Para a maioria que pensa que a Copa do Mundo este
ano no Brasil será uma desgraça, ainda não mensurou a tragédia que está
acontecendo no Catar, um país governado por uma monarquia absoluta, onde a
mesma família está no poder desde meados do século XIX. Para se ter uma ideia
do está ocorrendo, basta saber que somente nos últimos
meses morreram mais de 1200 operários nas obras dos estádios bilionários que
estão sendo construídos por lá. A maioria dos trabalhadores é proveniente do
Nepal e da Índia. Essa maioria é formada por miseráveis, arregimentados em povoados
afastados da civilização, esfomeados, e que deixam suas casas e suas famílias
com a promessa de ganhar muito dinheiro no país bilionário dos Emirados Árabes.
Segundo previsões de órgãos dos direitos humanos internacionais, devem morrer
mais de 4.000 operários até 2022, ano que o Catar sediará a Copa do Mundo.
Algumas instituições internacionais de defesa dos
direitos humanos já estão pedindo à FIFA que cancele a Copa do Mundo no Catar.
No entanto, o órgão maior de controle do
futebol no mundo parece que não está nem aí para os miseráveis que estão sendo
aniquilados nas obras do país árabe.
Só para se ter uma ideia dos desamando nesse país
onde as liberdades são privilégios dos detentores do poder, esses trabalhadores
miseráveis são submetidos a turnos de mais de 12 horas, sem condições de
segurança ou higiene, não têm direitos a tratamentos de saúde ou assistência social.
Uma grande parte deles sequer recebe seus salários em dia, trabalhando
em troca de um alojamento sub-humano e de duas refeições diárias de qualidade
duvidosa.
Do outro lado, o Catar tenta passar a imagem de
um país moderno, copiando - e mal copiado – a arquitetura e a arte ocidentais.
Pagam valores astronômicos para artistas norte-americanos e europeus exporem e
venderem suas artes na capital e outras cidades que consideram importantes. O
governo do Catar compra esses artistas e manda prender os artistas locais. O que
não dá para entender são esses artistas se venderem para uma ditadura que
não respeita, no mínimo, os direitos humanos.
Até 2022, muita água vai rolar e muitos
miseráveis ainda vão morrer nas obras bilionárias do Catar, e a FIFA, de olho
nas cifras que entrarão nos seus cofres, pouco vai se importar com um punhado
de miseráveis que morrerão por conta do evento que ela administra.
Quanto à Word Cup 2014 in Brazil, a FIFA, também,
pouco se importa se milhões de reais estão sendo desviados dos cofres públicos
na corrupção passiva e ativa entre governantes e empresários responsáveis pelas
obras dos estádios que sediarão os jogos. Uma coisa é certa: O Brasil não está
preparado para sediar a Copa do Mundo. Basta ver o caos do transporte público, da segurança e da saúde.
A maioria dos países europeus, além dos Estados Unidos, está emitindo
cartilhas, através das agências de viagens, prevenindo os turistas para os
perigos do Brasil, alertando-os, em especial, para o Rio de Janeiro e São Paulo
onde os assaltos e assassinatos de turistas estrangeiros são frequentes.
O mais cruel de tudo, seja no Brasil ou no Catar,
é que prevalece o lucro, a soberba, a corrupção e o desprezo sobre a questão
social. Como entender que se possam gastar bilhões de reais ou de dólares em
obras faraônicas, enquanto milhões passam fome, morrem trabalhando dignamente,
não têm direitos sociais e, muito menos, direito de reclamar?
Texto de Pedro Paulo de Oliveira. -
Especialista em política, palestrante e Consultor Técnico da Cabral e Oliveira.
Imagem: Folha.
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