quinta-feira, 21 de novembro de 2013

OS NOSSOS RIOS, A NOSSA VIDA: DESCASO E MORTE.






Os Rios da Bacia do Alto Rio Grande estão morrendo lentamente e as pessoas não estão percebendo. A juventude, preocupada com o seu dia a dia, com as suas diversões e com a possibilidade de encontrar empregos bem remunerados, não enxergam que uma morte silenciosa se opera ao seu lado: a morte dos córregos, dos rios e das lagoas.

A região da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Grande está situada no sul de Minas Gerais e é composta por 33 municípios abrangendo uma área aproximada de 9.000 km2. A área de drenagem é de 240 km de extensão, com uma população de cerca de 365.000 habitantes. A bacia hidrográfica do Alto Rio Grande é composta pelas sub-bacias são do Rio Grande, do Rio Aiuruoca, do Rio Turvo Grande e do Rio Ingaí, que nascem na Serra da Mantiqueira e pela sub-bacia do Rio Capivari. As cidades que compõem essa Bacia são: Aiuruoca; Alagoa; Andrelândia; Arantina; Bocaina de Minas; Bom Jardim de Minas; Carrancas; Carvalhos; Ingaí; Ijaci; Itumirim; Itutinga; Liberdade; Luminárias; Madre de Deus de Minas; Minduri; Nazareno; Piedade do Rio Grande; Santana do Garambéu; São Vicente de Minas; Seritinga; Serranos; Baependi; Bom Sucesso; Cruzília; Ibertioga; Ibituruna; Itamonte; Lavras; Lima Duarte; Santa Rita de Ibitipoca; São João Del Rei; São Tomé das Letras.

Como se pode depreender do texto acima, retirado do Comitê de Bacia Hidrográfica – CBH Rio Grande, a área em questão é extremamente grande, equivalendo ao ou maior que o território de muitos países. Quanto à população que, em primeiro plano, pela extensão territorial, parecerá pequena, não é, tendo em vista que essa região é extremamente produtora, com destaque para a produção de café, soja, milho, bovinos, equinos, suínos, além de hortigranjeiros, embora as pessoas residam, na sua maioria em pequenas cidades, com as destacadas acima.



Ainda segundo o CBH Rio Grande: “nas áreas de influência do bioma cerrado encontramos uma fauna extremamente rica, apresenta 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espécies de anfíbios, das quais 45 endêmicas; 120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas. Podemos encontrados animais como a paca, cutia, preguiça, capivara, quati, cachorro-do-mato, lobo-guará, gambá, tamanduá-mirim, tatu peba, tatu-de-rabo-mole, tatu-galinha, macacos como sagüi, macaco-prego, lagarto teiú, cobras cascavel, várias espécies de jararaca, jibóia, coral. A avifauna é caracterizada por jacus, mutuns, jacutingas, seriemas, tucanos e papagaios”.

Ora, então, com tanta riqueza, por que descaso e morte? Vamos por etapa. Comecemos pelas nascentes e córregos que formam os rios: estão, na sua maioria, poluídos por esgotos domésticos e de pequenas indústrias; as cidades avançaram sobre as nascentes (pequenas minas de água) e assorearam suas margens, destruindo a vegetação e fazendo drenos sobre seus cursos; e a maioria do lixo das casas é jogada nas suas águas. Depois, vêm os rios: a extração de areia e os garimpos ilegais simplesmente transformaram os rios em meios de se ganhar dinheiro, destruindo suas margens e desmatando nas suas imediações; o esgoto das cidades, quando não jogados nos córregos é despejado diretamente nas suas águas, como é o caso do Rio Turvo em toda a sua extensão; e, completando, vem a pesca ilegal com tarrafas, bombas e juquiás, onde pescadores inescrupulosos tiram das águas filhotes de piau, dourado, mandi e lambari.



Uma das mais belas cachoeiras da cidade de Carrancas é imprópria para a natação, tendo em vista que todo o esgoto doméstico do município escorre para as suas águas. O Rio Turvo, antes navegável, com uma população de peixes diversificada e que tinha suas águas limpas, apesar de turvas, hoje é um arremedo do seu passado de glória: sem peixes, contaminado pelo esgoto, assoreado e feio.

Outros problemas, ao longo dos tempos, também contribuíram para a degradação dos rios: as queimadas em detrimento da pecuária leiteira; os desmatamentos em torno das nascentes e nas margens dos córregos e rios e o uso de pesticidas nas lavouras de batata e outros hortigranjeiros.

A realidade fica ainda pior quando sabemos que o governo de Minas Gerais gasta milhões de reais na manutenção das rodovias estaduais, feitas, "estranhamente", com economia de materiais, pois,- diferente de outros estados -, se deterioram logo, e que parte desse dinheiro poderia ser usado para a construção de usinas de tratamento de esgotos, aterros sanitários e recuperação das nascentes, córregos, rios e lagoas.



Precisamos nos conscientizar que para que os nossos filhos e netos tenham futuro, uma vida com dignidade, não basta dar-lhes estudo ou deixar-lhes um patrimônio em dinheiro e imóveis. Necessário se faz, também, que preservemos o nosso meio ambiente, a começar pela água que bebemos e usamos para a nossa higiene diária. A água faz parte do bioma que nos envolve e, da forma como vai, com os rios sendo poluídos e assoreados, não restará muita coisa em um século. Um século passa rápido, foi o tempo de nossos avós e logo será o tempo dos nossos netos. Para aqueles, devemos a memória e o fato de ter nascido; para estes, devemos a vida e o futuro.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagens: ambientenatural

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