quinta-feira, 27 de março de 2014

BRASIL: AME OU DEIXE-O!



Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...
“Ó pátria amada,
idolatrada,
salve! Salve!”
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido...

Sempre que participo de uma cerimônia ou evento cívico, onde o Hino Nacional Brasileiro antecipa a abertura oficial, fico emocionado. Durante os anos de chumbo, na minha infância e adolescência, fui ensinado, ao ouvir o Hino, a perfilar-me de frente com a Bandeira Nacional, em posição de sentido, com a cabeça erguida, olhando o firmamento e a cantar o Hino junto com todos os presentes ao evento. Ao término do Hino fui, também, ensinado a aplaudir. Custei a entender que os aplausos são para o Brasil.

O tempo passou e com ele a Ditadura Militar que nos obrigava a ficar em fila indiana diante de um mastro com a Bandeira do Brasil hasteada, antes de entrar em sala de aula, e a cantar o Hino Nacional. Eu morava em Andrelândia onde os invernos costumam ser rigorosos e não era fácil aguentar o Professor durão, com jeito de militar, gritando que deveríamos idolatrar a Bandeira do Brasil e cantar o Hino Nacional inteirinho debaixo de uma temperatura de quase um grau centígrado. Ao fim da Ditadura, já adulto e morando em Volta Redonda, compreendi que fui enganado pelos militares, pelo professor durão e pelas freiras da escola que bajulavam o poder vigente. Todos eles ajudaram a construir um país fictício. Os governantes déspotas perseguiam seus opositores, prendiam-nos e mandavam mata-los, muitas das vezes. Noutra esteira, esses mesmos déspotas alienavam o Brasil em troca de dólares com a desculpa de que usariam o dinheiro no desenvolvimento da nação. Na verdade, usavam o dinheiro em benefício próprio e dos seus aliados. Esses mesmos déspotas aceitaram que viessem se instalar no Brasil as sucatas das indústrias da Europa e dos Estados Unidos. Esses mesmos déspotas aniquilaram a nascente indústria brasileira que se solidificava no esteio da competência de empresários nacionais e nacionalistas.


O POVO ENGANADO

Vinte anos de ditadura militar transformou o Brasil no que ele é hoje: uma nação onde uma grande parte do seu povo não tem amor algum pela terra onde pisa; uma nação onde uma parte da juventude de periferia cresce acreditando que bandido também é mocinho; uma nação onde parte das polícias é bandida; e uma nação onde todas as instituições estão corrompidas.

 Não se pode afirmar que existe um país perfeito, sem criminalidade, sem corrupção e sem desigualdades sociais. Afirmar que existe um país perfeito é pura utopia. Seria como acreditar ser possível a cidade imaginada por Thomas Morus. Também não é possível acreditar que o se humano, um dia, será capaz, neste planeta, de atingir a perfeição. No entanto, não podemos mais admitir que continuem a assaltar o nosso país em nome da legalidade e do desenvolvimento, tal como pregavam os militares durante os anos negros de absolutismo. Não podemos mais admitir tamanho descalabro e desvios dentro de uma instituição como a PETROBRAS. O assalto a essa estatal parece que vai chegar aos 50 bilhões de dólares e, pasmos, ficamos inertes. Tem Venezuela metida nessa roubalheira de petróleo; tem Estados Unidos envolvido no escândalo da compra de uma refinaria; tem Japão enfiado em rede de corrupção de refinarias mundo afora; e, agora, tem o Pré-sal (O que será descoberto dessa negociação?).

Nada mudou daqueles tempos para os tempos de hoje. Os políticos continuam os mesmos, de Sarney a Collor. Azeredo renunciou para escapar da cassação e da prisão; Os Perrelas estão sendo investigado por suspeita de associação ao tráfico em Minas Gerais; Os desvios de recursos para pagar propinas nas obras o metrô de São Paulo ultrapassam as cifras dos bilhões; e até agora, somente José Dirceu e sua trupe foi presa pelo Batman do STF (que adora os holofotes da imprensa).

Enquanto isso, o Brasil se prepara para a Copa do Mundo, construindo e reformando estádios; privatizando aeroportos, estradas, portos e rodoviárias; o exército está ocupando o Complexo da Maré no Rio de Janeiro (conjunto de favelas onde operam grandes traficantes) na esteira dos jogos da Copa, tendo em vista o fracasso das Unidades de Polícias Pacificadoras - UPPs (essas unidades se tornaram inoperantes e muitas delas se envolveram com o crime organizado); e nas demais periferias o povo continua sem saneamento básico, sem saúde, sem educação de qualidade e, principalmente sem segurança, sob a tutela de criminosos impiedosos, sem escrúpulos e sem cultura.

O POVO REAGE... TARDIAMENTE

Muitos se arvoram a culpar somente a presidente Dilma. É um erro de constatação. Lembro aqui uma entrevista do Ex-ministro Dílson Funaro, tempos depois das desgraças causadas pelo Plano Cruzado, onde ele dizia que foi ao Presidente Sarney, em julho de 1986, pedir-lhe que liberasse a economia e descongelasse os preços. Depois de enrolá-lo por um mês, o presidente Sarney foi sincero e lhe falou: “Vá ao outro presidente pedir-lhe autorização.” O ministro contou que foi ao “outro” e se encontrou com o poderoso Presidente da Câmara “Ulisses Guimarães” e lhe explicou que a não liberação da economia causaria um estrago no país. Ulisses lhe respondeu que só autorizaria a liberação depois das eleições daquele ano. Dílson Funaro argumentou que o povo pagaria um preço muito alto. Ouviu, então, de Ulisses: “O povo está acostumado a sofrer. Depois, damos-lhe futebol e cestas básicas”. No final daquele ano o PMDB elegeu quase a totalidade dos governadores dos estados e fez a maioria maciça do Congresso Nacional, além de eleger, também, as maiorias das assembleias legislativas. O Plano Cruzado foi, logo depois das eleições, liberado e o país quebrou, tomado por uma inflação que chegou quase aos 100% mensais.
Será que não aprendemos a lição de dor e desamor imposta pelos políticos em 1986? Já se passaram praticamente 28 anos desde que sofremos o revés e o terror de ver a economia afundar por incompetência e corrupção dos políticos. Será que tudo que sofremos naquele tempo vai se repetir agora? Não podemos mais aceitar situações como a de 1986, esquecendo as lições da história, mesmo sabendo que muitos jovens e adultos de hoje ainda nem tinham nascido naquele tempo. Ou será que esquecemos, uma vez que Sarney (o presidente do Plano Cruzado) ainda continua no poder?

Texto de autoria de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagens:  arquivo O Globo. 
               



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