segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TOLERÂNCIA E PERMISSIVIDADE.




Acaso alguém tem alguma dúvida de que o ser humano é um primata bípede e dotado de faculdades que o torna superior aos seus semelhantes que coabitam a face do planeta terra? Não. Ninguém pode ter dúvidas de que o ser humano se diferencia bastante dos cangurus e dos gorilas, pelo simples fato de que aprendeu a modificar o meio em que vive através de ações da sua mente. As civilizações, construídas e espalhadas pela terra ao longo do tempo pelos seres humanos, se basearam todas na transformação do meio ambiente. Os seres humanos, diferentes dos demais animais, aprenderam a transformar a matéria e criaram as cidades e tudo que nelas se insere.

Como qualquer animal, o ser humano é dotado de instinto de sobrevivência, bem como de outros instintos. Desde a sua concepção no útero materno, o ser humano passa a lutar para viver como qualquer outro ser vivo, com a diferença de que tem consciência da vida e da morte.

Observem a formiga: ela não sabe que pode ser pisoteada e exterminada no seu próprio habitat. No entanto, ao se ver diante da morte, ela recua, foge e procura um abrigo onde possa se esconder do fim iminente da sua caminhada. Parece nada a morte de uma formiga. No entanto, o princípio é o mesmo: concepção, existência e fenecimento.

Ao destacar o bipedismo do ser humano, fica clara a sua diferença no reino animal. Andar sobre duas patas, no caso, sobre dois pés, tem sido uma árdua tarefa para a humanidade que prefere inventar meios de locomoção que a leve rapidamente a outros lugares da terra e do espaço sideral, na sua ânsia pela aventura e em descobrir novos lugares, desbravar o desconhecido e conquistar novas civilizações. Por isso, os seres humanos pensam. “Penso, logo existo”. Esta afirmação é de René Descartes que, após duvidar da sua própria existência, entendeu-se vivo após ter consciência do seu pensamento.



O ser humano é tão complexo na sua minúscula e grandiosa diferença com os demais seres do reino animal, que destrói seu próprio meio e é capaz de matar seus semelhantes para conseguir realizar seus desejos. Aonde vai dar toda essa sanha é difícil prever. Claro que na destruição do meio ambiente e de outros animais, sempre haverá um meio termo e aqueles que lutarão para que a terra continue com o seu papel de casa. Esse meio termo, esse embate entre o que parece o bem e o mal, enquanto uns destroem em nome do progresso, outros defendem e reconstroem a natureza, ditará, sempre, as regras da vida.

Serão os que constroem as indústrias e todos os meios contemporâneos os vilões? Não. Claro que não. Eles, cientistas e grandes empresários, são os responsáveis pela evolução da humanidade. O que sobra então para os que defendem o meio ambiente, os oprimidos, os miseráveis e os excluídos? Sobra-lhes uma batalha muitas vezes inglória e em estado de desvantagem.Contudo, eles são o meio termo, a barreira que impede que a modernidade destrua o planeta terra.

A humanidade está caminhando para um novo paradigma, uma junção de tudo que ela já viveu para se construir um novo modelo de convivência. Claro que ainda existem civilizações que teimam em manter modelos atrasados, entre elas destaca-se a Síria e poderíamos incluir o Brasil com os seus graves problemas estruturais, tendo, como principal, o de segurança. As autoridades brasileiras não conseguem resolver e nem mesmo minimizar a situação da maioria da sua população que vive em palafitas, favelas e periferias abandonadas. Parece que soa como normal às autoridades do Brasil que um monte de jovens envolvido com o crime seja assassinado diariamente. Essa situação não seria normal em outros países. Se houvesse educação competente, saneamento básico, moradia digna, transporte eficiente, emprego honesto e saúde de qualidade, certamente o Brasil nãos seria visto por outros países como país das bundas, em que jogadores de futebol de países vizinhos, de olho na copa do mundo, mandam recados para que as mulheres brasileiras estejam preparadas para a festa.



Muito próximo do Brasil localiza-se o Chile, um país onde a educação está colocada como pilar da sociedade. Ao visitar o Chile, a primeira coisa que o turista encontra é uma sociedade organizada, que não aceita ser oprimida pelos seus governantes, com polícias eficientes, trabalhadores recebendo salários dignos, ruas limpas. E olha que eles saíram de uma ditadura militar bem mais cruel do que a vivida pelo Brasil. Mas o que os diferenciou do Brasil ao longo da história é que eles não foram permissivos em demasia com o modelo de colonialismo cruel imposto à maioria dos países latinos. Brasil, Venezuela, Paraguai, Uruguai, Peru, entre outros, foram os países mais explorados e massacrados pelos colonizadores, colonização que, na mente dos líderes das nações poderosas, persiste até hoje. Somos, ainda, vistos como uma colônia a ser explorada. Permitimos isso.

Na esteira da tolerância e da permissividade, toleramos o político corrupto, o policial bandido e o assaltante e ladrão comum. Depois, com o tempo, passamos a permitir que eles façam parte das nossas vidas, aproveitamos a modernidade e passamos a assistir nas telas os noticiários informando as mortes no trânsito desorganizado, nas guerras do crime e nas filas dos hospitais. Viramos para o lado e fechamos os olhos como se logo ali uma formiga tivesse sido pisoteada.



Uma sociedade só será desenvolvida e justa quando o instinto de sobrevivência for coletivo, quando houver solidariedade e dignidade nas ações dos políticos. Pode-se tolerar, por certo tempo, a injustiça até que se encontre os meios para extirpá-la. Agora, permitir que ela faça parte das nossas vidas, aí já é o início do fim da civilização.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.


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