sábado, 21 de dezembro de 2013

O INSTINTO SUICIDA E ASSASSINO NAS ESTRADAS BRASILEIRAS



IMAGENS DE ACIDENTES NA BR 116, PRÓXIMO A MANHUAÇU, EM MINAS GERAIS.

Muitos motoristas brasileiros são sádicos. Nessa questão de sadismo na direção de veículos existem motoristas que são suicidas e outros, meramente assassinos. A outra questão está na malha rodoviária brasileira completamente ultrapassada.

Vamos começar nossa análise pela malha rodoviária: Empreendi uma viagem esta semana que se iniciou do domingo pela manhã. Percorri, de carro, aproximadamente, 1000 km. Saindo de Andrelândia até Arantina, no Estado de Minas Gerais, atravessei um trecho da MG 494 – algo em torno de 25 km até a BR 267 -, até então bastante castigada, bastante esburacada. Na BR 267, toda reformada, com o piso em excelente estado, segui até Leopoldina. Um adendo, porém, para esse trecho de aproximadamente 230 km de rodovia, passando por dentro da cidade de Juiz de Fora: a rodovia, apesar de nova, tem pista única (mão dupla) com um trânsito intenso de veículos, sendo que quantidade de carretas e caminhões ultrapassa o número de carros de passeio, e entre Juiz de Fora e Leopoldina formam-se comboios imensos e a maior parte desse trecho não tem acostamento.
Em Leopoldina, parei para descansar, fiz um lanche, me alonguei e cochilei uns 20 minutos. Daí em diante a chuva começou. Mas, não me impediu de continuar. Seguindo a viagem, entrei na BR 116, que passa por Muriaé e Manhuaçu. Na região de Manhuaçu, a paisagem muda, a temperatura cai e dá para se ver a cadeia de montanhas que forma o Parque do Caparaó, do qual faz parte o Pico da Bandeira em Espera Feliz. A paisagem esfumaçada, fria e úmida nos dá a impressão de estarmos eternamente no inverno. Na BR 116, que também está toda reformada, o trânsito de carros pesados é infernal, num vai e vem de cargas ligando quatro estados (MG, SP, RJ e ES). A chuva não dava trégua.

Deixando Manhuaçu, segui viagem pela BR 262, deixei Minas Gerais e entrei no Espírito Santo. Percorri algo em torno de 180 km dessa rodovia, também toda reformada, passando pela exuberante paisagem das cidades de Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, região, ao que me parece colonizada por italianos, assim como a cidade de Castelo, nas proximidades. Parei um tempo na cidade de Venda Nova do Imigrante, respirando o ar úmido e frio das montanhas, tomei Café Conilon torrado na hora e comi pamonha. A noite já havia começado e segui mais alguns quilômetros pela mesma rodovia até a Hospedaria Petra, em Pedra Azul, onde me hospedei, um povoado exuberante, cheio de pousadas e um povo muito amável. Antes de dormir, fui até a pizzaria e tomei Caldo de aipim com camarão e bacalhau (não existe caldo melhor em lugar algum e o preço de R$10,00 por uma tigelona é muito barato).

No dia seguinte, levantei muito cedo e segui viagem pela BR 262 até desembocar na BR 101. Aí, sim, começa uma verdadeira aventura. Parece o inferno de Dante. Mas, tudo bem, a rodovia está toda reformada e é constituída de pista única, embora tenha um bom acostamento e boa sinalização. Logo estava passando pelo Município de Serra e no entorno de vitória. Meu destino era a região de São Mateus e cheguei lá por volta das 16 horas, suportando paradas provocadas por engarrafamentos, obras nas margens da rodovia, acidentes e comboios de carretas.

O Norte do Espirito Santo, onde se insere São Mateus, Nova Venécia, Colatina, Linhares, Jaguaré, entre outras, faz divisa com o Estado da Bahia. É uma região que pode ser considerada rica se comparada com outras do nosso país. A base da economia é formada pelas grandes plantações de café Conilon, coco, pimenta do reino, mamão, manga, banana, royalties de petróleo, pesca e turismo.

