecimento de causa que a democratização do acesso à cultura e dos meios de comunicação são questões indissociáveis. Em entrevista ao Boletim da Democratização Cultural, ele também esclarece sobre o conceito moderno do termo periferia e afirma que precisamos de um novo formato de sociabilidade urbana.


Boletim da Democratização Cultural – O que você entende por democratização cultural?

Jorge Luiz Barbosa – A democratização cultural visa gerar o acesso a bens e equipamentos culturais da cidade, que hoje estão desigualmente distribuídos. Esse processo demanda tanto uma forma de constituir políticas públicas culturais que possam efetivamente garantir a circulação de jovens pela cidade; quanto o investimento por parte do poder público e da iniciativa privada em favelas e periferias para promover o direito à cultura. Uma outra perspectiva que envolve a democratização é a necessidade de promoção e incentivo à produção cultural, hoje realizada por jovens de favelas e periferias. Esses espaços populares têm criação cultural de qualidade, mas não recebem investimentos que fortaleçam a criatividade, gerando visibilidade. A produção cultural assegura a diversidade e pluralidade.


B.D.C. – As estatísticas que mostram o elevado investimento em produção cultural não se aplicam às periferias?

J.L.B. – Não. Definitivamente, não se aplicam. Em função dessa situação desigual, os jovens de favelas e periferias inventam novos dispositivos de produção cultural, utilizando meios como o vídeo, o celular, a fotografia… Existem experiências riquíssimas nesse campo. Recentemente, o Observatório de Favelas, com o apoio da Petrobras, criou o Festival Visões Periféricas, privilegiando justamente essas representações, criações em que o jovem representa a si, e que são de extrema importância para a diversidade cultural. Os 200 documentários que recebemos mostram as produções desconhecidas, realizadas anonimamente Brasil afora. Trata-se de um olhar de dentro da realidade das periferias, registrado por autores que não querem dialogar só com a periferia, que querem dialogar com o todo e se afirmar como cidadãos numa sociedade onde há hierarquias no exercício da cidadania.


B.D.C. – Esse movimento de mostrar a comunidade por seus próprios “olhos” acaba com o mito de que os integrantes das periferias são meros receptores de cultura e informação?

J.L.B. – Hoje – para além da idéia tradicional de receptora – a periferia produz cultura e acaba por mudar a relação com os meios de comunicação de massa. A turma quer falar por si mesma e projetar uma sociedade diferente. Na verdade, a questão da democratização cultural está intimamente associada à democratização da comunicação. Os meios de comunicação atuam de forma muito verticalizada e a democratização propõe a horizontalização das relações, o estabelecimento de trocas complexas que promovam encontros e uma nova sociabilidade urbana.


B.D.C. – Estamos falando da criação de novos paradigmas. Como a mídia de massa vem lidando com essa transformação?

J.L.B. – A periferia gera novos símbolos, signos, leituras necessárias à convivência, e a comunicação dessas questões funciona como uma forma de afirmação para pessoas e grupos sociais invisíveis, que reivindicam sua sociabilidade a partir da cultura. Os meios de comunicação de massa não são homogêneos e existe a possibilidade de diálogo, ainda que não com a complexidade devida. Um exemplo positivo de abertura é a parceria entre o Canal Futura e o Observatório de Favelas. Produzimos a série Crônicas Urbanas, que vai ao ar no fim do ano, com seis programas sobre as metrópoles. São feitos por jovens da periferia que contam suas histórias. A série pretende sensibilizar o público quanto à existência de uma periferia invisível, além de abrir canais de diálogo mais expressivos no setor audiovisual.


B.D.C. – Parece que a periferia virou moda na TV e no cinema. Na sua opinião, o que está por trás dessa questão?

J.L.B. – Em termos gerais, os meios de comunicação de massa ainda reproduzem leituras estéticas da periferia de forma homogeneizadora, sem dar conta de sua diversidade e diferenças simbólicas. Essa é uma postura sociocêntrica que pensa a periferia a partir de valores hegemônicos.


B.D.C. – Por que o termo periferia soa pejorativo?

J.L.B. – Na verdade, prefiro utilizar o termo “espaço popular” porque a palavra periferia não dá conta da riqueza cultural, da sociabilidade, das lutas de movimentos sociais e da luta pela efetivação de direitos. Além do que, a desigualdade social também está presente nos centros das metrópoles. Periferia seria o território situado ao redor do centro. Mas, geralmente, essa dimensão geográfica dá lugar ao conceito de comunidade distante de tudo, inclusive da cidadania, do Estado, da ordem… tratada de forma generalizada como pobre, sem futuro e distante dos marcos civilizatórios. No entanto, sabemos que do ponto de vista sociológico e urbanístico existem periferias ricas, como Alphaville, em São Paulo, que não correspondem a essa visão que confunde a precariedade das condições urbanas com a precariedade no sentido geral. Por força das condições objetivas, acredito que a periferia deva erguer-se como forte imaginário de resistência e afirmar-se como um espaço de criação.


B.D.C. – Qual a filosofia do Observatório de Favelas?

J.L.B. – A instituição tem como missão acompanhar as políticas públicas sociais, voltadas para as favelas e periferias do Rio de Janeiro, ainda que tenhamos articulações de redes em diferentes lugares do Brasil. Atuamos em três vertentes: direitos humanos, desenvolvimento sustentável integrado e comunicação e cultura. Focamos os jovens desses espaços populares, criando diálogos permanentes e, a partir daí, atingimos também as famílias e redes sociais. Entre os nossos programas estão o Escola Popular de Comunicação Crítica, que trabalha a formação de jovens de diferentes comunidades em disciplinas como rádio comunitária, jornalismo, fotografia, documentário; e a agência virtual de fotografia Imagens do Povo, coordenada pelo fotógrafo João Roberto Ripper.

Priscila Fernandes/Boletim da Democratização Cultural


INTRODUÇÃO: Pedro Paulo de Oliveira

Fotos: Observatório de Favelas.

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