Como uma nação
pode falar em igualdade social, apresentar-se como sede de uma copa do mundo e
de olimpíadas quando um jovem de dezesseis anos entra em um supermercado, tenta
roubar, faz uma refém e é morto pela polícia? Como, se após esse fato, no dia
de hoje, os traficantes do bairro onde ele morava (São Mateus, em São Paulo)
ordenaram que todas as lojas fossem fechadas e promoveram uma passeata com
quebra-quebra pelas ruas afora. Nenhuma loja ousou abrir suas portas diante do
poder e da lei do crime. Outro jovem de 16 anos foi assassinado ao tentar
salvar o irmão de ser morto por dois bandidos (aparentando serem adolescentes)
em uma moto. Na mesma linha cruel, um adolescente foi morto ao se negar a entregar
o par de tênis a dois assaltantes, também, sobre motos.
Onde está o
paralelo dessas mortes? Todos os assassinos são jovens, na sua maioria viciados
em cocaína, crack e maconha. Numa ordem cronológica roubam motos, pequenos
comércios de bairros, tênis e carros (a preferência deles são as motos). Esses
jovens, quando não são mortos em confrontos com a polícia (muito melhor
preparada para confrontos armados), são presos e demonstram desprezo para com a
vida. A imprensa tem dito que esses criminosos são frios no momento de
assumirem seus crimes. Há que se discordar dessas conclusões. Na verdade, eles
demonstram desprezo para com as suas vidas e para com as vidas alheias. Quando perguntados
se não têm medo de serem mortos pela polícia, respondem: “Uma hora a gente tem
que morrer mesmo, seu doutor. Tô nem aí pra vida e muito menos pra morte”.
Os “rolezinhos”
em shoppings, os movimentos, tipo black bloc na manifestações de ruas, os
arrastões em túneis e prédios, os vários ônibus queimados e os assaltos em
lojas, demonstram que se está havendo uma síndrome social que precisa ser
estudada a fundo para se criar mecanismos que impeçam o seu alastramento de
forma desordenada. O que se vê é o completo desrespeito para com às leis por
uma juventude que se une para provocar o caos.
Quem conhece
os meandros da sociedade e estudou a fundo as civilizações, talvez possa
explicar melhor o que está acontecendo. O que se vê são camadas periféricas, em
parte formadas por jovens delinquentes e outros que vão no “oba-oba”, usando
das redes sociais para protestar contra suas condições sociais (essa é a
questão: eles extravasam suas frustrações e ânsias). Marcam encontros pela
internet e através de telefones celulares e atacam os shoppings – considerados ilhas de
segurança em meio às metrópoles em guerra urbana -, destroem agências bancárias
– símbolos do poder financeiro mundial – e depredam as repartições públicas em
todas as suas esferas – símbolos do poder absoluto do estado e “culpado” pelas
desgraças e desigualdades sociais.
A polícia,
então, é chamada para conter a sanha dos vândalos, como se o caso fosse de
polícia. O caso, na verdade, é de política (políticas públicas sérias
promovidas pelos prefeitos, pelos governadores,
pela presidência da República e pelo Congresso Nacional (maior culpado pelas
desgraças do Brasil). O nosso Congresso Nacional se arrasta em jogos de interesses
pessoais e não é capaz de reformular o nosso Código de Processo Penal e muito
menos o nosso Código Eleitoral. Enquanto parte da nossa juventude vandaliza,
mata e morre por razões fúteis, O PMDB inteiro discute com a Presidente Dilma
os cargos que vai ter para apoiá-la no próximo pleito eleitoral. Enquanto os
traficantes mandam um bairro inteiro da cidade de São Paulo fechar as portas,
as nossas cortes de Justiça estão preocupadas se os condenados no mensalão
estão bem ou mal acomodados e manda o Congresso Nacional pagar os supersalários
dos seus servidores.
E, para
finalizar, ainda aparecem duas malucas, saudosas da Ditadura Militar,
convocando as pessoas em nome da Igreja Católica, para passeata em defesa da fé
e da família. Ora, tenha a “santa paciência”! Como se não soubéssemos que foram
os militares, com a sua malfadada e cruel ditadura, apoiada pelos Estados
Unidos, que atrasaram o Brasil em mais de 50 anos.
Texto de Pedro
Paulo de Oliveira.
Imagens: G1.Globo
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