Ouviram do Ipiranga as margens
plácidas...
“Ó pátria amada,
idolatrada,
salve! Salve!”
Brasil, um sonho intenso, um raio
vívido...
Sempre que participo de uma cerimônia ou evento cívico, onde o Hino
Nacional Brasileiro antecipa a abertura oficial, fico emocionado. Durante os
anos de chumbo, na minha infância e adolescência, fui ensinado, ao ouvir o
Hino, a perfilar-me de frente com a Bandeira Nacional, em posição de sentido,
com a cabeça erguida, olhando o firmamento e a cantar o Hino junto com todos os
presentes ao evento. Ao término do Hino fui, também, ensinado a aplaudir.
Custei a entender que os aplausos são para o Brasil.
O tempo passou e com ele a Ditadura Militar que nos obrigava a ficar em
fila indiana diante de um mastro com a Bandeira do Brasil hasteada, antes de
entrar em sala de aula, e a cantar o Hino Nacional. Eu morava em Andrelândia
onde os invernos costumam ser rigorosos e não era fácil aguentar o Professor durão,
com jeito de militar, gritando que deveríamos idolatrar a Bandeira do Brasil e
cantar o Hino Nacional inteirinho debaixo de uma temperatura de quase um grau
centígrado. Ao fim da Ditadura, já adulto e morando em Volta Redonda, compreendi
que fui enganado pelos militares, pelo professor durão e pelas freiras da
escola que bajulavam o poder vigente. Todos eles ajudaram a construir um país
fictício. Os governantes déspotas perseguiam seus opositores, prendiam-nos e
mandavam mata-los, muitas das vezes. Noutra esteira, esses mesmos déspotas
alienavam o Brasil em troca de dólares com a desculpa de que usariam o dinheiro
no desenvolvimento da nação. Na verdade, usavam o dinheiro em benefício próprio
e dos seus aliados. Esses mesmos déspotas aceitaram que viessem se instalar no
Brasil as sucatas das indústrias da Europa e dos Estados Unidos. Esses mesmos
déspotas aniquilaram a nascente indústria brasileira que se solidificava no
esteio da competência de empresários nacionais e nacionalistas.
Vinte anos de ditadura militar transformou o Brasil no que ele é hoje:
uma nação onde uma grande parte do seu povo não tem amor algum pela terra onde
pisa; uma nação onde uma parte da juventude de periferia cresce acreditando que
bandido também é mocinho; uma nação onde parte das polícias é bandida; e uma
nação onde todas as instituições estão corrompidas.
Nada mudou daqueles tempos para os tempos de hoje. Os políticos
continuam os mesmos, de Sarney a Collor. Azeredo renunciou para escapar da
cassação e da prisão; Os Perrelas estão sendo investigado por suspeita de
associação ao tráfico em Minas Gerais; Os desvios de recursos para pagar
propinas nas obras o metrô de São Paulo ultrapassam as cifras dos bilhões; e
até agora, somente José Dirceu e sua trupe foi presa pelo Batman do STF (que
adora os holofotes da imprensa).
Enquanto isso, o Brasil se prepara para a Copa do Mundo, construindo e
reformando estádios; privatizando aeroportos, estradas, portos e rodoviárias; o
exército está ocupando o Complexo da Maré no Rio de Janeiro (conjunto de
favelas onde operam grandes traficantes) na esteira dos jogos da Copa, tendo em
vista o fracasso das Unidades de Polícias Pacificadoras - UPPs (essas unidades
se tornaram inoperantes e muitas delas se envolveram com o crime organizado); e
nas demais periferias o povo continua sem saneamento básico, sem saúde, sem
educação de qualidade e, principalmente sem segurança, sob a tutela de
criminosos impiedosos, sem escrúpulos e sem cultura.
O POVO REAGE... TARDIAMENTE
Muitos se arvoram a culpar somente a presidente Dilma. É um erro de
constatação. Lembro aqui uma entrevista do Ex-ministro Dílson Funaro, tempos depois
das desgraças causadas pelo Plano Cruzado, onde ele dizia que foi ao Presidente
Sarney, em julho de 1986, pedir-lhe que liberasse a economia e descongelasse os
preços. Depois de enrolá-lo por um mês, o presidente Sarney foi sincero e lhe
falou: “Vá ao outro presidente pedir-lhe autorização.” O ministro contou que
foi ao “outro” e se encontrou com o poderoso Presidente da Câmara “Ulisses
Guimarães” e lhe explicou que a não liberação da economia causaria um estrago
no país. Ulisses lhe respondeu que só autorizaria a liberação depois das
eleições daquele ano. Dílson Funaro argumentou que o povo pagaria um preço
muito alto. Ouviu, então, de Ulisses: “O povo está acostumado a sofrer. Depois,
damos-lhe futebol e cestas básicas”. No final daquele ano o PMDB elegeu quase a
totalidade dos governadores dos estados e fez a maioria maciça do Congresso
Nacional, além de eleger, também, as maiorias das assembleias legislativas. O
Plano Cruzado foi, logo depois das eleições, liberado e o país quebrou, tomado
por uma inflação que chegou quase aos 100% mensais.
Será que não aprendemos a lição de dor e desamor imposta pelos
políticos em 1986? Já se passaram praticamente 28 anos desde que sofremos o
revés e o terror de ver a economia afundar por incompetência e corrupção dos
políticos. Será que tudo que sofremos naquele tempo vai se repetir agora? Não
podemos mais aceitar situações como a de 1986, esquecendo as lições da
história, mesmo sabendo que muitos jovens e adultos de hoje ainda nem tinham
nascido naquele tempo. Ou será que esquecemos, uma vez que Sarney (o presidente
do Plano Cruzado) ainda continua no poder?
Texto de autoria de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagens: arquivo O Globo.
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