DESMATAMENTOS CRIMINOSOS; QUEIMADAS; ASSOREAMENTOS DOS RIOS, CÓRREGOS E LAGOS; CONSTRUÇÕES QUE DESTROEM A NATUREZA; E O SONHO DE UM PARQUE CHAMADO MANOEL CAETANO
A água nos últimos meses, em toda
a região Sudeste, tem sido motivo de preocupação das autoridades, principalmente
de prefeituras como a de São Paulo. O sistema Cantareira, responsável pelo
abastecimento de quase toda a capital paulista, chegou ao seu limite mínimo e,
talvez, abaixo do mínimo. Esse bem, do qual 70% do nosso corpo é feito, é
essencial para a manutenção da vida no Planeta Terra. Essa questão é
indiscutível e nem precisa de muitas explicações neste espaço, já que
aprendemos nos primórdios da educação escolar essa premissa. Água – vida –
saúde – sensação de bem estar e frescor. Água potável e pura é sinônimo de boa
saúde.
Até
meados do século XX a expectativa de vida do brasileiro era de no máximo 50
anos. Saneamento básico era luxo para poucos; água potável (sem amebas, oxiúros,
tênias, coliforme fecal e tantas outras doenças graves) era direito de quase
ninguém. Dessa forma a população morria cedo atacada por doenças endêmicas e
epidêmicas. Como a água não chegava potável para a maioria da população, as
pessoas perdiam seus dentes muito cedo, sem nunca terem usado flúor e feito
higiene bucal.
Nos
tempos atuais, embora nosso país ainda esteja muito aquém de quaisquer outros
do chamado Primeiro Mundo, uma grande parte da população tem acesso à água
potável de boa qualidade e saneamento básico. Quando se fala em saneamento
básico, certamente se fala em água, pois é através dela que se programa essa
ação social. Não há como se imaginar uma família subsistindo sem água potável
hoje em dia. Desta forma, a expectativa de vida dos brasileiros alçou a casa
dos 70 anos. Tudo graças ao saneamento básico. Saneamento básico significa
tratamento de saúde preventivo, pessoas saudáveis, bonitas e felizes.
Alguns
fatores sociais, no entanto, têm chamado a atenção e ligado o sinal de alerta
para os cientistas que estudam as ações dose seres humanos no meio ambiente:
desmatamentos e queimadas indiscriminados; assoreamento das margens dos rios,
córregos e lagos em detrimento do turismo predatório, da expansão urbana, da
exploração mineral e da extração de areia para a construção; esgoto industrial
e doméstico sendo despejado nos rios e mares; lixões poluindo os lenções
freáticos; abertura de estradas, loteamentos, distritos industriais e
condomínio sufocando as nascentes de água; e crescimento desenfreado das
cidades sufocando os rios, os córregos, lagos e nascentes, causando tragédias
nos períodos de chuvas (enchentes, deslizamentos, desabamentos...). Embora
esses sejam fenômenos relativos à civilização brasileira, ele se repete em
muitos países subdesenvolvidos e, até mesmo, naqueles que estão no dito
Primeiro Mundo.
Diante
dos desafios impostos pelo crescimento desenfreado das cidades, pelos dejetos
das indústrias e residências despejados nos rios e córregos, pelo desmatamento
e queimadas sem controle, e pela destruição dos rios e mares parece não haver
uma solução em curto prazo, até porque as autoridades brasileiras fazem vista
grossa para o problema, pregando nas cúpulas mundiais de defesa do meio
ambiente uma coisa, se fazendo de defensores ferrenhos da natureza e se
omitindo na realidade, quando deveria agir de forma dura contra os
transgressores das leis e códigos florestais. Na verdade, existe muito lobby em
torno da destruição da natureza. Grandes empresários do ramo imobiliário, das
indústrias e da construção civil têm representantes no Congresso Nacional, nas
Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais, nos Poderes Executivos
(Federal, Estaduais e Municipais) e, até mesmo, nas cortes de justiça.
Quando
a questão é liberar um empreendimento de grande porte, seja industrial ou
imobiliário, que envolve impacto ambiental, os lobistas entram em ação e toda
as certidões são liberadas rapidamente nas prefeituras, no Instituto de
Colonização e Reforma Agrária – INCRA, CODEMAS, cartórios e outros órgãos que
regulam a matéria. Ora, sabe-se e já foi muito noticiado pela mídia que em
regiões de grandes florestas do Brasil os cartórios são coniventes com a
grilagem, com os mineradores e madeireiros. Sabe-se por todo o mundo que esses
grandes mineradores e madeireiros não hesitam em mandar matar aqueles que cruzam
seus caminhos.
