sexta-feira, 8 de julho de 2011

ITAMAR FRANCO E O MENINO JUAN MORAES

 A HISTÓRIA PRECISA SER REESCRITA PARA QUE AS INJUSTIÇAS SEJAM PUNIDAS E ENFRENTADAS COM CORAGEM




Estive, durante os últimos dias, pensando em como falar de Itamar Franco e do Menino Juan Moraes ao mesmo tempo. Fiquei meio sem rumo, confesso. Queria unir os dois fatos num só, de maneira que as poucas pessoas que acessam meu blog pudessem assimilar algo de importante nessas duas mortes; de forma que todos pudessem tirar algum proveito, alguma lição dessas duas perdas. Custei a decidir escrever sobre os dois ao mesmo tempo. Hoje, sentei-me defronte ao computador e resolvi escrever aleatoriamente sobre ambos, sem o compromisso de falar de uma convenção, mas apenas pela vontade e pelo dever, como brasileiro, ser humano e cidadão, de expressar-me e falar sobre o que sinto de ambas as mortes.

Sobre Itamar Franco estou mais apto a falar intimamente. Lembro-me dele num primeiro encontro que tivemos, no ano de 1981,em São João Del Rey, no solar dos Neves, ao lado de Tancredo Neves, Aécio Neves - ainda como secretário do avô -, Dona Risoleta - nos servindo café em xícaras de porcelana -, e outros vários políticos da minha cidade. Itamar Franco era, então,candidato a Senador pela chapa Tancredo Neves governador de Minas. Ele sorria sempre, muito espontâneo. Riu ainda mais quando Tancredo contou sobre o medo que passou em Andrelândia ao fazer a barba com o barbeiro que ajudara a condenar quando atuou como promotor naquela comarca. Mas o barbeiro não se vingou. Afinal, não queria ser preso novamente.

Eu estava, naquela época do encontro com Itamar, com apenas 22 anos e senti o que ele mostraria para todo o Brasil a partir de então: um caráter forte e honesto. Venceu a eleição, bem como Tancredo também.

Naquela eleição para o governo de Minas, contudo, eu queria destacar que se não fosse por Itamar Franco, Tancredo Neves jamais teria sido governador de Minas Gerais. Itamar foi o político responsável por aglutinar as s forças da Zona da Mata mineira em torno do nome de Tancredo e, no palanque, com um discurso corajoso, conclamou o povo de Minas Gerais para a mudança. Assim, derrotaram o poderoso ministro da Ditadura Militar, Eliseu Resende.

Muitas outras vezes encontrei com Itamar Franco na sua trajetória política. Só não tive o prazer de encontrá-lo quando ele foi presidente da República. Mas exultei-me quando ele teve coragem de enfrentar o todo poderoso Senador Antônio Carlos Magalhães, mandando-o às favas.

Não conheci o menino Ruan Moraes e não tomei café na sua humilde casa, assim como não conheci a garota negra que foi assassinada em minha cidade e jogada no meio de entulhos há alguns meses atrás. - Até agora não tive notícia sobre o seu provável assassino. - Li que a ossada de Juan foi encontrada às margens de um rio próximo do local em que ele desapareceu e onde ocorreu o possível confronto entre policiais e traficantes. Ele foi enterrado, às pressas, ontem, e sob forte escolta policial (O enterro de Itamar também teve a escolta dos Dragões da Independência diante do Palácio da Liberdade em Belo Horizonte, o seu caixão foi coberto pelas bandeiras de Minas e do Brasil e foi carregado por homens das três forças armadas). Quanto aos familiares de Juan, estão sob a proteção do estado, proteção essa dada a testemunhas sob risco. (a família de Itamar também teve a proteção do estado, suas filhas tiveram avião a disposição e continuarão recebendo os dividendos de Itamar). Mas o pai de Juan está tomado pelo medo de que invadam a sua casa e quer dispensar a proteção do estado.

Bem... O que se tira de tudo isso é que as mortes são diferentes.Infelizmente são. Um, morto por policiais ou bandidos, teve seu corpo totalmente desrespeitado e enterrado em cova rasa; o outro, foi cremado com todo respeito - e merecido respeito - e as suas cinzas foram levadas para Juiz de Fora onde serão guardadas ao lado dos restos mortais da sua mãe.

Que Itamar, após a sua morte, possa ser sempre lembrado como um homem de dignidade e que sobreviveu à corrupção, e que a morte do menino Juan não seja em vão. Que ela sirva para nos mostrar que precisamos reformar nossas instituições e colocar nelas homens melhores para nos proteger, homens como Itamar Franco, que enfrentou Antônio Carlos Magalhães, não deixou que privatizassem a CEMIG, enfrentou Fernando Henrique Cardoso quando ele quis transpor o Rio São Francisco e apoiou, para surpresa de todos, Lula na sua primeira vitória como Presidente.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira

 

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