"O Brasil é formado por gente trabalhadora. A sua vergonha está em nunca ter conseguido deixar de ser uma colônia".
A história do
Brasil sempre foi marcada por uma diversidade de atores e contextos. Desde o
seu “descobrimento” pelos portugueses no ano de 1500, Terra de Santa Cruz,
depois terra brasili por conta da
abundância do Pau Brasil (hoje, árvore rara – em Andrelândia – MG tem uma
plantada no meio da Avenida Nossa Senhora do Porto, com placa de homenagem),
nunca se preocuparam em fazer da nova colônia algo que os ingleses fizeram do
outro lado da América (no norte) ao fundarem a Nova Inglaterra (hoje, Estados
Unidos da América). Por lá, os ingleses semearam sua vasta cultura, iniciada
com os povos bretões (hoje, Gram Bretanha). O mesmo ocorreu noutras porções de
terra, onde hoje se encontra o Canadá, colonizado pelos ingleses e franceses. O
resto do norte da América (o nome América se deve ao navegador Américo Vespúcio
que passou sua vida a serviço dos reinos de Portugal e Espanha, escrevendo
sobre a porção terra sob o domínio de ambos os países).
Portugal
e Espanha não diferiram em nada na forma de “explorar” suas colônias, levando
tudo que podiam para encher os cofres das cortes (ouro, diamante, esmeralda
madeira e uma quantidade sem tamanho de filhos bastardos feitos de estupros com
as índias). No Brasil, para sustentar essa exploração (expropriação), a corte
portuguesa não dividiu sua porção de terra em estados independentes, tal como o
fez a Espanha (gerando os demais países latino-americanos,
tirando o Brasil). Copiou o sistema adotado pela Inglaterra no norte da América.
Quando
se explora por tempo demasiado um povo, como é o caso de toda a América Latina
nos seus tempos de colônia, não lhes transferindo cultura e tecnologia, cria-se
uma síndrome de dependência e desagregação social difícil de ser transformada.
Na sua forma natural, os seres humanos já possuem uma seleção natural entre si.
Essa seleção separa os mais bem sucedidos, naturalmente, dos menos sucedidos.
Os mais bem sucedidos (ricos e poderosos) tendem a se isolar no seu meio,
deixando os demais em guetos (espaços periféricos). Esse apartamento
(disjunção) sempre ocorreu nas sociedades de todos os tempos, desde o início
das civilizações. Outro fator importante a se considerar nas relações humanas é
a capacidade que os grupos têm de se unir (defendendo interesses comuns) para
conseguir subjugar outros grupos. Os grandes, médios e pequenos impérios
nasceram desse sentimento e dessa necessidade de subjugar, inerente aos seres
humanos.
No
reino animal (selvagem, natural, instintivo) subjuga-se pela força bruta; no
reino humano, subjuga-se pela capacidade de ascensão social individual e
grupal. Basta ver como nasceram e morreram os grandes impérios (Egito, Grécia,
Roma, Turquia, França, Inglaterra, Alemanha, Rússia e China). Muitos deles
governados por homens que pareciam seres insignificantes nos seus primeiros
anos de vida, mas que ascenderam ao poder com uma capacidade extraordinária de
liderança (Ver Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler)
Por
que o Brasil e quase toda a América Latina não consegue resolver seus graves
problemas sociais? Por que, da mesma forma, quase todo o continente africano
padece da mesma desgraça da América Latina? A resposta está nas raízes dos seus
povos. Como já foi dito, a exploração longa das pessoas alienam suas mentes.
Vamos falar do Brasil, que é o mais interessante no momento e que serve como
parâmetro para os demais países dominados. Portugal não teve, em nenhum momento
da colonização do Brasil, interesse transformar o Brasil numa sua sucursal.
Quis o povo da “colônia”, sempre subjugado e explorado. Uma observação: a
situação brasileira seria, hoje, muito pior, se D. João VI não tivesse que sair
correndo de Portugal, com medo de Napoleão Bonaparte, e se escondendo no
Brasil, o que obrigou a Corte Portuguesa a criar estruturas mínimas de governo
na colônia (mas, quando voltaram para Portugal, saquearam o Banco do Brasil,
quebrando-o). Mesmo quando D. Pedro I assumiu como Príncipe Regente,
proclamando a “independência do Brasil”, nada mudou. Portugal tentou, por
vários anos, embargar essa independência com ações e interdições, além de
enviar tropas para derrubar o novo governo. A independência, foi, então,
negociada, a preço de muito “ouro”, com os Estados Unidos que já se despontava
como uma nação poderosa e autônoma, depois da Guerra pela sua Independência,
que contou com a ajuda da França, arqui-inimiga da Inglaterra à época. Quando
D. Pedro I voltou para Portugal, na expectativa de assumir o trono por lá,
assumiu um garoto, seu filho, como Príncipe Regente. Nacionalista, o príncipe,
envolvido por interesses das oligarquias (grandes produtores de açúcar), numa
sociedade extremamente dependente da mão de obra escrava (o escravo no Brasil,
como bem observou Gilberto Freire, era parte da cultura, inserido no seio das
famílias – algo como parte subjugada e conformada do todo social e do resto
social).