Em
nível regional, na Bacia do Alto Rio Grande, numa região que se estende pela
Zona da Mata, Vertentes e Sul de Minas o que se vê são extensas áreas quase
desertificadas. Ao longo dos séculos, iniciando-se na colonização do Brasil, os
primeiros habitantes dessa região simplesmente trataram de explorar e arrancar
tudo que pudessem da terra. Depois de acabar com todas as florestas, passaram a
usar os campos para a atividade agropastoril. A queimada era a forma de renovar
os pastos para o gado (bois, vacas, cavalos, mulas). A terra foi enfraquecendo,
as erosões foram se formando e os rios foram perdendo grande parte do seu
volume de água. No entanto, a população
era baixa e as únicas indústrias poluidoras que existiam eram as fábricas de
queijo e manteiga. Como não se usavam produtos químicos fortes na fabricação
desses produtos, o soro que ia para o rio ainda servia de alimento para os
peixes. Não havia nem esgoto doméstico em grande escala até início do século
XX. As famílias tinham, nos quintais, as famosas casinhas onde faziam suas
necessidades fisiológicas; o sabão usado era de cinza e os seus restos ficava
na terra do quintal; e os restos de comida ficavam nas hortas servindo de
esterco e alimento para as galinhas. No entanto, a realidade de hoje é
completamente diferente: 95% das residências das pequenas e médias cidades
dessa região possuem banheiros e água tratada. No entanto, todo o esgoto
doméstico é despejado nos rios. Varias pequenas indústrias se instalaram na
região, bem como aumentou o número de oficinas e postos de gasolina.
O
Rio Grande, ainda navegável em boa parte do seu leito, já perdeu mais de 20% do
seu volume de água por conta do enfraquecimento dos seus afluentes (isso tudo
em menos de meio século); o Rio Turvo, que corta todo o Município de
Andrelândia, está quase que completamente destruído com a sua água apodrecida,
quase sem peixes e com as suas margens completamente assoreadas. O que se vê,
ao longo do curso desse rio é uma cena lastimável, de cortar o coração: até
meados do século passado podia-se até navegar pelo Rio Turvo; viam-se
pescadores em toda extensão das suas margens, no verão suas águas era a alegria
da maioria da população que o procurava para se refrescar. O Rio Turvo talvez
seja, hoje, o mais castigado dos demais (Capivari, Rio do Peixe, etc...). Ele é
o exemplo de destruição da vida em detrimento de um falso desenvolvimento
econômico. Até por que na maioria das cidades do seu entorno não houve nenhum
desenvolvimento econômico efetivo. Muitas cidades, aliás, perderam sua
importância.
Fica
o alerta, tendo como exemplo o Rio Turvo que corta Andrelândia, de que a
natureza pede socorro e tenta dizer aos seres humanos que eles são parte de um
ecossistema que para subsistir precisa do cuidado de cada um de nós.
Foi
criado um parque ao longo de parte do curso do Rio Turvo, denominado Parque
Manoel Caetano (em homenagem a um dos primeiros moradores da região, amigo de
André da Silveira). A intenção desse parque foi a de proteger o Rio Turvo
contra a sua destruição. O mentor do projeto de lei, salvo engano deste
redator, foi o Promotor de Justiça, também andrelandense, Dr. Marcos Paulo de
Souza Miranda. Contudo, desde a sanção da Lei em 2005 até hoje, tudo não passou
de intenção. – Intenção no papel. Nada foi feito de efetivo para recuperar as
nascentes e as margens do rio. O Parque Manoel Caetano, nascido para proteger o
Rio Turvo, é mais uma boa intenção tal quais as muitas leis que já existem no
Brasil. Nessa lei foi delineado, inclusive, o perímetro do parque. No entanto,
lamentavelmente, nenhuma obra foi feita e o Rio Turvo, gênese de uma
civilização, continua sendo assassinado lentamente. Para os incautos que olham
com descaso os rios e acreditam nas boas intenções dos políticos que só aprovam
as leis, resta lembrar o condenado diante do padre que lhe fala de boas
intensões em vida para salvar a alma: “o inferno está cheio de boas intenções,
seu vigário. Vou morrer assim mesmo!” – Responde o condenado aceitando seu fim.
Texto de responsabilidade de Pedro Paulo de Oliveira
Imagens: estradasbrasil.com
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