ATENTADO NA FRANÇA, O ABSURDO DAS MORTES ANUNCIADAS.
Quando se publica uma matéria
sobre uma questão tão delicada quanto atentados terroristas e, no caso em
questão, na França e que vitimou Georges Wolinsk, parece que o comentaristas de
plantão, na sua maioria idiotas que fazem críticas sem sentido, se acovardam e
se escondem na sua hipocrisia.
O que aconteceu na França deveria servir como alerta para a questão cultural, plural e equivocada no mundo contemporâneo, e a liberdade de poder se expressar sem ferir o orgulho alheio. Georges Wolinsk e seus amigos mortos nesse atentado sabiam do perigo que corriam (se não sabiam, eram idiotas). Ao publicar charges cômicas sobre o Profeta Maomé eles, na verdade, estavam criticando todo um sistema (pelo menos assim pensavam) e os movimentos islâmicos não perdoam esse tipo de ação. Assim, Wolinski, Charb, Chabou e Tignous, ao serem mortos, estavam cientes da sua condição de inimigos da causa islâmica.
A cultura francesa perde com essas mortes? Claro que sim. Mas quem perde mais com esse atentado, que pegou as autoridades francesas de calças curtas, é o mundo e a paz. A guerra entre o Ocidente e o Oriente parece não ter fim e ganha novos ingredientes a cada dia, como um bolo em que se coloca fermento demais e, depois de assado, não serve mais para comer.
O mundo islâmico está fervilhando
de protestos e olha que não é de pouca gente: passa dos milhões. Esses
protestos vão passar? Claro que sim. São endêmicos e representam a comoção do
momento. Mas o terrorismo, cria do próprio Ocidente, só tende a crescer e a
fazer novas vítimas. O temido Estado Islâmico agora, além de sequestrar, julgar
sumariamente e executar com requintes de crueldade, resolveu pedir resgate em
troca de algumas vítimas. Onde vai parar essa sanha por vingança de uma gente
que acredita na Guerra Santa e que os governantes ocidentais acreditam que vão
vencer? Como eles estão enganados.
Será que o Ocidente nunca vai compreender que não se faz amigos com desrespeito às tradições alheias e sobre o açoite?
Será que o Ocidente nunca vai compreender que não se faz amigos com desrespeito às tradições alheias e sobre o açoite?
Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Especialista em História, Estudante de Direito, Palestrante e Consultor Legislativo e Executivo.
ABAIXO, TRANSCREVO TEXTO ELABORADO COM EXTREMA MAESTRIA, POR LEONARDO SARMENTO, SOBRE O MESMO TEMA, ONDE O AUTOR COMPARA A COMOÇÃO CAUSADA PELAS MORTES NA FRANÇA COM O DESCASO COM RELAÇÃO AOS MASSACRES RECENTES OCORRIDOS NA NIGÉRIA.
Trataremos de assuntos extremamente delicados e
controversos onde a esfera racional por variados instantes cede espaço para que
a esfera da emoção se faça prevalecer. Até para nós, estudiosos do direito, há
inelutável dificuldade para se emprestar uma análise cognitiva que se mostre
satisfativa. O artigo divide-se em duas temáticas distintas, mas
complementares.
Neste momento é que os métodos de Alexy e Dworkin
parecem falhos, quando inferimos a necessidade de sopesarmos, ponderarmos bens
tuteláveis de tão expressivo valor e realidades, mas o direito não pode se
acabrunhar e deve viabilizar uma decisão interpretativa que na maior medida
possível mostre-se aproximada da justiça e da equidade.
Pelo menos 400 pessoas morreram na Nigéria em um
novo ataque supostamente cometido pela seita radical islâmica Boko Haram no
estado de Borno, no norte da Nigéria nos primeiros meses de 2014. Você que leu
esta notícia hoje, lembra de tê-la visto nos noticiários? Lembra-se, por
quantos dias? Com que perplexidade?
Pois no final da 2ª quinzena de janeiro de 2015
(dia 12), a Organização Humanitária Anistia Internacional calcula que cerca de
2.000 pessoas foram chacinadas pela mesma seita de extremistas islâmicos que
teriam assumido o controle de Baga e arredores há 15 dias. Pergunto: Você
leitor, teve conhecimento deste fato? Quantas vezes já ouviram ou leram nos
noticiários? O mundo está reunindo-se em alguma marcha histórica que reunirá 3,7
milhões de pessoas pelas vidas dos Nigerianos massacrados?
Em outro hemisfério, com outra visibilidade, com
outra perspectiva de “comoção mundial”, desta vez na França, 17 mortos, entre
eles as 12 pessoas que morreram em um atentado contra a sede do jornal
"Charlie Hebdo", este a mais de uma semana tomou conta dos
noticiários do mundo, que participou de uma marcha histórica que reuniu grande
parte dos principais representantes de Estados e de Governos de todo o ocidente
em um verdadeiro “tsunami humano” que tomou conta das ruas de Paris.
