segunda-feira, 17 de junho de 2013

PROTESTOS PELO BRASIL – O MOTIVO OCULTO


Comentar um assunto onde as paixões estão inflamadas e opiniões divergem e convergem em várias direções é muito complicado. É exatamente o caso dos protestos que nasceram em São Paulo contra um anunciado aumento de tarifa do transporte urbano, no caso da capital paulista, de R$0,20. Com certeza o protesto é justo diante da situação de caos do transporte brasileiro. Uma ressalva para o transporte no estado de São Paulo que é dos melhores do país, segundo dados do IBGE. Outro fator que leva indignação aso brasileiros é a farra da gastança nos estádios para receber a Copa das Confederações (já em acontecimento); para as Olimpíadas e para a Copa do Mundo. Certamente, será uma honra para o Brasil receber esses eventos que, além do mais, trarão divisas para o nosso país, pois o tornará mais conhecido e respeitado no mundo se fizer tudo direitinho, organizado e bonito. O contrário, contudo, pode estragar a nossa imagem, já bastante arranhada, no exterior.

Os protestos, legítimos numa democracia e, nos meus tempos de estudante em Volta Redonda, lá pelos idos de 1978, em plena ditadura militar, era eu membro filiado às forças de esquerda, na ocasião do nascimento do Partido dos Trabalhadores, Internacional Socialista e estava ao Lado de Juarez Antunes, Cida Diogo, Ernesto Braga, Sidney da Medicina e Nilo Sérgio; participamos de muitos protestos na Vila Santa Cecília e nas portas da Companhia Siderúrgica Nacional - CSN. Naquele tempo a coisa era bem pior. Quem agia contra os manifestantes era a Polícia do Exército e o famigerado Departamento De Polícia Social – DOPS. Muitas vezes tivemos que correr da polícia e nos esconder debaixo de viadutos e construções abandonadas. Quem era pego, sofria torturas, era enquadrado na Lei de Segurança Nacional como terrorista e, muitas das vezes, era morto ou aleijado pelos carrascos. Foi assim com o Sidney da Medicina que ajudou a liderar a Greve dos 50 dias dos Estudantes em Volta Redonda pelo passe livre no transporte urbano. Foi preso e torturado.

No entanto, o que havia por trás da greve e dos protestos naquele tempo? Nossa intenção era desmoralizar o governo vigente, no caso um prefeito general e biônico, um governador Biônico e um presidente militar e, de certa forma, também biônico, pois fazia parte de uma junta de generais que governava o Brasil de forma déspota. Contudo, existia uma grande diferença daqueles protestos para os dos dias de hoje. Atualmente, estamos vivendo numa democracia, podemos falar livremente, as minorias podem lutar pelos seus direitos e serem ouvidas e o governo que está aí, queiram alguns ou não, foi eleito democraticamente.

Vale a pena lembrar a ascensão e queda do Governo Collor. A mídia da época, durante a campanha eleitoral, colocou Fernando Collor como o salvador da pátria, o “caçador de marajás”. Deu no que deu. Collor se mostrou temperamental, desobediente com relação ao grupo até então no poder e liderado pelo PMDB e, por fim, confiou em demasia no seu tesoureiro de campanha, Paulo César Faria que fez um monte de besteiras. A mesma mídia que elegeu Collor como Presidente, orquestrou uma campanha para desmoralizá-lo e colocou nas ruas os “Caras Pintadas”, a juventude corajosa e sempre pronta para defender os ideais de justiça e a nossa pátria. Muitos daqueles jovens, contudo, entre 15 e 21 anos, mal sabiam a razão dos protestos, não conheciam a história daquelas eleições e mal sabiam o que realmente Fernando Collor, Pedro Collor – seu irmão – e PC Faria tinham feito de tão grave. Collor foi casado, PC Farias foi morto, Pedro Collor também morreu e o país foi entregue para Itamar Franco que governou com mão de ferro e passou muito aperto diante das pressões dos grupos do poder. Mas, isso é outra história que poderemos contar noutro artigo.