Como se pôde apreender resumidamente na descrição da minha viagem, a interligação principal dos Estados de Minas Gerais com a Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo é feita através de rodovias. O que ocorre, no entanto, apesar dessas rodovias citadas, incluindo, ainda, trecho da BR 381 para quem segue por Belo Horizonte, passando por Governador Valadares, estarem todas reformadas, foram construídas há mais de meio século prevendo um trânsito de caminhões leves e poucos veículos de passeio. Até a década de 1980 quem podia possuir um carro precisava estar muito bem financeiramente. Hoje, qualquer assalariado, que ganha pouco mais de um salário mínimo e que mora com os pais, tem o seu carro em bom estado. O governo, ao longo dos anos, vem dando altos incentivos para a indústria automobilística por várias razões: o IPI repassado para o governo federal da venda de um carro é quase um terço do preço final do mesmo, vende-se mais gasolina (Petrobrás); e paga-se mais impostos para a legalização dos automóveis. Assim, todo mundo tem o seu carro e as ruas e as estradas continuam as mesmas do século passado. Não se investiu em infraestrutura para acompanhar a demanda do trânsito.

Jovens motoristas vão para as estradas, cheios de ousadias e vontade de voar. Fazem das vias pistas de corrida, em carros possantes. As estradas, no entanto, são as mesmas do século passado, cheias de curvas, com poucos e estreitos acostamentos. A maioria desses motoristas, ao revés da lei, imprimem velocidades acima de 120 km/h, fazem ultrapassagem em locais proibidos e não respeitam os veículos mais lentos. Muitos ainda bebem ou usam droga para dirigir em seguida. Essa combinação dá um resultado funesto: O Brasil tem o maior índice mundial de morte e lesões irreversíveis no trânsito. Sem contar a quantidade de motos e motociclistas abusados que circulam à margem da legislação: eles circulam pelo acostamento, passam entre os veículos em zig zag e não encostam para serem ultrapassados. Por fim, os caminhoneiros, essa classe valente, sofrida e que carrega a riqueza do Brasil nas carrocerias das suas máquinas. 

Voltando à questão das rodovias, que foram construídas há mais meio século, elas previam um trânsito leve de caminhões. Grande parte da nossa produção era transportada pelas ferrovias e por hidrovias. No entanto, com o advento da era da ditadura militar, em troca de um acordo que beneficiava as multinacionais fabricantes de caminhões no Brasil, o governo militar desativou grande parte da malha ferroviária e não investiu nem um centavo no que restou. Quando finalizou a ditadura, as ferrovias estavam sucateadas e o Brasil lotado de caminhões em estradas quase completamente destruídas.

Os caminhões, antes lentos, barulhentos, desconfortáveis, a partir de 1990 começaram a se modernizar, com eixos mais bem trabalhados, motores possantes, direção hidráulica, freios abs e cabines espaçosas com ar condicionado. No entanto, as estradas permaneciam as mesmas. Os Governos civis, após a era militar, pouco investiram em estradas até o governo Lula. Foi somente a parte da era Lula que as estradas federais foram reformadas até por questões de logística (se não o Brasil parava) Outra parte das rodovias foi privatizada (040, parte da Fernão Dias – 381, Dutra, etc.). No entanto, grande parte da malha rodoviária brasileira ainda precisa se à loucura do transporte de carga. Está ficando inviável dirigir por rodovias apinhadas de caminhões e carretas sendo guiadas, carregadas com mais 50.000 kg, a mais de 100 km/h.

