segunda-feira, 10 de junho de 2013

SOU BRASILEIRO – QUERO INDIGNAR-ME


Como eu já disse em outra publicação, não sou afeito a escrever textos jornalísticos na primeira pessoa. Contudo, neste instante, sou obrigado a redigir nesta forma pessoal. Sim, sou brasileiro e quero indignar-me. Estou cansado de assistir, ler e ouvir sobre as tragédias que assolam o meu país. Diariamente vejo que as pessoas de bem não são respeitadas. Quando digo as pessoas de bem, estou falando daqueles brasileiros e brasileiras, trabalhadores e trabalhadoras que saem das suas casas diariamente pela manhã para a labuta diária, seja em empregos, ou seja, em pequenos negócios.

Duas coisas me deixaram indignados hoje. Uma delas foi assistir pela televisão à cena de um assalto onde dois jovens entraram numa pizzaria e mataram covardemente o dono e o seu sobrinho para levar alguns míseros reais da féria do dia. O dono da pizzaria estava do outro lado do balcão, não mostrou resistência, entregou o dinheiro e, mesmo assim, foi alvejado. Seu sobrinho, que trabalhava com ele, vendo a cena covarde, tentou impedir o assassinato e foi, também, atingido por vários disparos. O dono do comércio morreu no local e o seu sobrinho ainda foi levado com vida para o hospital, aonde veio a falecer.

Outro fato me deixou também indignado e já foi motivo de protestos no Facebook. Uma criança recém-nascida com problemas cardíacos congênitos estava internada no Hospital Municipal e Andrelândia - MG, no sul de Minas - cidade pequena e carente de recursos -, aguardando vaga para ser internada no único centro de atendimento cardiológico infantil para esses casos no Estado de Minas Gerais. Esperou por vários dias até não suportar mais e morreu. Morreu por falta de atendimento e porque o estado não cumpriu com a sua obrigação de dar atendimento à saude e preservar a vida. Foi, também, um ato covarde do estado. Quando digo estado, estou falando do Brasil como um todo, onde se insere, inclusive, Minas Gerais. E não me venham dizer que foi Deus quem quis a morte dessa criança. Conversa fiada para amenizar a dor de uma mãe e de uma família enlutadas. É assim que o estado age, esquivando-se da sua obrigação de defender a vida e a dignidade humanas, direitos fundamentais inscritos na nossa Constituição Federal de 1988.

O mais cruel nesta conjuntura toda é que quando um cidadão comum deixa de cumprir seus deveres para com estado, em especial quanto ao pagamento de impostos, entre eles uma vida inteira de contribuição ao INSS, pagamentos de DEPVAT, SEGURO OBRIGÁTORIO, IMPOSTO DE RENDA, ICMS E OUTROS TANTOS, ele é processado e, mesmo se estiver impossibilitado de pagar por razões de saude, quebradeira e outras tantas dificuldades financeiras que chefes de famílias e pequenos empresários passam, continuará na ira da justiça e sendo perseguido pelos procuradores do estado como se fosse um criminoso, impedido de exercer muitas atividades. No entanto, quando o estado deixa de cumprir seus deveres mínimos, para o qual é pago com dinheiro dos contribuintes, e o cidadão lesado o processa, ele continua intocável, gigante, poderoso e o processo contra ele se arrastará por anos a fio nas raias da justiça sem uma solução. Na maioria das vezes, o cidadão morre sem ver um resultado a seu favor.

O cidadão comum, honesto e trabalhador, infeliz na sua labuta diária, com medo de ser morto por um desgraçado qualquer, na maioria das vezes não sabe nem a quem reclamar. Ele pode até ir ao Ministério Público abarrotado de processos ou procurar a assistência gratuita de um advogado pago “ironicamente pelo estado” e que, quase sempre, não se interessará pelo seu caso, dando prioridade para aqueles “clientes” que o pagarão honorários melhores. Então, nós cidadãos brasileiros, regidos pela constituição de 1988, tutelados pela lei (falando em lei, já repararam como temos medo da policia – militar ou civil – quando somos abordados?) permanecemos à margem de direitos universais que são os direitos à Liberdade (arrancada de nós pela insegurança), à saude (negado pela falta de atendimento nos hospitais) e à educação (escolas sem estruturas e professores despreparados). Eu poderia continuar falando de tantos outros direitos que alijaram de nós. Mas, se esses citados fossem respeitados, certamente abriria caminhos para todos os demais.

Sinto, inclusive, que a maioria das pessoas tem medo de se indignar, como se o estado fosse um padrasto ou uma madrasta cruel, impondo medo na população. O cidadão comum não tem que ter medo da polícia e o estado tem que obrigar os policiais a dar segurança para a população. Não existe humilhação e desgraça maior que chegar numa delegacia ou hospital e ser atendido como se fosse lixo, escória, resto. “Senta aí, espera e não reclama!” Esta frase não pode ser dita por um funcionário público em hipótese alguma para um cidadão de bem que procura atendimento para seus males, seus medos e carências.

Segundo alguns dicionários a “indignação é o sentimento de cólera ou de desprezo excitado por uma afronta, uma ação vergonhosa, uma injustiça frisante e é um direito dos cidadãos numa democracia”. Assim, por tudo que estamos vivendo, sinto-me afrontado pelo estado no momento em que ele deixa de cumprir suas obrigações para com a segurança e a saude dos cidadãos brasileiros, um homem é assassinado covardemente por falta de segurança e uma criança morre sem atendimento médico.

Texto de Autoria de Pedro paulo de Oliveira


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