quarta-feira, 9 de outubro de 2013

SÍNDROME DE CAIM E ABEL. - A VIOLÊNCIA DO SER HUMANO.




O que nos diferencia dos outros animais que povoam a terra? pode ser que seja o nosso inconformismo com a vida. Enquanto os demais seres vivos buscam, apenas, um abrigo seguro e o alimento de cada dia, nós, seres humanos, estamos, sempre, em busca de algo maior, grandioso, sonhando como na estória de Ícaro, sonhando e subindo até que as nossas asas se derretem e caímos por terra.

Religiões e sistemas de governo, criados com o intuito de manipular esse inconformismo latente, permanecem vivos e as pessoas ainda acreditam que podem ser salvas por falsos profetas, políticos populistas e líderes mentirosos. Não há como fugir das manipulações de massa, implícitas nas propagandas dos produtos das grandes indústrias. Bebemos Coca-Cola porquê é moda, é bonito, coloca-nos no patamar dos grandes atletas e artistas que fazem a sua propaganda. Queremos nos parecer com os nossos ídolos. Por isso usamos determinadas roupas e perfumes específicos. A música que ouvimos nem sempre soa bem aos nossos ouvidos. No entanto, continuamos a ouvi-la e dançamos ao seu ritmo que nos foi imposto pela mídia. É assim que funciona: se uma determinada pessoa deseja ser artista e tem alguns milhares ou milhões para investir, não precisa ter talento. Especialistas em convencimento trabalharão para convencer as massas de que essa pessoa é um grande artista. O mesmo se dá com qualquer produto, seja de vestuário, seja de alimentação ou de locomoção.

Somo todos impulsionados pelo poder da imagem e do som, tal como os demais animais da natureza. Mas, tal como já foi dito, com a diferença de que somos inconformados com a realidade. Essa é a razão que nos leva a matar. Matamos nossos semelhantes por várias razões: por prazer, por raiva, por despeito, por vingança, por ganância, por sexo e pelo poder. Outras vezes matamos por desvios de personalidade, que carregamos desde a nossa concepção no útero, ou por traumas que sofremos em nossas vidas. Traumas criam monstros. Prenda um cachorro e o açoite todos os dias incitando-o a atacar outros cães. Em pouco tempo você criará uma fera cruel e mortal. É por essa razão que as prisões brasileiras, verdadeiras pocilgas, não reabilitam nenhum ser humano. Pelo contrário, criam monstros sedentos de sangue.

O instinto não conhece regras. Por essa razão, nasceram as primeiras guerras (disputa pelo poder); o acúmulo de riquezas (demonstração do poder, onde as hierarquias se expõem em vários níveis, e quem tem a riqueza vai sobrepujando quem tem menos até chegar a quem nada tem); a exposição da beleza física (a vaidade como poder – o corpo perfeito humilha o desconjuntado); a troca de parceiros sexuais (como quebra do padrão da fidelidade entre um homem e uma mulher, pois a fidelidade, como regra, é extremamente frustrante); e a evolução da ciência (como busca de meios para prolongar a vida e, ao mesmo tempo, ter nas mãos os meios para manipular semelhantes em todos os campos da sociedade).

O que diferencia as sociedades do oriente, com as suas ditaduras, do capitalismo do velho mundo europeu ou do novo mundo americano são as condições de vida dos seres humanos que vivem em cada região, pois os desejos de cada sociedade são idênticos e homens e mulheres são levados a viver segundo as convenções que não gostariam de respeitar e que, sempre, seus governantes não respeitam ( eles podem viver como nababos e em haréns) e formam nações que dividem as riquezas segundo o meio ambiente de cada lugar. As guerras surgem, então, pela disputa dessas riquezas.

Somos, sempre, impelidos pelo desejo constante de perpetuação das nossas riquezas, por menores que sejam e prazer de aniquilar outros seres humanos que, embora movidos por todos os sentimentos de inconformismo, são indefesos, por estarem numa escala inferior do poder.

Vence quem acumulou mais riquezas (conglomerados econômicos, indústrias de transformação, incluindo as de armamentos) e, através dessas riquezas, detêm meios eficientes para aniquilar sociedades inimigas.

Não haverá trégua para o ser humano, enquanto ele não compreender a sua condição limitada; não haverá plenitude para a vida enquanto homens e mulheres não aceitarem a sua condição limitada, pois eterno ainda é o universo, do qual pouco ou quase nada conhecemos e ao qual pertencemos como um todo.

Enquanto isso, cada ser humano certamente continuará sua peregrinação, prolongando sua existência, buscando o prazer e, escondido, quebrando as convenções criadas pelas religiões e governos.

Os jornais estampam as tragédias diárias das diversas comunidades espalhadas pelos diversos cantos da sociedade, onde os criminosos, implacáveis, formam grupos armados, amedrontam e assassinam sem piedade homens, mulheres e crianças. Algumas perguntas ficam no ar: por que os seres humanos se matam? Seria a síndrome de Caim e Abel (despeito, raiva)? Ou seria o simples prazer que alguns homens têm de matar seus semelhantes? Certamente a resposta está no âmago de cada um, na vontade de ente limitado que quer ser deus.

A humanidade sempre de digladiou e civilizações, em nome da justiça, de Deus e do poder foram dizimadas pelos impérios, cada qual na sua época e na sua forma: Egito, Grécia, romã, França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Rússia(união soviética) e "Estados Unidos da América". Portanto, é pura demagogia afirmar que hoje a humanidade está pior do que a 3003 anos atrás. Hoje, existem mais seres humanos espalhados pela terra e os meios de comunicação nos transmitem, em tempo recorde, as notícias ocorridas do outro lado do mundo.

Não podemos simplesmente afirmar que as injustiças sociais são as principais causas da criminalidade. Existem mais bandidos nos altos escalões da sociedade do que no meio dos miseráveis espalhados nas periferias das cidades ou nos grotões das zonas rurais. A maioria dos verdadeiros bandidos controla o povo que vive sob a égide da lei, vigiado, oprimido e obrigado a consumir produtos que, na verdade, nem gostariam de ter.

O trabalhador, braçal ou intelectual é movido por códigos de éticas rígidos e foram eles que salvaram a humanidade das suas tragédias e, acredito, serão eles que salvarão o mundo num futuro próximo.

É possível acreditar que um empresário que polui um rio, ou devasta uma floresta, ou joga gases venenosos na atmosfera, ou empresta dinheiro para receber o dobro, ou que paga salários miseráveis tendo grandes lucros não é um bandido? A resposta poderá ser que o progresso tem o seu preço. Mas a própria palavra progresso não admite o desrespeito à vida, principalmente a vida do ser humano. E o político que aceita propina e recebe altos salários num país em que a maioria do povo vive na miséria?

Não é possível sonhar com um mundo perfeito, não nesta terra onde a ambição graça entre os seres humanos e usurpa os valores morais que, se não existissem, a humanidade já teria desaparecido. No entanto, os seres humanos continuarão, sempre, se matando em nome sabe-se lá de que, tal como vemos todos os dias nos noticiários: A mãe que mata a colega de trabalho da filha que reclamou que foi humilhada na empresa; o homem que assassina mãe e filhos, depois de não teve mais o seu amor correspondido; o assaltante que atira num jovem que sonhava ser juiz para roubar-lhe um par de tênis; e o jovem que é assassinado porquê reclamou da conta do restaurante.

Para que não restem dúvidas: o parágrafo acima se refere à sociedade brasileira, ao nosso país, afundado numa violência descomunal, só semelhante ou maior do que as violências dos países em estado de guerra ou terrorismo, na África e no Oriente Médio.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: Google.

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