quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O RELATÓRIO DA MENTIRA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL.




31 de março de 1964. Uma série de mentiras escandalosas que se espalhariam pelo Brasil como praga. Os militares, defendendo interesses de grupos corporativos e de países como os Estados Unidos e vários outros da Europa, liderados pela Inglaterra, impuseram um vergonhoso sistema de governo aos brasileiros. Dessa farsa participaram homens como Jarbas Passarinho, Olavo Setúbal, Magalhães Pinto, entre outros empresários de peso. A desculpa para o Golpe militar foi de que João Goulart, que havia substituído Jânio quadros estava prestes a se unir com a União Soviética no auge da Guerra Fria. 






Como surgiu a Guerra Fria? Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido em dois blocos pelas duas superpotências bélicas que comandaram a derrota dos alemães e japoneses. Essas duas superpotências, Estados Unidos e Rússia, racharam a Alemanha ao meio e impuseram ditaduras, cada uma ao seu modo pelo resto do mundo. Pior de tudo: para impor essas ditaduras, ambas tramavam derrubadas de governos onde seus interesses estavam em jogo e, na maioria das vezes, em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Como quem está no poder não quer largar o osso, esses governantes, apoiados por um ou outro lado, iniciavam uma carnificina, sendo, inclusive abastecidos belicamente pela potência que os apoiava. Hoje, ainda acontece isso. É o caso da Síria, onde o governo ditatorial tem o expresso apoio da Rússia e os rebeldes são apoiados pelos Estados Unidos e pela França com o intuito de derrubar o ditador. É uma guerra civil injusta e cruel, onde quem mais morre e sofre são os civis, incluindo milhares de crianças. A Guerra Fria nunca acabou.



O parágrafo anterior nos situa no tempo e no espaço com relação aos governos contemporâneos, por que eles existem e permanecem nas suas formas cruéis. Voltando ao Brasil e ao seu período mais negro, vemos os militares defendendo, de 1964 a 1985, os interesses de multinacionais, bancos privados, e setores retrógrados do campo. A Igreja Católica, nesse período, se dividiu entre o bem e o mal, uma parte apoiando os militares e outra parte defendendo os perseguidos pela ditadura. Logo no início do Golpe Militar, setores avançados da sociedade se posicionaram contra o golpe e o regime reinante inciou a caça às bruxas com muitos trabalhadores, intelectuais e estudantes sendo tachados de comunistas. Foram editados atos institucionais com poder de lei máxima. Direitos civis foram cassados e o pior dos atos foi o de número 5 que fechou o congresso, prendeu e exilou parlamentares, artistas e intelectuais, além de, sob a sua égide, os órgãos de segurança do governo prenderam, torturaram e mataram muitos brasileiros.




Como foi dito, parte da Igreja Católica foi conivente com o golpe; muitos empresários, intelectuais e políticos não só apoiaram o Golpe Militar, mas se beneficiaram dele, se enriquecendo às suas custas. Só para citar três exemplos de descalabros durante a ditadura militar, basta nos lembrarmos das construções da Transamazônica, da Ferrovia do Aço e da usina de Itaipu. Essas três obras quebraram o país e não deram em nada. Hoje, a Transamazônica é um problema sem solução, feito de lama e buracos; a Ferrovia do Aço virou MRS, entregue, de graça, para a Iniciativa privada; e a Usina de Itaipu gera mais lucro para o Paraguai do que para o Brasil.

Por conta de 21 anos de governo feito à base do fuzil, dos tanques urutus e de mentiras, tal como o milagre brasileiro, que teve o seu auge na década de 70 com a seleção canarinho, muitos brasileiros desapareceram nos porões do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS, principalmente sob a covardia do delegado Sérgio Freury em São Paulo. 




Com a sua sanha e o seu poder, a ditadura Militar criou heróis à esquerda, entre eles Carlos Marighella, Carlos Lamarca e Vladimir Herzog. Esses homens lutaram pela liberdade do seu povo e pela independência do Brasil nesse período negro. Perderam suas vidas de forma cruel e covarde. Além deles, outros milhares de brasileiros sucumbiram defendendo o Brasil.

Aos trancos e barrancos, depois de mais de 20 anos de queda da ditadura militar, surgiu a Comissão da Verdade, com o intuito de esclarecer os crimes cometidos durante o regime imposto pelos militares. Até o momento, muitas vítimas foram indenizadas e nomes de torturadores foram divulgados. O caso mais recente e emblemático está no relatório que mostrou o que todo historiador chinfrim já sabia: que o General Artur da Costa e Silva, que governou nosso país de 1966 a 1969 e foi o autor do Ato Institucional de número 5, entrou para a história como um dos maiores carrascos da ditadura militar. Com a divulgação desse relatório, o Prefeito de Taquari – RS, cidade natal do famigerado general, mandou derrubar uma estátua em sua homenagem que estava na principal praça da cidade desde o ano de 1976.

A Comissão da Verdade, criada por lei e mantida à custa dos cofres públicos, tem feito seu trabalho como pode. Como pode, tendo em vista que vai apontar muitos carrascos e ninguém será punido. Os militares sequer aceitam abrir todos os arquivos da ditadura e muitos nomes citados estão sob a proteção da lei que proíbe que eles sejam punidos. No entanto, uma investigação histórica deveria se munir de forças capazes de desvendar profundamente os fatos. Quando autores de acontecimentos detêm poder para mascarar e esconder dados, invalidam e colocam sob suspeita as conclusões dos investigadores.



Não há luzes nas investigações da Comissão da Verdade, já que ela tem restrições para investigar e concluir suas investigações. Como mostrar ao Brasil que houve atrocidades praticadas por militares, como os generais presidentes, e por civis, como os delegados comandantes do DOPS, se dados, nomes e fatos são ocultados? Essa Comissão, com toda a expectativa criada durante a sua formação, está desacreditada. Ou ela tem poder para mostrar toda a verdade histórica ou se desmancha toda a estrutura montada para mostrar meias verdades ou o que todo mundo já sabia: que os militares, por mais de 20 anos, perseguiram, torturam e mataram centenas de inocentes no Brasil. 

 Do jeito que está, parece que o Coronel Telhada e o Lobão têm razão.

Dizem que não existe meias verdades. Mas, meias mentiras, eu tenho certeza que existem.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

            Imagens: Estadão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

NAYRA E O CHAVELHO DE ESPINHOS NA FAIXA DE GAZA

" Esses pequeninos, cheios de sonhos, sonhos que embalam o mundo, distantes das       ambições e da crueldade dos homens e mulheres que...