segunda-feira, 11 de novembro de 2013

QUANTO VALE A VIDA DE UM MENINO DE 3 ANOS?



Eu queria poder dizer para Natália, a mãe do Menino Joaquim, o quanto sinto a perda que ela teve com a morte do seu filho. Eu queria poder olhar nos olhos dela e explicar-lhe que ela não poderá, nunca mais, ver Joaquim sorrindo, correndo, brincando, aprendendo, abraçando,chorando, vivendo a sua infância plenamente, tornando-se um adolescente e um homem. Se fosse possível eu ficar frente a frente com Natália,falaria-lhe assim:

---- Olha, Natália, tenho tanta saudade da minha mãe e gostaria, ainda e tanto, que ela pudesse me amparar nas minhas quedas. Eu digo "ainda", Natália, porquê ela já se foi, mas registrou todos os meus momentos na sua mente e sempre que a encontrava, ela fazia questão de relembrar o orgulho que teve ao me ver nascer e transformar-me em um homem adulto e chefe de família. Sei que ela, quando me viu sair de casa, Natália, teve o seu coração partido e rezou, todos os dias da sua vida, por mim, para que tudo desse certo no meu caminho.


UM FATO EXTRAORDINÁRIO SOBRE A VIDA



Ontem, eu decidi fazer um passeio por montanhas e cachoeiras. Fui para a bucólica cidade de Carrancas, em Minas Gerais. No entorno da cidade existem, na minha opinião, as mais belas cachoeiras da região. Levei comigo minha esposa Cássia, meu filho Augusto e sua namorada Tatiane, meu neto Pedro e minhas netas Fernanda e Ana Clara. A temperatura devia estar em torno de 35 graus. Depois de visitar diversas e belas cachoeiras (foi um dia longo, de muitos encontros e o texto se alongaria, também, nas descrição. Por isso, escolho resumir), encerramos o passeio na Cachoeira do Amor. A água super-gelada nos refrescou. Eu e meu filho conduzimos as crianças através da água. Ensinei, mais um pouco, meu neto Pedro a nadar.

No final da tarde, o sol já pincelava o horizonte de dourado e lançava sombras sobre a paisagem. A água do lago, formado pela Cachoeira do Amor, reverberava a luz formando um quadro único e prateado. Foi quando eu e o Augusto reparamos num pássaro que pousou a poucos centímetros da minha cabeça. Era uma ave pequena, de cor negra e com um topete que lhe dava um ar de notoriedade. Ela se firmou sobre um fino galho, entre as pedras e os filetes de água e olhava para cima o tempo todo. Naquele instante, reparei em meu filho e em meus netos, absorvi a água cálida e senti a vida em toda a sua plenitude. Senti, de verdade a presença de Deus. A pequena ave abriu suas asas e fez um voo rasante sobre minha cabeça. Foi algo extraordinário! Depois, ela voltou para o galho e não arredou o pé de onde estava. Foi, então, que a Tatiane, com o seu instinto de mulher, me disse que a ave estava protegendo o seu ninho. A mãe protegendo as suas crias e me dizendo, sem medo, que estava ali, para perpetuar a vida.

A MORTE DE JOAQUIM.



O corpo do menino de três anos, que sorri para as câmeras no momento em que era fotografado, foi encontrado boiando a 150 quilômetros da sua casa. Eu já havia dito no texto anterior que não esperava encontrá-lo com vida. Seu padrasto é o principal suspeito de tê-lo matado; sua mãe é suspeita de conivência com o assassino. Foi pedida a prisão preventiva de ambos e Natália, que defendia o padrasto, está mudando a versão dos fatos para se proteger. Ela dá detalhes de um relacionamento conturbado, onde o homem com quem ela dividia a casa dava sinais de que tinha ciumes do Menino Joaquim, fruto do primeiro casamento de Natália.

Joaquim, enfim, é mais uma vítima do desleixo de uma mãe; Joaquim, que eu coloquei no Facebook como símbolo da vida, continuará vivo na memória da sua mãe. Ela, no entanto, carregará a sua imagem estática no tempo, imaginando o que ele poderia ser e o quanto poderia viver, não fosse a sua covardia diante de um crápula, assassino cruel e que, ao que tudo indica, ainda teve ajuda de mais alguém na perpetração desse crime cruel.

Ao narrar os momentos de encontro, ontem, com a pequena e notória ave, tento traspor em palavras o sentimento que me tomou e a todos que estavam comigo ao constatar a coragem da mãe alada em proteger os seus filhos. Coragem essa que, ao que parece, a mãe humana Natália não teve.


Texto: Pedro Paulo de Oliveira.

Imagens: R7 e Site da cidade de Carrancas, Brasil, Minas Gerais.




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