31 de março de
1964. Uma série de mentiras escandalosas que se espalhariam pelo
Brasil como praga. Os militares, defendendo interesses de grupos corporativos e
de países como os Estados Unidos e vários outros da Europa, liderados pela
Inglaterra, impuseram um vergonhoso sistema de governo aos brasileiros. Dessa
farsa participaram homens como Jarbas Passarinho, Olavo Setúbal, Magalhães Pinto,
entre outros empresários de peso. A desculpa para o Golpe militar foi de que
João Goulart, que havia substituído Jânio quadros estava prestes a se unir com
a União Soviética no auge da Guerra Fria.
Como surgiu a
Guerra Fria? Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo foi
dividido em dois blocos pelas duas superpotências bélicas que comandaram a
derrota dos alemães e japoneses. Essas duas superpotências, Estados Unidos e
Rússia, racharam a Alemanha ao meio e impuseram ditaduras, cada uma ao seu
modo pelo resto do mundo. Pior de tudo: para impor essas ditaduras, ambas
tramavam derrubadas de governos onde seus interesses estavam em jogo e, na
maioria das vezes, em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Como quem
está no poder não quer largar o osso, esses governantes, apoiados por um ou
outro lado, iniciavam uma carnificina, sendo, inclusive abastecidos belicamente
pela potência que os apoiava. Hoje, ainda acontece isso. É o caso da Síria, onde o
governo ditatorial tem o expresso apoio da Rússia e os rebeldes são apoiados
pelos Estados Unidos e pela França com o intuito de derrubar o ditador. É uma guerra
civil injusta e cruel, onde quem mais morre e sofre são os civis, incluindo milhares de
crianças. A Guerra Fria nunca acabou.
O parágrafo anterior nos situa no tempo e no espaço com relação aos governos contemporâneos, por que eles existem e permanecem nas suas formas cruéis. Voltando ao Brasil e ao
seu período mais negro, vemos os militares defendendo, de 1964 a 1985, os
interesses de multinacionais, bancos privados, e setores retrógrados do campo.
A Igreja Católica, nesse período, se dividiu entre o bem e o mal, uma parte
apoiando os militares e outra parte defendendo os perseguidos pela ditadura.
Logo no início do Golpe Militar, setores avançados da sociedade se posicionaram
contra o golpe e o regime reinante inciou a caça às bruxas com muitos trabalhadores, intelectuais
e estudantes sendo tachados de comunistas. Foram editados atos institucionais com poder de lei máxima. Direitos civis foram cassados e o pior dos atos foi o de número 5 que fechou o congresso,
prendeu e exilou parlamentares, artistas e intelectuais, além de, sob a sua égide,
os órgãos de segurança do governo prenderam, torturaram e mataram muitos brasileiros.
Como foi dito,
parte da Igreja Católica foi conivente com o golpe; muitos empresários,
intelectuais e políticos não só apoiaram o Golpe Militar, mas se beneficiaram
dele, se enriquecendo às suas custas. Só para citar três exemplos de descalabros
durante a ditadura militar, basta nos lembrarmos das construções da Transamazônica, da
Ferrovia do Aço e da usina de Itaipu. Essas três obras quebraram o país e não
deram em nada. Hoje, a Transamazônica é um problema sem solução, feito de lama e
buracos; a Ferrovia do Aço virou MRS, entregue, de graça, para a Iniciativa
privada; e a Usina de Itaipu gera mais lucro para o Paraguai do que para o
Brasil.
Por conta de
21 anos de governo feito à base do fuzil, dos tanques urutus e de mentiras, tal
como o milagre brasileiro, que teve o seu auge na década de 70 com a
seleção canarinho, muitos brasileiros desapareceram nos porões do Departamento
de Ordem Política e Social – DOPS, principalmente sob a covardia do delegado
Sérgio Freury em São Paulo.
Com a sua
sanha e o seu poder, a ditadura Militar criou heróis à esquerda, entre eles Carlos
Marighella, Carlos Lamarca e Vladimir Herzog. Esses homens lutaram pela
liberdade do seu povo e pela independência do Brasil nesse período negro.
Perderam suas vidas de forma cruel e covarde. Além deles, outros milhares de
brasileiros sucumbiram defendendo o Brasil.
Aos trancos e
barrancos, depois de mais de 20 anos de queda da ditadura militar, surgiu a
Comissão da Verdade, com o intuito de esclarecer os crimes cometidos durante o
regime imposto pelos militares. Até o momento, muitas vítimas foram indenizadas
e nomes de torturadores foram divulgados. O caso mais recente e emblemático
está no relatório que mostrou o que todo historiador chinfrim já sabia: que o
General Artur da Costa e Silva, que governou nosso país de 1966 a 1969 e foi o
autor do Ato Institucional de número 5, entrou para a história como um dos
maiores carrascos da ditadura militar. Com a divulgação desse relatório, o
Prefeito de Taquari – RS, cidade natal do famigerado general, mandou derrubar
uma estátua em sua homenagem que estava na principal praça da cidade desde o
ano de 1976.
A Comissão da
Verdade, criada por lei e mantida à custa dos cofres públicos, tem feito seu
trabalho como pode. Como pode, tendo em vista que vai apontar muitos carrascos
e ninguém será punido. Os militares sequer aceitam abrir todos os arquivos da
ditadura e muitos nomes citados estão sob a proteção da lei que proíbe que eles
sejam punidos. No entanto, uma investigação histórica deveria se munir de forças capazes de
desvendar profundamente os fatos. Quando autores de acontecimentos detêm poder
para mascarar e esconder dados, invalidam e colocam sob suspeita as conclusões
dos investigadores.
Não há luzes
nas investigações da Comissão da Verdade, já que ela tem restrições para
investigar e concluir suas investigações. Como mostrar ao Brasil que houve
atrocidades praticadas por militares, como os generais presidentes, e por
civis, como os delegados comandantes do DOPS, se dados, nomes e fatos são
ocultados? Essa Comissão, com toda a expectativa criada durante a sua formação,
está desacreditada. Ou ela tem poder para mostrar toda a verdade histórica ou
se desmancha toda a estrutura montada para mostrar meias verdades ou o que todo
mundo já sabia: que os militares, por mais de 20 anos, perseguiram, torturam e
mataram centenas de inocentes no Brasil.
Do jeito que está, parece que o Coronel
Telhada e o Lobão têm razão.
Dizem que não existe meias verdades. Mas, meias mentiras, eu tenho certeza que existem.
Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
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