O que tem em comum o linchamento
de um morador de rua que furtou um vidro de xampu com a descoberta
do assassino do Deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar e com o
julgamento dos réus do mensalão? Aparentemente, nada. No entanto esses três
fatos mostram três realidades do Brasil muito próximas no tempo e interligadas
socialmente, fazendo parte de um mesmo contexto.
EM DESTAQUE NA FOTO: GENERAL EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICE (1969/1974), PERÍODO MAIS NEGRO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL, MARCADO PELA CAÇA ÀS BRUXAS - QUANDO RUBENS PAIVA FOI ASSASSINADO.
O deputado Rubens Paiva deu
entrada no DOI do Exército no Rio de Janeiro em 20 de janeiro de 1971, como
subversivo e, no dia seguinte, desparecia, para sempre. 43 anos depois, a
Comissão da Verdade anuncia que descobriu o seu torturador e executor, e quer
descobrir o paradeiro do seu corpo. Já se sabe que o seu executor, “um militar
loiro e de olhos azuis” (neonazista?) já morreu e o comandante do DOI à época
se nega a falar no assunto, dizendo que não sabe de nada. O mais estarrecedor é
que 43 anos depois, chega-se à verdade dos fatos, descobrem-se assassinos,
mandantes, omissos e ninguém será punido. Apenas – certamente – o Estado
indenizará os familiares do Deputado assassinado.
Em Sorocaba – SP, um morador de
rua é perseguido e espancado após furtar um vidro de xampu. Seus agressores
foram o dono do estabelecimento, seus empregados e alguns moradores da região,
entre eles dois menores. O morador de rua teve politraumatismo craniano. Os
agressores foram levados para delegacia, prestaram depoimento e foram liberados.
No Rio de Janeiro e Belo Horizonte a moda, agora, é amarrar delinquentes nos postes
e surrá-los até quase mata-los. As pessoas decidiram fazer justiça com as
próprias mãos. Sentem-se capacitados para prender, julgar, sentenciar e
executar as penas.
No Supremo Tribunal Federal, no
julgamento dos réus do Mensalão, os ministros se colocam diante das câmeras e
dão declarações pessoais, quebrando decoro e fazem uma anarquia nas sessões,
num vai e vem de sentenças, onde a vaidade do presidente da corte parece estar
acima de qualquer outra questão. Enquanto isso, outros temas de extrema
importância são colocados de lado. Qualquer pessoa, em sã consciência e um mínimo
de entendimento social, sabe que o a prisão, o julgamento e as sentenças dos
réus do mensalão foram políticas e midiáticas. No entanto, os tiros dados pelos
artífices das denúncias não acertaram os alvos (Lula e Dilma). Ao que tudo
indica, a maioria do povo brasileiro continua adorando-os para pavor dos
tucanos e das pombas.
Resumindo, enquanto nossas cortes
de Justiça estiverem fazendo política e politicagem em detrimento de parte de
um Congresso deturpado pela corrupção, nossas polícias continuarão inócuas e corrompidas - com o apresentador de televisão, Datena, do programa policial Cidade Alerta, gritando que o
Secretário de Justiça do Estado do Rio de Janeiro é um incompetente e que não
sabe a razão de ele ainda permanecer no cargo -. Ora, Datena, que dúvida é essa? Claro
que você sabe por que um secretário de estado permanece no cargo. Mas, o pior de
tudo, o mais grave, é que cidadãos (cidadãos?) estão se arvorando como donos da
verdade e agindo com extrema violência contra delinquentes, como se fossem acabar com o crime amarrando esses bandidinhos de nada em postes e afundando
crânios de moradores de rua desarmados. Estão agindo como os bandidos, de forma violenta e covarde.
Parece que o Brasil mudou. Tem-se liberdade (tem?); tem-se direitos (tem?) O que se vê é que as nossas instituições ainda estão contaminadas pelo período da ditadura militar e muita coisa precisa ser mudada.
Texto: Pedro Paulo de Oliveira.
Imagens: Estadão.