quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A PRESIDENTE DO CLÃ QUE FICOU ÓRFÃ





Imaginemos a história ou a estória -como preferirem – de uma criança, uma menina, criada num lugar onde todos a veneravam, cercada de empregados fiés e prontos a servi-la a todo momento, e onde os seus desejos eram atendidos; imaginemos que essa criança era filha de um pai, chamado de o “pai de todos”, estremamente habilidoso em se cercar de pessoas e negociar para que o lugar onde moravam estivesse sempre harmonioso e nada faltasse nem para a sua família e muito menos para os serviçais.

Essa criança, na verdade, fora adotada, recebeu o nome de Equidna, e cresceu junto ao “pai de todos”, aquele ser habilidoso, negociante esperto, que sabia burlar os devedores, trocar favores e ganhar divedendos pela sua alta capacidade de falácia, um verdadeiro senhor da guerra.

O lugar onde moravam foi adquirido através de uma longa disputa e logo que se viu dono de tudo o “pai de todos” tratou de expulsar os seus antigos administradores e colocou outros em seus lugares, de sua confiança, pagando-lhes, diga-se de passagem, muito bem. A sua ideia era formar um clã e, para isso, ele trabalhou com afinco, tendo ao seu lado, fiés escudeiros. Os antigos empregados, serviçais que eram considerados ralé pelos antigos donos do lugar, foram erguidos a condições superiores, passando a fazer parte do novo clã. Tudo isso o “pai de todos” fez para fortalecer o clã, pois sabia que, quando se aproximasse o oitavo ano à frente do clã, a disputa se reiniciaria e ele precisaria ter ao seu lado, todos fiés, empregados, administradores e vizinhos.

Sete longos anos se passaram e o clã se fortaleceu. Mas, para que o clã se tornasse forte, o “pai de todos” necessitou fazer muitos acordos esdrúxulos e perigosos com os antigos empregados e com os vizinhos velhacos para que o reino não fosse invadido pelos inimigos que o desejavam ardedemente para si. Pagou dinheiro alto e desviado dos cofres do clã para mantê-los como aliados na proteção do reino.

Enquanto o “pai de todos” construia e solidificava o clã, a menina se transformou numa mulher e a preferida dele. Como ele tinha outros muitos filhos, gerou uma ciumeira doida. Mas, ele era o chefe do clã. Bateu o pé e deixou claro que seria ela a substitui-lo no comando do clã.

Quando se iniciou a disputa, o “pai de todos” se colocou no comando das estratégias e, com a sua habilidade costumeira, lembrando a todos que ele havia nascido das cinzas, alçou a glória e tirou a ralé da miséria. Com esse discurso e pagando muito bem para os vizinhos protegerem o clã, teve o apoio de todos para indicar sua pupila para substitui-lo.

Equidna deveria assumir o papel de “mãe de todos”. Mas, assim que assumiu a direção do clã, mostrou-se inábil para negociar com empregados, administradores e vizinhos. Descobriu, logo no início, que os poços de água da mansão serviam para abastecer, também, as caixas de água dos vizinhos. A melhor e mais pura água ia para os administradores e vizinhos. Percebeu que os empregados não passavam de massa de manobra nas mãos do “pai de todos”. Era tudo um engodo. Compreendeu que o “pai de todos” era um sabio, hábil caçador, mestre na arte da guerra e da morte.

Nos primeiros quatros anos à frente do clã, Equidna compreendeu que não poderia ser a “mãe de todos”, como o seu pai. O que ela não sabia era da regra, algo previsto e guardado por um feroz lobo sempre pronto a devorar o “pai de todos”, e a ela, se necessário fosse

Logo, todos descobriram que a água dos poços estava sendo desviada para os vizinhos que potegiam o clã. Quando ela abriu os cofres da mansão para pagar as contas, não havia dinheiro suficiente. O lobo, então, rosnou e mostrou a todos as falcatruas que corriam naquele lugar. Os amigos de Equidna começaram a se afastar dela e muitos deles foram arrancados e jogados para fora. Outros, foram enviados para o cadafalso. O “pai de todos” ressurgiu para proteger sua pupila e o clã. O lobo, feroz, rugiu para afastá-lo.

Equidna se sentiu perdida. Recebeu conselhos do “pai de todos”. Tentou segui-los. Não conseguiu. Uma tremenda confusão foi armada e o lobo formou uma matilha e se fortaleceu. Passaram a maquinar para arranca-la do comando do clã. Foi, então, que ela percebeu que os seus vizinhos, antigos aliados, começaram a debandar para o lado do lobo feroz. Tiraram a pele de cordeiro e se transformaram e lobos. Uma grande armadilha foi preparada para tira-la da chefia do clã e a encuralaram com os poucos serviçais que lhe restaram fiéis.

Neste momento... Sim. Tacitamente agora, a menina que se fez mulher e chefe de um clã, está orfã do “pai de todos”, pois o lobo com a sua matilha o expusou do clã. A menina, protegida e fiel ao clã, não conseguiu ser a “mae de todos. O lobo feroz, com a sua matilha, tenta despedaçar o que restou do “pai de todos” e arrancar o poder de Equidna, que luta para se manter de pé e forte com o que lhe restou de fiéis serviçais.

Será que a menina, agora mulher orfã, será devorada pelo lobo feroz, juntamente com o “pai de todos”?



Pedro Paulo de Oliveira

Acadêmico de Direito, Palestrante, Especialista em História.

Imagem: festival do rio

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