Neste momento, sem qualquer grão de hipocrisia, mas
de certa forma impactado pelas perspectivas humanas de valor, perguntemos:
Franceses valem mais que nigerianos? A morte de dezessete franceses causa maior
revolta, repulsa e comoção que a morte de 2000 nigerianos? A morte de brancos
europeus é mais dolorosa que a morte de negros africanos?
Estas perguntas deixamos com o fim de provocar uma
autorreflexão de nossas representações neste mundo, de nossas diferenças,
importâncias e prioridades. Mensuremos nosso potencial para produzirmos
hipocrisias em nossas relações humanas e o valor que atribuímos aos humanos,
negros, brancos, amarelos ou da cor de pelé que representemos aos olhos do
mundo. Será que somos capazes de conscientemente tarifarmos a vida humana pela
cor, Estado, fé religiosa ou cultura que representamos?
Já articulamos a respeito deste trágico e
lamentável acontecimento ocorrido em território francês, artigo publicado em
diversos meios: “A hostil relação entre o terrorismo e as liberdades de
expressão democráticas: algumas inferências pontuais”. No artigo tivemos a
oportunidade de assentar por outras palavras, que liberdade só é possível de
ser atribuída se acompanhada de responsabilidade. Liberdade irresponsável é anarquia
e não Estado Democrático de Direito. Assim, devemos assentar que liberdade é um
valor relativo e não absoluto, e por isso deve ser sopesado com outros valores
que estejam em conflito, para extrairmos o máximo de cada um evitando-se o
aniquilamento do outro, aí incluindo-se a liberdade de expressão. Esta, uma
visão neoconstitucionalista que ilumina a ciência do Direito Constitucional
contemporâneo.
Ao analisarmos boa parcela das charges do jornal
"Charlie Hebdo", que teve 12 de seus chargistas brutalmente
assassinados, percebemos que muitas destas charges não cumprem o seu papel de
promover uma ironia política de bom gosto, ao contrário, muitas delas são
grosseiras, de menor potencial criativo e apenas promovem de forma tosca uma
violência emocional absolutamente desnecessária.
Aqui não se quer defender a reação absolutamente
desproporcional dos extremistas islâmicos, ao contrário, desta reação há que se
ter o maior repúdio. Aqui se assenta que, a liberdade de expressão “à priori” é
de fato livre, (com o perdão da redundância), mas quando tomada pelo excesso
capaz de promover dano sem fundamento razoável em qualquer de suas formas, deve
sim, ser responsabilizada na medida de seu excesso. Censura jamais,
responsabilidade sempre, que entendamos seus limites.
Talvez, se no passado o Estado Francês houvesse
responsabilizado o jornal "Charlie Hebdo" por seus excessos
costumeiros absolutamente despropositados e de gosto duvidoso, este absurdo
promovido pelos extremistas não houvesse sido praticado, apenas a título de
mera suposição, conjeturando. Não estamos aqui culpando como responsável direto
o Estado francês por uma reação tão desproporcional de uma fé extremista, mas
pode de certa forma haver contribuído para o resultado absolutamente lamentável
que prosperou.
ALGUMAS CHARGES DO JORNAL CHARLIE HEBDO
QUE PROVOCARAM A IRA DOS TERRORISTAS
Lembremos para finalizar que, para cultura
Muçulmana, precipuamente aos extremistas muçulmanos, a vida e a morte possuem
outros significados que os atribuídos no seio das culturas ocidentais, em boa
parte catequizada pela fé Cristã. Aos muçulmanos (significado: aqueles que se
submetem a Alá), o Islã prevalecerá sobre a terra, os extremistas acreditam que
a realização da profecia do Islã e seu domínio sobre todo o mundo, como
descrito no Corão, é para os nossos dias. Cada vitória de um extremista Muçulmano
convence milhões de muçulmanos moderados a se tornarem extremistas. Matar e
morrer por Alá, para os extremistas do Islã, é sinal de um poder absoluto que
passam a ostentar para um posterior descanso no paraíso do além-vida.
Cultura absolutamente estranha e doentia aos olhos
do ocidente, mas que está incrustada na cultura religiosa dos mais ortodoxos do
Islã, que recebem já durante nos primeiros anos da infância uma verdadeira
lavagem cerebral de uma doutrina desviada do que pregam os bons praticantes do Islã.
Nesta absoluta discrepância do entendimento de vida
e morte que carregamos e que os extremistas muçulmanos carregam, que
deveríamos, se não por respeito ao que nos parece absolutamente doentio e
desviado da boa fé, por questão de segurança dos não praticantes do Islã,
abdicarmos de satirizar o que para eles é intocável. Senão por reSpeito, por
inteligência.
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