Para quem assistiu a luta do brasileiro Anderson Silva, ainda campeão dos pesos médios do MMA (MMA quer dizer Mixed Martial Arts, ou seja, Artes Marciais Mistas) durante o UFC 162.
(UFC quer dizer Ultimate Fighting Championship, ou seja, o Campeonato de Luta Final) na madrugada do último domingo, sentiu uma frustração tamanha, parecida com aquela que sentimos nos momentos em que tínhamos esperança de que o Rubinho Barrichello seria um campeão e a Scuderia Ferrari não deixou, obrigando-o a ceder a vistorias para Michael Schumacher.
Anderson Silva fez uma longa carreira no MMA e, como campeão, manteve o cinturão por 10 anos. Sempre se mostrou um profissional sério, centrado na sua carreira e exemplo para todos os brasileiros que o tinham (e, talvez, ainda o tenham) como um ídolo. – Ficamos órfãos de heróis depois da morte de Ailton Sena -. O “Aranha”, como ele se auto apelidou, era um especialista em desestruturar seus adversários, não só psicologicamente, mas fisicamente. Iniciava os combates dançando no octógono, baixando a guarda e mostrando para os seus oponentes que aguentava o tranco e as porradas. Virou um símbolo mundial do MMA, uma marca registrada, um garoto propaganda das lutas marciais, das vitórias e garantia de público e de “apostas” durante os eventos, fossem onde fossem.
Na madrugada do último domingo, no entanto, um dos maiores símbolos da história das lutas que o Brasil já pode apresentar ao mundo, depois de Eder Jofre, Maguila e Popó, tombou de forma humilhante dentro do ringue, no início do segundo round, com um golpe aplicado no lado direito do seu queixo por uma potente esquerda de Chris Weidman. Parecia o Maguila levando um potente golpe de Evander Holyfield, também nos Estados Unidos, e ficando desacordado por mais de oito horas. Contudo, não havia em torno do Maguila, como não houve em torno de Popó, tamanha cobertura da imprensa, tanto dinheiro em jogo e a esperança de um povo em um novo herói nacional. Talvez tenha sido até bom que a queda de Anderson Silva tenha ocorrido neste momento. Não estamos precisando de um herói lutador de artes marciais ou vale tudo. Seria bem ruim para os brasileiros que a nossa esperança se baseasse numa luta de 25 minutos dentro de um ringue, onde milhões de dólares estão em jogo e os interesses dos apostadores e promotores do evento não são lá muito limpos.
Certamente, Anderson Silva, não estava preparado para esta luta. Já no primeiro round ele quase foi finalizado por um golpe aplicado no seu calcanhar. Escapou por um triz. Voltou para o segundo round dançando, encarando acintosamente o adversário, de guarda baixa e deu no deu. Certamente Dana White sabia das condições precárias de Anderson silva para essa luta. Na entrevista coletiva ele não conseguia esconder sua vibração com a vitória de Chris Weidman. O novo campeão é, com certeza, a nova aposta de Dana White para o mercado bilionário dos Estados Unidos. Ele entendeu que estava na hora de criar um novo campeão e jogou suas cartas na luta da madrugada de domingo (madrugada de domingo no Brasil, pois a globo transmitiu a luta com atraso).
Mas a aposta de Dana White pode ser um engodo. Ao que tudo indica, a maioria dos apostadores já sabia que Anderson Silva perderia a luta e apostaram alto em Chris Weidman. A polícia dos Estados Unidos não engoliu a forma estranha como tudo se passou e está investigando para saber se houve armação, e todos os indícios apontam nesse sentido.
Piadas à parte espalhadas pela internet, não podemos esquecer que os ídolos do espore sempre foram venerados. O momento não é de fazer piadas. O momento é de se perguntar e exigir uma explicação mais contundente do próprio Anderson Silva das razões de uma luta cheia de suspeitas de fraudes. Ele tem obrigação de responder pelo que representou e ainda representa para o povo brasileiro.
Perde o esporte. Desaparece um mito? Talvez. Eu acredito que sim. Para que isso não aconteça, Anderson Silva terá que provar para o povo brasileiro e para o mundo que é um lutador de verdade, diferente do moleque dançarino que tombou de forma humilhante dentro do octógono, decepcionando o mundo inteiro e deixando um monte de apostadores milionários.
Texto de Pedro Paulo de Oliveira
Photo by Donald Miralle/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images
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