É preciso abrir um adendo para falar de outras rodovias federais em petição de miséria: a BR 163, que corta o centro do país é uma delas, seguida pela BR 135 também cheia de buracos e perigosa. Ressalte-se que existem trechos das BRs 381 e 101 que estão sob concessão e já foram duplicados. Contudo, em alguns casos, essas empresas concessionárias deixam de cumprir cláusulas contratuais se beneficiando das benesses do governo e da cobrança do pedágio. Outro disparate é a diferença entre os pedágios. Enquanto na BR 040 o pedágio para um carro de passeio é quase R$10,00, na Fernão Dias não chega a R$2,00. O Governo Federal, juntamente com a iniciativa privada, fala em investir nos próximos 4 anos algo em torno de 100 bilhões de reais para tentar tirar o Brasil do atraso nessa questão de transportes. Mas, uma coisa é certa: por mais que se invista na infraestrutura e modernização das rodovias, não vai haver desafogo do trânsito, se não houver investimentos pesados em ferrovias e hidrovias. É preciso, inclusive, reativar o transporte ferroviário de passageiros, a exemplo do trem que faz a ligação de Belo Horizonte - MG para no Vitória-ES.

Ouvi da mãe de uma vítima do trânsito louco: “políticos raramente usam as estradas. Eles andam de aviões e helicópteros”. O que ela quis dizer é que parece que os políticos não estão nem aí para a mortandade nas estradas brasileiras. A maioria dos motoristas de carros de passeio que trafegam pelas rodovias, levam suas famílias em passeios ou estão a trabalho. Eles são obrigados a enfrentar uma estrada onde o perigo de ser engolido por uma carreta de é constante. Se estiver chovendo então, o perigo dobra. O pior de tudo é que ainda existem alguns (minoria, diga-se de passagem) motoristas de caminhão que são sádicos e assassinos. Sobre suas máquinas monstruosas, de cima das suas cabines, esses motoristas olham os veículos minúsculos e os humilham o máximo que podem. Talvez estejam indo à forra pelo tempo que tiveram que guiar caminhões lerdos, barulhentos e sem nenhum conforto.

Esses fatos descritos se repetem nas estradas estaduais e com um agravante: a qualidade do material usado para fazer a cobertura asfáltica é duvidosa. Suspeitas de corrupção pesam sobre as empresas que fazem o recapeamento e as famosas “operações tapa-buracos”. E não é somente em Minas Gerais que pude constatar essa realidade de descaso com as rodovias estaduais. As estradas do Espírito Santo também estão muito ruins. Segundo a CNT, mais de 60% da malha rodoviária brasileira está em péssimo estado.

As estradas brasileiras, sem estrutura para suportar a quantidade de veículos de cargas e de passeios, tornam-se corredores da morte, dando, inclusive, vasão para instintos suicidas e assassinos. Não há uma fiscalização efetiva da Polícia Rodoviária Federal ou das polícias militares nos municípios para punir os motoristas bêbados ou drogados; os limites de velocidades só são respeitados onde existem radares; e não são feitas vistorias frequentes nos veículos para se verificar suas condições de tráfego.

Assim, vai indo o Brasil da copa do mundo e das olimpíadas, com um sistema viário sucateado, com as melhores ferrovias (também sem investimentos) nas mãos dos donos da Vale do Rio Doce, portos ultrapassados e aeroportos congestionados.

Salve-se quem puder. Enquanto persistir essa situação caótica das estradas brasileiras, se você for sair de viagem, seja de ônibus ou no seu próprio carro, faça uma oração poderosa antes, peça a São Pedro para não mandar chuva e ao seu Anjo da Guarda para protegê-lo contra os suicidas e assassinos das estradas. E cuidado com as carretas que mais parecem aqueles robôs gigantescos denominados Transformers.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: manhuacunoticias.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário

NAYRA E O CHAVELHO DE ESPINHOS NA FAIXA DE GAZA

" Esses pequeninos, cheios de sonhos, sonhos que embalam o mundo, distantes das       ambições e da crueldade dos homens e mulheres que...