O
Príncipe regente tornou-se monarca. No entanto, sempre rodeado pelos interesses
de uma corte governativa sem personalidade, tentou ser o melhor possível. Não
conseguiu. Assinou as leis que acabaram com a escravidão, debelou as várias
revoltas republicanas e, finalmente, foi deposto pelo primeiro golpe militar da
história do Brasil, sob a forte influência –
e patrocínio - dos Estados Unidos. Assim, mais uma vez o povo
brasileiro, analfabeto, pobre, e sem estruturas urbanas adequadas, se viu
subjugado. D. Pedro II e sua família saíram escorraçados do Brasil em um navio
de carga rumo à Europa e nunca mais voltaram com vida.
Desde
a partida de D. Pedro II, o Brasil navegou por mares nebulosos, sempre na
berlinda de governos ligados por e a interesses estrangeiros. Pouco se investiu
em tecnologia e educação do seu povo. Os guetos proliferaram ao longo do tempo,
desaguando no que hoje conhecemos por favelas (os ricos e poderosos moram em condomínios
fechados e protegidos; andam em carros blindados e sobrevoam as cidades em
aviões ou de helicópteros particulares).
Então, a razão
para toda essa desagregação e caos social existentes no Brasil se deve à sua
cultura de dependência, e de suas instituições fracas. Basta ver que no Brasil
que morrem mais de 55 mil pessoas assassinadas todos os anos; o trânsito
caótico matou algo em torno de 70 mil pessoas somente em 2013, sem contar os
mais de 20 mil aleijados; Não existem presídios no Brasil, sendo colocados em
seu lugar, campos de concentração que dariam inveja nos alemães durante a
Segunda Guerra Mundial; e as demais instituições (justiça, polícias, saúde,
educação, etc) estão ultrapassadas se comparadas com as de outros países do
primeiro mundo.
No
final de semana do início de janeiro de 2013, em Campinas, Estado de São Paulo,
11 jovens foram mortos por assassinos encapuzados. Aliás, eles foram
executados. Policiais estão sendo investigados, suspeitos de serem os autores
da chacina, tendo em vista a morte de um cabo da Polícia Militar ao reagir
contra uma tentativa de assalto em um posto de Gasolina, também no mesmo final
da semana. Não há que se defender bandidos, sejam eles jovens ou adultos. No
entanto, a polícia não pode sair por ai atirando a esmo e matando inocentes
(talvez). O pior de tudo é que se vê nas redes sociais gente batendo palma para
esse tipo de ação (grupos de extermínio, esquadrões da morte). Os assaltos em
comércios de bairros (aqueles sem a proteção dos poderosos) proliferam nas
grandes cidades. Os assaltantes, tal como já foi dito por aqui, são jovens das
periferias, viciados em drogas e, armados com revólveres 32 ou 38, saem
assaltando a esmo na ânsia de conseguir dinheiro para manter seus vícios. Não
hesitam em matar por que já estão alienados.
Enquanto
as comunidades pobres proliferam, o crime (principalmente o tráfico) cresce à
mesma proporção na ausência de políticas sociais sérias dos governos federais,
estaduais e municipais.
O
povo continua subjugado ao poder das oligarquias (basta ver o poder da família
Sarney no Estado do Maranhão e de vários governos déspotas em outros estados);
o povo vive com medo de ser morto por bandidos; o povo tem medo da polícia; e,
finalmente, o povo aceita o jugo dos chefes do tráfico e das milícias.
Existe
uma solução para esse caos? Não me iludo, embora, como a maioria dos
brasileiros, ame esta terra do fundo do meu coração. Sofro com as derrotas de
nossas seleções e atletas individuais; sinto orgulho das nossas vitórias; e me
emociono a ver a nossa bandeira sendo hasteada ao som do nosso Hino Nacional.
Sei que a sociedade brasileira só se transformará caminhando rumo ao estágio
dos países desenvolvidos, se ocorrer algo extraordinário e que mude todas as
instituições vigentes, a começar pela mentalidade dos governantes que só pensam
no poder como forma de enriquecerem e explorarem ainda mais os mais pobres.
Texto de Pedro Paulo de oliveira.
Imagem: Arquivo o Globo.
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