Até agora, foram relembrados alguns protestos durante a história do nosso país. Protestos esses que culminaram com a desmoralização e queda de governos. Dezenas de outros protestos que ocorreram no Brasil e mudaram a sua história poderiam, também, ser enumerados. No entanto, foram relembrados os dois contemporâneos e que provocaram a queda da ditadura militar e do Governo Collor.

Dos protestos em São Paulo, legítimos como já foi dito, houve até uma espécie de sintonia com a onda de violência e protestos ocorridos na Turquia. A diferença é que lá o país está completamente quebrado, dependendo de ajuda do bloco europeu, com o desemprego em alta e as leis deles são bem diferentes das nossas quando se trata de distúrbios sociais. São leis duras e podem, a qualquer momento, entrar em regime de exceção. Essa sintonia, propalada pela grande imprensa, partiu de redes sociais através de brasileiros que moram na Europa.

Falando em redes sociais é bom sabermos, e já foi dito neste blog, que o mundo passa por um momento único na sua história. As revoluções contemporâneas não dependem mais de grandes líderes para comandá-las. Elas ocorrem nos bastidores e são orquestradas por grupos determinados, nascem de pequenos protestos, ganham as graças da mídia e se espalha através das redes sociais. O que se precisa entender, no entanto, é que, para que elas ocorram, uma mensagem, uma bandeira tem que ser criada. Assim, foi no Egito recentemente com a queda do regime de Mubarak; assim foi na Líbia com a queda de Kadafi. A mensagem se propalou como tempestade pelas redes sociais. Contudo, é necessário que compreendamos que lá existiam ditaduras longas e cruéis.

No Brasil existe ditadura? Não. O Brasil está passando por uma crise semelhante à que vários países da Europa estão passando, entre eles a Turquia? Claro que não. No Brasil a taxa de desemprego ultrapassa a casa dos dois dígitos? Não. O Brasil é chefiado por um governo cruel e déspota? Não. Bem, o governo que está aí foi eleito democraticamente e é isso que precisamos entender. Claro que podemos e devemos protestar contra a corrupção e reclamar com veemência contra o dinheiro público ser gasto em estádios de futebol, enquanto a educação e a saude precisam de socorro.

Ao que tudo indica, estão orquestrando protestos violentos contra o governo central do Brasil, ou seja, contra a Presidente Dilma. Brasília está sendo, neste instante, palco de violentos protestos. Não é uma boa coisa essa forma de protestar. Parece que tem gente se iludindo com o canto da sereia. Uma coisa é certa: quem está verdadeiramente por trás da organização desses protestos tem interesses políticos, é gente grande que vai mostrar a cara nas eleições do ano que vem.

Vamos protestar, sim, reivindicar direitos, sair às ruas e pedir o fim da corrupção na política. Mas, vamos entender que não vale a pena entrar no jogo de gente que luta pelo poder, simplesmente por que está nele infiltrado faz muito tempo.

A despeito ou não da legalidade e do direito de protestar numa democracia, seria interessante estudar as pessoas que verdadeiramente estão por trás desses movimentos espalhados pelas ruas das capitais brasileiras. Parece que há muito “oba, oba” em torno dos verdadeiros ideais de protestos. Tal como na era Collor, usam a juventude como arma.

Que se façam as mudanças necessárias para que o Brasil seja um país verdadeiramente sério e a população deve cobrar isso do governo de todas as formas. Mas, não é impedindo os gastos na renovação dos estádios, dos aeroportos, portos, estradas e serviços de telefonia, que é o que se está em jogo para os próximos anos com o advento das olimpíadas e copa do mundo, que se acabará com a corrupção. A corrupção é, também, nossa culpa, a partir do momento em que elegemos safados, desclassificados e bandidos para comporem o congresso nacional. O grande câncer do Brasil está verdadeiramente no Poder Legislativo. Quando tivermos consciência e dermos um “não” para deputados, senadores e vereadores desclassificados, o Brasil será um grande país.

Texto de autoria de Pedro Paulo de Oliveira

As fotos são de Nelson Antoine/Estadão Conteúdo/Nelson Antoine/Estadão Conteúdo

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