sexta-feira, 22 de novembro de 2013

JANGO, O NOSSO HERÓI INJUSTIÇADO E RESGATADO




Os Estados Unidos é uma nação por excelência orgulhosa de si própria. Esse orgulho vem da sua história de conquistas que se iniciou no momento em QUE o seu povo, descendente, também, dos bretões decidiu se livrar dos grilhões da Inglaterra e, para isso, contou com a ajuda da França, àquele tempo, inimiga dos ingleses. Foi uma longa e sangrenta guerra a que proporcionou a independência dos Estados Unidos. Dede então, os Estados passou a figurar no cenário mundial como uma nação vanguardista e, em pouco tempo, já era uma das mais poderosas economias do mundo, sem contar o seu poder bélico.

No Dia 04 de Julho os norte-americanos comemoram a sua independência. É um dos dias mais importantes do ano para eles, perdendo, talvez, apenas para o Dia de Ação de Graças. Os desfiles e as comemorações no dia 04 de julho são extraordinários, onde cada cidadão, desde a mais tenra e consciente idade ergue a sua cabeça e encara a bandeira cheia de estrelas com um orgulho exacerbado.

O cidadão norte-americano, de qualquer cor ou credo, tem orgulho do seu nascimento, do seu chão, do seu ar, dos seus governantes e da sua história. Esse orgulho, unido á uma herança imperialista recebida da Inglaterra, os tornou conquistadores por excelência. Eles participaram, praticamente, de todas as guerras do Século XX e impuseram, nos lugares onde eles se realizavam, a sua marca e o seu domínio.

A cultura dos Estados Unidos, hoje, é a mais difundida no mundo e, sempre, com a marca do orgulho do seu povo. Basta assistir aos filmes de super-heróis para observar essa realidade: Homem-Aranha, Batman, Capitão América, dentre tantos outros.

Outra característica especifica do povo norte-americano é a sua capacidade de criar heróis, transformar personagens e mitos, tudo na intensão de promover uma nação e uma raça. Nos últimos dias o povo desse país esteve relembrando a vida e a morte do Presidente John F. Kenedy, assassinado no dia 22 de novembro de 1963, Dallas. Kennedy, se não tivesse sido assassinado de forma tão brutal e se não fosse casado com Jaqueline, bela, inteligente e simpática, teria sido apenas mais governante, tal como foram, antes dele, outros 36. Kennedy era um homem comum, gostava de passeios, mulherengo (uma das suas amantes mais famosas foi Marilyn Monroe) e extremamente dependente da equipe que o colocou no poder. Prova da sua dependência foi a sua decisão desastrada de invadir Cuba pela Bacia dos Porcos. Fidel Castro e Che Guevara lideraram uma guerrilha que humilhou as forças armadas norte-americanas. Mesmo assim, John Kennedy é um herói galante, forte e que, como os titãs, morreu em batalha para se tornar eterno.

Brasil, Século XX. Ano de 1963. O presidente, eleito democraticamente pelo povo é João Goulart – O Jango para todas as pessoas. O país está em convulsão, coma economia estagnada, os salários defasados e o desemprego em alta. Jango dá várias entrevistas, reune sua equipe econômica e, com ela decide: “são necessárias reformas de base para colocar o Brasil nos trilhos e caminharmos para um desenvolvimento social e econômico”. Ele anuncia ao povo que as reformas estão sendo alinhavadas e serão colocadas em práticas no início de 1964. O povo começa a acreditar no seu presidente. No entanto, setores reacionários da economia, ligados a interesses estrangeiros, começam a se movimentar contra o governo de Jango. Iniciam uma campanha severa contra ele, chamando-o de comunista e espalhando, através da imprensa e de movimentos de rua, que o Brasil será entregue para a Rússia e que a propalada reforma de base engloba a reforma agrária, que tomará as terras dos pequenos produtores.

Nos Estados Unidos, o governo de Kennedy se movimenta preocupado com os destinos do maior país da América latina, tendo em vista os interesses das suas empresas instaladas no Brasil. O Pentágono e a CIA montam um plano estratégico para derrubar o Governo de Jango. Agentes da CIA chegam ao Brasil para preparar o fim do governo democrático. Kennedy, no entanto, é assassinado. O mundo está dividido em dois blocos econômicos e militares: o bloco comunista, liderado pela Rússia (antiga União soviética) e o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos. Os planos para derrubar Jango, mesmo diante da tragédia que assola os norte-americanos com a morte do seu presidente, continuam.

Março de 1964. O Congresso, pressionado pelas Forças Armadas, vota a deposição de Jango, poucos dias antes dele anunciar suas Reformas de Base. Jango é o anti-herói, o comunista, baseado numa propaganda muito bem elaborada e anticomunista, montada pela CIA. Jango não é nenhum mito, mas um presidente deposto, arrancado à força pela ameaça das armas; Jango é o presidente deposto pelos reacionários que vendem o Brasil por nada. Enquanto nos Estados Unidos John Kennedy é adorado e chorado, João Goulart é obrigado a fugir para o exílio, evitando, assim, uma guerra civil.

João Goulart morre no exílio, em Mercedes, na Argentina, no dia 06 de dezembro de 1976, oficialmente por ataque cardíaco, aos 57 anos. A imprensa publica algumas notas sobre a sua morte; o governo militar não lhe presta nenhuma homenagem; o povo mal fica sabendo de como foi o seu enterro. O anti-herói do governo déspota do Brasil continua longe do povo.

No entanto, a história pode ser recontada. O Jango de São Borja, claudicante e formado em direito logo começou a ressurgir na memória dos que os conheceram. Sua morte passou a ser suspeita, podendo ter sido encomendada pelos militares da “Operação Condor”, formada por pessoas de países sob ditaduras como a do Brasil.

Maio de 2013 e a Comissão Nacional da Verdade resolve exumar os restos mortais de Jango. Seus restos mortais são levados para Brasília. Um desfile cívico é promovido, acompanhado o caixão com o corpo de Jango, com a presença de todas as autoridades da República Brasileira. O Congresso se reúne e anula a sessão de março de 1964 que considerou vago o cargo de presidente da República Brasileira.

Em 31 de março de 1964 terão se passado 50 anos do golpe militar que derrubou Jango. Talvez, até lá já se saiba se ele foi ou não assassinado pelos militares. Os militares, vendo o regime que mantinham se apodrecer, temeram que Jango pudesse voltar ao poder.

49 anos se passaram para que o Brasil descobrisse que tem heróis e que pode criar mitos para o seu povo se orgulhar. Jango é uma figura mítica. Jango foi um homem – e a história pode provar – dotado de coragem e amor pelo Brasil. Segundo os melhores historiadores e economistas, se ele tivesse conseguido impor as suas “Reformas de Base” o Brasil, hoje, seria uma nação poderosa. Mas, isso os imperialistas não queriam e compraram os vendilhões e mercenários do Brasil.

Jango foi um herói de verdade. Merece que a sua memória seja resgatada e o seu nome entre para a história no pedestal dos grandes líderes, talvez um dos maiores e “melhores”. Jango deve ser colocado como símbolo de um tempo e contra o buraco negro criado pelos militares no Brasil.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagens: mestresdahistoria

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