quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A RODOVIA DA MORTE - A ESTRADA QUE LIGA ANDRELÂNDIA A SÃO VICENTE DE MINAS - A MORTE DE UM SER HUMANO




Eu estava tentando não falar da última tragédia ocorrida na Rodovia Israel Pinheiro, que liga Andrelândia a São Vicente de Minas e Vice-versa. No entanto, muitas pessoas estão confundindo uma matéria que publiquei anteriormente falando da morte de uma garota naquela rodovia,tendo em vista que o título refere-se a uma morte sem falar de quem. Até agora, por várias razões, preferi me calar. No entanto, não falar dessa tragédia, será como ME calar diante do clamor de milhares de pessoas espalhadas pelo mundo e que esperam entender a razão do acidente que ceifou a vida do médico Edson Meireles Filho - Dr. Edsonzinho, como era carinhosamente conhecido por todos em Andrelândia e região..


Comenta-se que muita gente está falando besteiras sobre o dia do acidente que matou Edsonzinho, supondo que ele havia bebido, estava muito cansado e, até doente. Tudo isso é pura especulação e os fofoqueiros de plantão deveriaM calar a boca. Todos na região sabem que ele, assim como a maioria das pessoas e, até mesmo eu, gostava de tomar cerveja. Levantar a suspeita, contudo, de que foi isso que o matou, pode ser leviano. Se foi, que nos sirva de lição.

Lembro-me do Dr. Edsonzinho na Santa Casa de Misericórdia de Andrelândia comandando o setor de obstetrícia juntamente com o Dr. Jorge, o Dr. Humberto, o Dr. Juraci, o seu pai Dr. Edson e a Dra. Luciana. Foram tempos áureos na saude da cidade e da região. Quando ele chegou em Andrelândia recém-formado, seu pai, o Dr. Edson, ainda era vivo e os dois fizeram muitos partos juntos, partos normais ou através de cesarianas. Certamente ele ajudou a trazer ao mundo e salvou muitas vidas. Outras vidas se foram sob os seus cuidados. Essas que foram, muitas delas tiveram a crítica pesada dos entes que as perderam. Afinal, somos todos seres humanos, médicos ou não, e passíveis de falhas. Para acusar um médico de negligência é preciso muita certeza da ação. No entanto, é preciso, também, respeitar a dor dos que perderam seus entes.

Ao longo dos anos, Edsonzinho tentou ser um grande médico. Marcou época com o seu jeito espontâneo e sempre bem humorado de lidar com as pessoas. Foi candidato a vice-prefeito e sempre esteve na vanguarda das campanhas políticas. Nas muitas conversas que tivemos, ele sempre dizia que sonhou muuito em ser prefeito de Andrelândia, mas que o bonde havia passado e ele não havia conseguido ser o seu maquinista. Isso me fazia rir e ele dava risadas também.

Há muitos anos em Bom Jardim de Minas, Edsopnzinho atendeu uma criança com fissura anal.O diagnóstico era difícil e parecia que o rompimento era recente. Poderia se abuso sexual. "Parecia" ele disse. O enfermeiro chamou a polícia que logo deduziu que o pai da criança, que havia ficado com ela o dia todo, a havia estuprado. O pai foi preso e torturado. Descobriu-se, nos dias seguintes, que a criança tinha câncer no reto. O caso ganhou repercursão internacional. Virou processo que correu por muitos anos na justiça. Falando, no início deste ano, sobre esse assunto, no Posto de de abastecimento no início da Rodovia Israel Pinheiro, ele me disse que foi inocentado, mas que nunca superou o trauma. Outra coisa de que ele falava era sobre o acidente que sofreu a alguns anos e que deixou-lhe, também, graves sequelas. Ele me disse sobre esse ocorrido, brincando: "No mesmo dia em que sofri o acidente, um outro médico amigo meu também se arrebentou todo. Chegamos os dois lá em cima. So que o Chefão de lá me mandou de volta pra cá e deixou o outro por lá".


Edsonzinho trabalhou praticamente em todas as cidades da região. As razões que o levaram a sair da Santa Casa de Andrelândia não cabem aqui discutir. Ele trabalhou a vida toda "como médico". Morreu, se não me engano, indo para um dos seus plantões. A estrada certamente não o matou. Como eu já disse aqui várias vezes, a estrada não mata. As pessoas morrem na estrada. Alguma coisa de muito grave aconteceu com ele ou com o carro no momento do acidente. O carro derrapou e capotou várias vezes, jogando-o para fora, logo depois da sua fazenda, de onde, segundo informações, ele havia saido por volta de das 19 horas. Se ele realmente foi jogado para fora do carro, provavelmente não estava usando cinto de segurança.

Assim, vai-se o homem, fica a sua obra. A obra principal do ser humano é o amor que ele dedica à sua profissão, aos seus semelhantes e, principalmente, aos seus filhos. Durante o velório do Dr. Edsonzinho deu para se perceber que ele era uma pessoa querida na região. Muitas pessoas,de todas as cidades próximas de Andrelândia, estavam no seu velório e acompanharam o seu enterro. Acho que até os que ajudaram a empurrá-lo para fora da Santa Casa e "um pouco" de Andrelândia, foram prestar-lhe homenagens e condolências aos seus familiares.


Edsonzinho ainda será lembrado por muitos anos depois da sua morte, pelo seu jeito espontâneo e brincalhão de ser "humano". Muitas das vezes, com a sua forma de "ser", nem parecia "ser um médico", como a maioria dos profissionais de saúde. Quem sabe, hora dessas as suas qualidades possam superar suas falhas "humanas" e ele possa ser homenageado e passe a figurar com destaque por "cá", como diria ele mesmo. Eu, por mim, acredito que ele vivia cada dia como se fosse a vida inteira.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira em memória de um "ser humano médico: Dr. Edsonzinho"

Imagem: Cássia Oliveira.



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