quarta-feira, 7 de setembro de 2016

CARTA ABERTA NO DIA DA PÁTRIA




Sr. Michel Temer

Lastimo não tratá-lo por Excelentíssimo, uma vez que excelente ou de excelência nada percebi no Senhor, e o Senhor fica apenas por causa da sua idade. Ao contrário do que o Senhor possa esperar, não discutirei golpes ou contra golpes, uma vez que, exceptuando os golpistas brasileiros, onde se inclui a mídia, e seus coxinhas amestrados, é consenso no mundo que houve um golpe parlamentar no Brasil, isto é assunto vencido.

O meu questionamento é em relação a injustiça social que se instala no Brasil, com sério reflexos a posteriori, onde não descarto uma guerra civil, o que já foi sobejamente alertado por respeitáveis cientistas políticos. Causou-me espécie o adiamento da reforma da previdência para depois das eleições municipais. Se é para o bem do povo, porque é que o Senhor atendeu apelo da sua base política, de adiar para não perder votos?

Manifesto também a minha estranheza, nessa reforma, a sua declaração de que “o agronegócio exportador continuará com isenção tributária para que os empresários não pensem estar havendo a criação de novos impostos”. O Senhor governa para todo o povo ou para os empresários?

Para fazer caixa, o Senhor estabelece idade mínima para aposentadorias, desvincula aposentadorias e pensões do salário mínimo, avança sobre a CLT, estabelecendo que o acordado tem primazia sobre o legislado, corta beneficiários de programas sociais (só no mês de setembro serão menos seiscentas mil famílias fora do Bolsa Família) ou acaba com programas sociais, caso do Pronatec, sem tocar nos benefícios da classe privilegiada, que o colocou sentado nesta cadeira.

Temos um déficit de cento e setenta bilhões, conforme cálculos feitos pelo seu governo, e no entanto só até o mês de julho os grandes empresários e grandes empresas tinham sonegado mais de trezentos e sessenta bilhões de reais, o que daria para cobrir duas vezes e meia o déficit público, sem que o Senhor se manifeste a respeito.

Ressalto que esta sonegação somada à dos anos anteriores ultrapassa em muito um trilhão de dólares, isso mesmo, mais de um quinto do nosso PIB.Somente a quitação desse débito pagaria todas as nossas contas, sem qualquer necessidade de reformas ou pirotecnias outras, nas costas, ou nos bolsos, dos que pouco ou quase nada têm.

Até suportaríamos e entenderíamos o arrocho que se anuncia, se ele fosse equitativo, imposto a todas as classes sociais, mas o que vemos é que os bens de capital continuarão isentos do fisco, não será criado imposto sobre grandes fortunas nem sobre grandes heranças, o sistema financeiro e as instituições religiosas continuarão a não pagar impostos, com o fim do extrato inferior do Minha Casa Minha vida e a criação de mais um, superior, o FGTS dos trabalhadores deixarão de construir e financiar casas populares, para os trabalhadores, para construir e financiar mansões...
Que conformismo o Senhor espera do povo? E aí as cenas dramáticas, de barbárie institucional, como as que vimos nas manifestações populares de domingo passado, em São Paulo. Sempre que isto acontecia, a presidente deposta se manifestava, condenando os excessos, com o Senhor é o silêncio. Cumplicidade, aval ou omissão?

Mas o que mais me decepcionou foi ver o Brasil fora da reunião do G-20. Lembro que em reuniões anteriores, FHC ficou em lugar de destaque, na foto oficial, ao lado de Bill Clinton. Lula, em uma das reuniões, ficou entre Obama e Merkel e, na reunião seguinte, entre Obama e Putin. Dilma ficou também entre Obama e Putin. Já o Senhor... Por pouco não sai na foto, já que ficou na extremidade do grupo e afastado mais de um metro da autoridade mais próxima.

Todos os presentes foram qualificados e assinaram o documento, ao final do encontro, já o senhor, ao invés de “Presidente do Brasil”, foi qualificado, no documento oficial da reunião como “líder brasileiro”, sem ter assinado como presidente.

O não anúncio do seu nome e a sua recusa em não discursar, na abertura das Olimpíadas, se justificou: era interino, provisório, substituto, ornamento, sujeito a vaias estrondosas, e optou pelo quase anonimato, limitando-se a pronunciar frase única. No encerramento, uma quebra de protocolo e uma desfeita às autoridades japonesas, a sua ausência, mambembemente contornada por um convite a uma visita ao Palácio do Planalto, emenda pior que o soneto, no dizer popular.

Hoje, no desfile de sete de setembro, o senhor se recusou a usar a faixa presidencial, simbolicamente o mesmo que um comandante desfilar sem farda.
Aliás, apesar dos seus circundantes, no palanque presidencial, hoje, no desfile militar, terem sido escolhidos a dedo, todos puderam ouvir o já tradicional fora Temer, a seu redor, bem próximo, constrangendo-o, aliás o seu estado norma, quando em público. E lhe pergunto: a faixa está pesando, a sua consciência o desautoriza presidente, medo de vaias...? Afinal, qual é a sua? A coragem certamente não é, isso o povo já percebeu.

Já não é hora de acabar com essa aventura, antes que o país mergulhe em sangue, no sangue de inocentes? Afinal, estamos levando a sério os versos “ou deixar a pátria livre/ou morrer pelo Brasil”. As passeatas continuarão, o fora Temer, também .

PS: na foto, isoladinho, o senhor é o da extrema esquerda. Quando foi para a esquerda foi para sobrar, não é mesmo?




Francisco Costa
Rio, 07/09/2016

Francisco Costa é Poeta e comentarista social e político.
Mora no Rio de Janeiro e sua página no facebook é: 

https://www.facebook.com/francicorcosta


Nenhum comentário:

Postar um comentário

NAYRA E O CHAVELHO DE ESPINHOS NA FAIXA DE GAZA

" Esses pequeninos, cheios de sonhos, sonhos que embalam o mundo, distantes das       ambições e da crueldade dos homens e mulheres que...