sexta-feira, 17 de junho de 2022

MÁRTIRES DA FLORESTA - OS ASSASSINATOS DO INDIGENISTA BRUNO PEREIRA E DO JORNALISTA DOM PHILLIPS JÁ ESTAVAM DECIDIDOS HÁ TEMPOS




O mundo não se calará tão cedo clamando por justiça e Dom e Bruno foram transformados em mártires.









Bruno Araujo Pereira, 41 anos, funcionário de carreira da FUNAI, foi daqueles seres humanos diferenciados, tal como tantos outros que, em tempos tenebrosos, decidiram doar suas vidas para a defesa da humanidade. Sua causa era luta pela preservação da amazônia e a defesa dos povos ribeirinhos e indígenas. Era teimoso, inteligente, capacitado, firme nas suas convicções e corajoso. Acima de tudo era perspicaz. Nos últimos 10 anos, passou grande parte da sua vida conhecendo a imensidão da maior floreta tropical do planeta. Aprendeu que a Floresta Amazônica só persistirá preservando as populações indígenas. Os indígenas, mantidos e respeitados no seu habitat, sem deterioração de suas culturas, são os guardiões da floresta. São eles que vivem da floresta e têm o conhecimento necessário para defender a sua destruição. Bruno sabia disso e nos seu tempo na funai trabalhou duramente nesse sentido.

Bruno, pelos seus conhecimentos da floresta e dos povos indígenas, foi nomeado como Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato da Funai. Nesse cargo promoveu uma expedição onde detectou vários povos isolados e intimamente inseridos no meio selvagem, parte do ecossistema da Floresta Amazônica. Contudo, essa expedição e suas constantes incursões chamaram a atenção de grileiros, pescadores ilegais, garimpeiros, madeireiros criminosos e, acima de tudo, de traficantes que atuam na tríplice fronteira. O tráfico presente na tríplice fronteira lava seu dinheiro com os produtos da extração ilegal de madeira, da pesca predatória, do garimpo predatório e até da pesca ilegal.

Em 2019, pouco tempo antes da eleição que colocou Bolsonaro na presidência do Brasil, Bruno comandou uma operação em Roraima que culminou com a expulsão de centenas de garimpeiros das terras Yanomami. Mais uma vez Bruno chamou a atenção para si alertou políticos, ruralistas e o crime organizado já enraizado naquela região.

Bolsonaro assumiu a presidência e sob orientação de políticos ligados à grilagem, garimpo ilegal e pesca predatória, exonerou o superintendente da FUNAI e nomeou o delegado da polícia federal Marcelo Xavier Silva para assumir o cargo apoiado pela bancada ruralista. Em seguida, Bruno foi exonerado do seu cargo na FUNAI e no seu lugar foi nomeado o pastor evangélico Ricardo Lopes Dias.

Mas, Bruno, teimoso, decidido, dedicado à causa indígena e da floresta, não iria desistir. E não desistiu. Assumiu um cargo de assessoria na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), onde continuou seu trabalho. A UNIVAJA nasceu e persiste para defender os povos e as terras do Vale do Javari. O Vale do Javari é uma terra indígena localizada nos municípios de Atalaia do Norte e Guajará, no lado oeste do estado do Amazonas. Foi demarcada por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso em 2 de maio de 2001.

Afastado do cargo de coordenador e licenciado do FUNAI, Bruno passou a apoiar as ações da UNIVAJA em defesa do seu território e dos povos ali inseridos. E a defesa do território significava confrontar os predadores humanos que ali se infiltravam com a anuência do desmonte da FUNAI promovido pelo governo Bolsonaro.

A exoneração do cargo na FUNAI não foi suficiente para afastar Bruno da sua luta pela floresta e seus povos nativos. Dedicado a sua causa continuou a perseguir e denunciar os crimes ali praticados. Elaborou, juntamente com a UNIVAJA, relatórios contundentes denunciando os crimes e apontando seus autores. Esses relatórios foram todos enviados para a FUNAI e para Polícia Federal.

Neste meio tempo, entre 2019 e 2022, Bruno conheceu o repórter Dom Phillips. Dom lhe expôs seu trabalho em defesa da Floresta Amazônica e e lhe detalhou que estava escrevendo um livro sobre como preservar a floresta de forma sustentável, englobando todos os atores inseridos no ecossistema. os dois se entenderam imediatamente e Dom propôs a Bruno guiá-lo no seu trabalho, o que foi imediatamente aceito.

Contudo, Dom já era uma figura conhecida e non grata para muitos adeptos das invasões e destruição da Amazônia. Em julho de 2019, ele participou de um café da manhã entre jornalistas organizado pela assessoria do Palácio do Planalto e confrontou o Presidente da República com relação ao desmatamento que havia crescido assustadoramente e as multas aplicadas pelo IBAMA haviam caído na mesma proporção. Estava presente, também, neste café, o General Augusto Heleno. O presidente se irritou e respondeu que a Amazônia é do Brasil, está preservada e nenhum país do mundo tem moral para criticar essa soberania e sua preservação.

Dom e Bruno, ao se unirem selaram suas sentenças de morte, os bandidos espalhados e comandando o crime no Vale do Javari passaram a monitorá-los até encontrar o melhor momento de assassiná-los. Era preciso, pois Bruno e Dom estavam chamando a atenção do mundo para os seus crimes.

Bruno e Dom foram covarde e cruelmente assassinados, numa emboscada planejada cuidadosamente.

E agora? O Governo de Jair Bolsonaro está com um pepino na mão para descascar, pois o mundo não se calará tão cedo clamando por justiça e Dom e Bruno foram transformados em mártires.







Pedro Paulo de Oliveira.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

NAYRA E O CHAVELHO DE ESPINHOS NA FAIXA DE GAZA

" Esses pequeninos, cheios de sonhos, sonhos que embalam o mundo, distantes das       ambições e da crueldade dos homens e mulheres que...